
Por Pedro Pereira (Com arte de Daniel de Carli) / Da Agência de Notícias da UFSM
Abril e maio de 2024. Neste período, o Rio Grande do Sul entrou em colapso. Chuvas intensas atingiram 471 das 497 cidades gaúchas, aproximadamente 95% dos municípios, e deixaram mais de 600 mil pessoas fora de casa – os dados são da Defesa Civil do estado. A falta de uma preparação adequada do Poder Público para conter as enchentes ocasionou diversas consequências que perduram até os dias de hoje, um ano após a calamidade.
Na Região Central, mais especificamente no município de Silveira Martins, a coproprietária da loja Massas do Vale, Cleci Bianchi, ainda sente os impactos da catástrofe em seu negócio. “Eu perdi todo o estoque de massas. Eu perdi tudo. A gente tinha um gerador, que só conserva, não congela. Eu consegui [retomar], mas não muito, porque não tinha estrada nem ponte para as pessoas virem buscar [os produtos]. Até agora tá difícil. Muito difícil”, revelou.
Outra vítima naquela cidade foi Maria Fighera. Ela conta que no dia 30 de abril de 2024, em um momento de descanso logo após o almoço, sua família ouviu um barulho estranho e, ao olhar para o lado de fora, notou deslizamentos em um morro próximo à estrutura do seu empreendimento. Além dos presentes precisarem sair de casa, o maquinário utilizado foi levado com as enchentes e os animais, mortos.
Ela conta que, embora o prejuízo financeiro tenha sido grande, nenhuma vida humana foi perdida. “Ficamos mais de um mês sem poder sair de carro. Só pudemos sair depois que veio uma retroescavadeira que abriu a estrada, fazendo um desvio. Ficamos 15 dias sem luz, 20 dias sem internet. Ainda bem que tínhamos em casa um gerador, só faltava a gasolina”, relembrou. A única forma de saber sobre a situação dos vizinhos era pessoalmente.
Santa Maria está entre os municípios atingidos e, consequentemente, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que precisou lidar com o acontecido. O Campus Sede teve de ser evacuado e as atividades acadêmicas suspensas por 20 dias. Na sequência, foi revelado que o acervo do Departamento de Arquivo Geral da Universidade, que ficava localizado no subsolo da Reitoria, foi comprometido.
Também afetada por toda essa situação, a Instituição recorreu ao ensino, à pesquisa e à extensão, com projetos voltados à mitigação dos danos causados tanto na cidade quanto fora, colocando-se na linha de frente da rede de apoio ao Estado. Ações foram desenvolvidas em diferentes esferas para entender a complexidade da aflição que o Rio Grande do Sul viveu ao mesmo tempo em que as vítimas eram auxiliadas. Contudo, isso não basta: a UFSM segue trabalhando para evitar que esse pesadelo aconteça novamente em território gaúcho.
Universidade contribui para diminuir perdas no campo
Um exemplo de ação desenvolvida pela UFSM associada à catástrofe climática é o projeto de divulgação de boletins agrometeorológicos para profissionais envolvidos com o agronegócio em Cachoeira do Sul. A iniciativa, coordenado pela professora Zanandra Oliveira, foi criada em 2017 em uma parceria entre o curso de Engenharia Agrícola com o Grupo Metos, empresa que trabalha com o monitoramento climático.
A ideia é adquirir dados relativos aos horários, temperatura, umidade relativa, chuva e velocidade do vento em Cachoeira do Sul, em tempo real, para, dessa forma, gerar boletins informativos que ajudem os produtores a tomar as melhores decisões. As informações são disponibilizadas em uma página específica no site da UFSM todo início de mês com gráficos sobre o mês anterior, fazendo um comparativo. Como o trabalho começou há aproximadamente oito anos, ainda não é possível definir um padrão no município no que diz respeito ao clima.
“As informações meteorológicas são importantes para todas as áreas do conhecimento. A gente vai pensar nas engenharias, todo o planejamento de obras é muito importante. Para o curso de Engenharia Agrícola, a gente tem uma relação direta do clima com as atividades agropecuárias. Então, é fundamental. Seria impossível a gente realizar as atividades de ensino e de pesquisa sem ter acesso a essas informações. É o clima que explica a variabilidade da educação das culturas, o bem-estar dos animais de produção. É um instrumento fundamental e necessário para essa área do conhecimento”, destacou Zanandra.
No dia 3 de junho de 2024, as secretarias da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação e de Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul divulgaram um relatório acerca das perdas na produção rural causadas pelas chuvas. De acordo com o documento, elaborado com dados coletados entre 30 de abril e 24 de maio, mais de 206 mil propriedades foram afetadas por todo o Estado, prejudicando 48.674 produtores. Ao todo, 19.190 famílias tiveram perdas relacionadas às estruturas dos empreendimentos, como galpões, armazéns e estufas.
Em território cachoeirense, também surgiu, em 2020, durante a pandemia, o projeto PaComê, que consiste na promoção de teorias acerca da preparação de alimentos e o conhecimento por trás da prática. A ação tem uma parceria com a Escola Estadual Coronel Ciro Carvalho de Abreu desde 2024 e tem os jovens alunos como os responsáveis por “colocar a mão na massa”, em uma horta localizada na instituição. O objetivo é construir uma rede de entusiastas sobre a saúde alimentar, o plantio agroecológico e a culinária com produtos naturais.
A professora da UFSM, Mariana Coronas, coordenadora da iniciativa, explica os benefícios da autoprodução, levando em conta os problemas que a cidade teve durante a catástrofe climática do ano passado: “Cachoeira ficou por alguns dias desconectada. Fecharam vários acessos. A gente ficou alguns dias com os supermercados desabastecidos principalmente de produtos perecíveis. Os produtores locais, mesmo que tenham tido suas perdas, continuaram produzindo. Ter essa produção local, em casa, te dá uma certa autonomia para que, eventualmente, quando acontecerem esses eventos, ainda tenha essa fonte”.
O professor da escola cachoeirense, Volni Oestreich, destaca um dos cuidados que o grupo procura ter durante a atividade: “nós evitamos ao máximo o uso de qualquer produto químico. Então, aqui, o aluno planta, rega, colhe e entrega na cozinha da cantina. Ele mesmo acaba conseguindo participar de todo o processo do plantio e cuidado durante o crescimento. Todos esses produtos são utilizados na escola, consumidos pelos alunos e professores”.
Uma das responsáveis por atuar é Vanderleia dos Santos, estudante do curso de Engenharia Agrícola da UFSM em Cachoeira do Sul. Ela fez ensino médio na Ciro Carvalho e, através do PaComê, retornou para ajudar os atuais alunos. “Agora, com as mudanças climáticas, o fato de a gente ter essa segurança alimentar, de produzir alimentos, de ter contato com algo mais sustentável também, faz a diferença. É bem mais gratificante, saudável, e a gente consegue mostrar para eles na prática”, comentou. Ainda, na visão da acadêmica, os jovens já estão bem mais conscientes com as práticas da ação.
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