A cruz e a espada – por Luciano Ribas
Li em algum lugar que o simples é a síntese do complexo, uma “captura” dos elementos essenciais de uma estrutura mais elaborada, sendo capaz de preservar e revelar sem elementos “supérfluos” a força e os valores desta.
A simplicidade, vista assim, é uma qualidade que se diferencia muito da caricatura e do grotesco e “simplificar” equivale a evidenciar a riqueza simbólica de algo, sem empobrecê-la ao perder possíveis ornamentos. Para demonstrar isso, em palestras sobre “o poder da imagem” costumo fazer um pequeno exercício cujo objetivo é demonstrar que o simples e o complexo se misturam paradoxalmente, especialmente em símbolos e marcas fortes.
Inicio projetando uma linha horizontal, um simples risco que muito pouco nos diz; em seguida, troco a imagem e coloco outro traço, desta vez vertical, que até nos “fala” algo, mas não muito mais do que o primeiro. Porém, ao juntar os dois “riscos” numa mesma imagem, a cruz resultante transborda de significados, sobretudo religiosos e históricos. Movendo-os ou modificando suas dimensões, vou demonstrando como apenas dois traços cruzados podem resultar em combinações com significados muito diversos: a cruz latina, a cruz grega, a cruz de Santo André, a cruz de Tau, o suplício romano, a ressurreição, a morte, o socorro; com mais quatro pequenos traços, a suástica nazista ou a suástica oriental símbolo de boa sorte, o holocausto ou o misticismo. Assim (ao lado do coração, da estrela, do disco solar, da lua crescente, entre outros símbolos), percebe-se que a cruz possui uma força magnética que advém exatamente da sua capacidade em transformar, nos devidos contextos culturais, o complexo em rica simplicidade.
Símbolos, portanto, não são “meros” desenhos. Sob sua inspiração pessoas matam e morrem, condenam e salvam, promovem a barbárie ou a solidariedade e, na hipotética corda esticada sobre o abismo, tendem para o animal ou para o super-homem – e até fazem, às vezes, as duas coisas ao mesmo tempo. Dito de outra forma, decifrar o simples significa compreender o complexo ou, ao contrário, apenas abraçar a sua sedução e reproduzir ideias e comportamentos sem realmente entendê-los, sendo que ambas as atitudes podem ser “boas” ou “ruins” para a humanidade e para o indivíduo.
Simplificando, a cruz e a espada possuem a mesma forma básica e ambas podem significar o dano ou a salvação, a liberdade ou a opressão. Os objetivos de quem as empunha e o contexto histórico certamente podem revelar isso, cabendo aos seres dotados de polegar opositor tentar reconhecê-los. Indico como um bom exercício para quem desejar praticar esta “arte decifratória” avaliar o comportamento da mídia com relação ao presidente Lula e à governadora Yeda, bem como à ministra Dilma e ao governador Serra, procurando decifrar todas as complexidades de uma simples frase estampada na capa de um jornalão ou dita pelo âncora do telejornal. Nem sempre o santo (ou a santa) será aquele (ou aquela) que a imprensa tenta avidamente mostrar que faz o sinal da cruz todos os dias.
Pois é Luciano, a mídia (PIG) , servindo aos seus interesses, sempre tentou ditar os rumos da nação e muitas vezes conseguiu.
O suicídio de Getúlio, por consequência da ação do PIG daquela época, o golpe da ditadura, o escândalo Pro-consult nas eleições de 1982 no Rio, a manipulação do debate na eleição presidencial de 1989, são alguns pequenos exemplos.
Mudam os atores e a época, porém a linha de pensamento é a mesma. Empoderar-se com governos para servir aos interesses econômicos do capital e de grupos.
Todo dia assistimos uma blindagem na imagem tanto do Serra como na da Governadora Yeda, em rádios, blogs, tvs e jornais, para eles as benesses da mídia. E para o presidente Lula e seus seguidores exatamente o contrário, os rigores ferozes da mesma.
Hoje vemos muitos pseudo-escândalos que não passam de factóides com a vida curta, os mais recentes, como a CPI da Petrobras e as “verdades” de Lina Vieira.
Fiquem eles com a manipulação dos fatos e nós com a verdade sem maquiagens.
A democracia, juntamente com o cidadão, sempre foi o lado mais fraco desta corda, ou seja, quem perdeu.
Entretanto, o povo brasileiro não é mais o mesmo, evoluiu, não engole mais esses enlatados vencidos, pesquisa a informação, compara e pensa. Na minha avaliação, graças a internet.
Alea jacta est!
E que venha 2010.