Só o que falta saber é quem vai substituir Severino

Não há mais qualquer dúvida: Severino Cavalcanti, eleito com o voto (e a dedicação e a cabala de apoios) da oposição, especialmente do PSDB e do PFL, com a contribuição inestimável da esculhambação interna do PT (que teve dois candidatos), não será mais presidente da Câmara.

Ele, no avião que o traz de Nova Iorque, onde participou, minha nossa Senhora, da Assembléia Geral da ONU, talvez ainda imagine que seja possível, mas, ao pisar em solo brasileiro, rapidamente perceberá que sua situação é insustentável.

Tanto que os partidos estão pensando, mesmo, é em quem, de preferência acima de qualquer rivalidade, pode substituí-lo. Basta ler o que os sites nacionais estão noticiando para perceber esse estado de coisas. Escolhi aquele que, para mim, é o melhor de todos (e você, que me acompanha, já o conhece): www.noblat.com.br, de Ricardo Noblat. Leia, a seguir, o que esse conceituado, inclusive porque independente, jornalista escreveu logo após o meio-dia de hoje:

O que resta a Severino
O presidente do PT Tarso Genro telefonou esta manhã para o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman, e disse que o governo e seu partido desistiram de reinvindicar a vaga de Severino. Goldman respondeu que a oposição não descarta a hipótese de votar em um nome do PT – só depende de qual.
Menos mal que os dois lados comecem a se entender. O momento cobra dos partidos a maturidade que lhes faltou quando Severino acabou eleito. Na ocasião, o PT foi incapaz de superar suas divergências internas. A oposição preferiu eleger um cacareco pelo simples prazer de derrotar o governo.
Assisti de perto a vitória de Severino. Quando no primeiro turno, para surpresa geral, ele derrotou por poucos votos o candidato dissidente do PT Virgílio Guimarães (MG), primeiro os deputados do PFL e do PSDB ficaram confusos. Depois muitos deles ensaiaram o coro:
– Se Lula pode ser presidente da República por que Severino não pode ser presidente da Câmara?
Lula não é nenhum santo, como de resto o lamaçal do caixa 2 do PT e do mensalão se encarregou de provar. Mas Lula não é igual a Severino. Nem mesmo parecido. Salvo o prefeito José Serra, os demais caciques do PSDB deram ordens expressas para eleger Severino. E os do PFL, também.
O discurso de Severino antes do início da votação em segundo turno foi saudado com deboche, escárnio e falsos aplausos por boa parte da oposição – mas mesmo assim ele derrotou o candidato oficial do PT, Luiz Eduardo Greenhalgd (SP). Depois foi o espanto. E o que se viu até hoje.
A ficha ainda não caiu para Severino. Ele continua disposto a desembarcar neste fim de semana de volta de Nova Iorque armado até os dentes e pronto para alvejar seus desafetos. Procura-se uma voz sensata e próxima dele para aconselhá-lo a renunciar à presidência da Câmara o mais breve possível.
Essa voz – ou mais de uma – só pode ser encontrada dentro da família dele. Talvez ela seja a voz de Ana Cavalcanti, a filha, deputada estadual. Talvez seja a do filho José Maurício. Talvez a única voz que Severino se digne a escutar seja a de dona Amélia, a devotada mulher dele.
A essa altura, depois da confissão, ontem, do empresário Sebastião Augusto Buani, é impensável a cena que mostre Severino sentado na cadeira de presidente da Câmara a comandar uma sessão. Se ele teimar em fazer isso, será contestado na hora. E o plenário se esvaziará em seguida.
A renúncia de Severino ao cargo não o livrará de ser processado pelo Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar. Só lhe resta a renúncia ao mandato para escapar da cassação.