ENTREVISTA. “A Ebserh não era uma boa solução para o Regional, como ainda não é”, afirma Cezar Schirmer
Por Maiquel Rosauro
O ex-prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB), completará no próximo sábado (2) um ano no cargo de secretário estadual de Segurança Pública. Neste período, a pasta realizou diversas ações para frear os índices de criminalidade e prepara-se para lançar um dos maiores concursos públicos da história do Rio Grande do Sul.
O site entrevistou Schirmer na manhã de sábado (26), durante a convecção municipal do PMDB, na Câmara de Vereadores. Além da segurança pública, o secretário também falou sobre o Hospital Regional, os planos para 2018 e o governo Jorge Pozzobom.
Schirmer, hoje, é considerado o mais influente secretário do governo Sartori. Amigo pessoal do governador, ele possui trânsito livre no Piratini e sua atuação não se restringe apenas à pasta de Segurança. Confira:
Site – Como o senhor analisa seu primeiro ano à frente da Secretaria de Segurança Pública?
Cezar Schirmer – Este foi um ano de muito trabalho, ações e mudanças. O resultado está começando a aparecer nos indicadores de criminalidade. O único crime que ainda não conseguimos reduzir no interior foi homicídios, índice que já conseguimos diminuir em Porto Alegre.
Site – O que dificulta a queda dos homicídios?
Schirmer – A causa é a guerra de facções do crime organizado e o tráfico drogas. A raiz da insegurança e dos homicídios está nestes dois pontos. A droga está tendo um crescimento de consumo exponencial. Se não tem consumo, não tem tráfico. 85% dos homicídios resultam da guerra do tráfico ou do consumidor, que na ânsia de conseguir dinheiro para consumir, assalta e acaba matando.
Site – Quais ações são realizadas para frear a criminalidade?
Schirmer – Chamamos 4,2 mil novos servidores para a secretaria. Trouxemos a Força Nacional, separamos a Brigada dos Bombeiros e realizamos a operação Pulso Firme, no qual mandamos para presídios federais 27 chefes do crime organizado.
Site – Como está a situação dos concursos para o setor?
Schirmer – Estamos preparando o maior concurso das últimas décadas, com 6.100 vagas para brigadianos, policiais civis e bombeiros. Também estão em andamento os concursos para a Susepe e IGP (Instituto Geral de Perícias), nos quais as provas já estão ocorrendo para, mais ou menos, 900 vagas.
Site – Quando deve ocorrer o concurso para a Brigada?
Schirmer – Estamos na fase de contratação da empresa. Esperamos, no mínimo, 50 mil inscritos. Nossa expectativa é de que seja o maior concurso já feito no Estado.
Site – O senhor tem novidades sobre as negociações para a abertura do Hospital Regional?
Schirmer – Há uma escassez de recursos do Estado e da União. Estamos trabalhando em alternativas. O Estado está sem dinheiro e ainda faltam investimentos no Regional. Há uma crise no país obviamente. O momento é de extrema dificuldade.
No momento, há uma negociação em andamento com um hospital
Site – Há expectativa de conseguir um gestor para o Regional?
Schirmer – No momento, há uma negociação em andamento com um hospital, cujo nome eu não quero que você divulgue. Eu participei de uma reunião e ficaram de dar uma resposta daqui a alguns dias. Ninguém está investindo e tentando arriscar. A União e o Estado atrasam repasses. Não é apenas um problema apenas deste hospital.
Site – No final do governo Tarso, estava certo que a Ebserh assumiria o Regional. Depois, tudo mudou. O senhor não acha que perdemos uma oportunidade?
Schirmer – Os hospitais universitários estão em crise. Está faltando dinheiro. Onde iriam cortar primeiro? Não seria no HUSM, mas no Hospital Regional, óbvio. A Ebserh não era uma boa solução para o Regional, como ainda não é. E eles nem querem. Foram lá oferecer e eles disseram que não queriam. E por quê? Porque não tem dinheiro. O dinheiro da Ebserh é o mesmo que vai para o SUS. A Ebserh vive do dinheiro federal, do orçamento da União. A raiz do problema do Regional é financeira. Esta, infelizmente, é a verdade.
Site – E se não der certo com o hospital que o Estado está negociando?
Schirmer – Estou trabalhando com o ministro Osmar Terra e com o secretário João Gabbardo para encontrar uma solução. Buscamos várias e, surpreendentemente, na hora H, dá um problema.
Site – Em 2018, o senhor pretende ser candidato nas eleições?
Schirmer – Não, eu não pretendo.
Site – Deixando a disputa, Santa Maria não estaria perdendo, no mínimo, um provável deputado estadual?
Schirmer – Já tivemos quatro deputados federais e quatro deputados estaduais. Santa Maria foi um grande centro político. Hoje, infelizmente… (pausa). E outra coisa, a população não concentra os votos aqui. Somando a região, são 300 mil votos e poderíamos ter quatro ou cinco deputados. A cidade não valoriza o que é seu, não prestigia. Mas não é um problema apenas de Santa Maria. A metade Sul do Estado deve ter, no máximo, uns oito deputados estaduais. Federais então, devem ser, no máximo, cinco.
“Não pense que corrupção é só lá em cima, é aqui também”
Site – Qual a falta que faz para a região ter poucos deputados?
Schirmer – Faz falta na hora de fazer uma estrada, um hospital e trazer o dinheiro de uma emenda parlamentar. Mas já dei a minha cota. A política hoje está muito ruim, está virada em dinheiro. A corrupção começa na campanha eleitoral, no financiamento da campanha. Candidato que não faz negócio tem muita dificuldade de se eleger. Não pense que corrupção é só lá em cima, é aqui também.
Site – Como o senhor avalia o governo Pozzobom?
Schirmer – Tenho acompanhado, mas não cabe a mim avaliar. Quem tem que avaliar é a população. Faço tudo que for possível para ajudar Santa Maria, é a minha cidade. Quando estive na Prefeitura, nunca fiz uma crítica ao meu antecessor. Embora pudesse, jamais critiquei o Valdeci. Política é o seguinte meu amigo: eleição, tudo bem, é disputa, mas depois tem que somar. Eu penso assim, não vou sair criticando. Eu deixe a Prefeitura em ordem, demos aumento aos funcionários, pagamos fornecedores em dia e não ficou nenhuma dívida.
Problema do Regional ser de natureza financeira, nenhuma novidade. Existiu uma tentativa de fazer prevalecer a seguinte idéia: “desde o início sabia-se que o hospital seria construído com dinheiro público logo deveria ser 100% SUS “. Mentira. Era para ser Rede Sarah, terceiro setor.
Quanto ao não prestigiar o que é seu, trata-se do velho bairrismo acéfalo que há tanto tempo assola a cidade. Colocam uns nós cegos de candidatos e acham que a população tem obrigação de mandar os nós cegos adiante porque “são daqui”. Não é dizer que a cidade não tenha gente qualificada, é dizer que os mais preparados não se interessam ou não têm ambição política.