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Por que as feiras livres não acabam? – por Máucio

No sábado fui à feira livre da Avenida Rio Branco procurar muda de gerânio crioulo que tem numa banca onde sou freguês. Nas floriculturas só oferecem o híbrido que necessita de maiores cuidados. Claro, não vingando a gente tem que comprar novamente. Essa parece ser a lógica do negócio.

Como já haviam sido vendidos todos os pés nesse dia pensei em fazer as compras de frutas, verduras e legumes, mas não recordava o que estava em falta e fui em casa para fazer o levantamento. No meio do caminho pensei em alternativas, quem sabe eu deixo isso para a semana em algum supermercado?  

Chegando em casa vi que alguns gêneros precisavam ser repostos. A alface havia murchado, a rúcula estava no fim, as laranjas também. Acabei voltando à feira. Comprei brócolis, couve-flor, tomate, cebola e alho. Além da rúcula e das laranjas. Ah, ia esquecendo, peguei também dois pacotes de abóbora para fazer doce, já cortada em cubos, limpa e embalada. Saí com um fardo completo.

Compro quase tudo na mesma banca, a do Luiz. A maioria das coisas é ele mesmo quem produz, o fato fica evidente pela forma com que se refere aos hortifrutigranjeiros. Descreve os canteiros, fala com otimismo sobre a safra da alface crespa, mimosa, roxa e assim por diante. Perguntado, explica quando terá alho próprio para vender. Dá dicas de como preparar um prato de jiló, mas sempre deixando claro: só leve o que for precisar. Tem medo de parecer empurrando artigos.

Fiquei pensando: por que gosto de ir à feira? Poderia deixar para comprar em hora mais conveniente, numa passada. Ora, adquirir esses produtos em supermercado estabelece um ritual completamente diferente. Nessas lojas as mercadorias parecem que estão lá abandonadas. São tomates, alfaces e cebolas completamente anônimas, genéricas.

Na feira há a mediação humana do feirante. É possível perguntar:

− Essa mandioca abre?

− Abre! Pode levar que eu garanto.

Se não abrir, na semana seguinte a prosa continua.

O supermercado é seco, sem circunstância. Um não-lugar. A feira é, por sua vez, uma extensão da horta caseira. A horta do Luiz mora em nossa memória ancestral e a memória é umas de nossas estruturas básicas. Supermercado é a pura solidão do consumo.

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