A guerra de dados estatísticos em tempos de pandemia
Por NELSON GUILHERME MACHADO PINTO, DANIEL ARRUDA CORONEL, ANDRESSA PETRY MÜLLER e PATRICK ANDREI CARON GUERRA (*)
Os dados e as informações são a base de conhecimento e comunicação de uma sociedade, oportunizando a utilização das tecnologias da informação como um meio competente para divulgação e compartilhamento de dados estatísticos com alta precisão e confiabilidade. A origem dos órgãos estatísticos e de divulgação científica fica a cargo do governo, pois entende-se como uma das funções básicas de uma administração pública informar a sociedade, além de tomar medidas baseadas em informações confiáveis.
Em momentos como o atual, com as incertezas impostas pela COVID-19, dados e informações atualizados em tempo real e confiáveis servem para informar a população sobre o cenário e embasar decisões públicas de isolamento social e flexibilização de setores econômicos, por exemplo.
Nos últimos dias, observa-se um cenário um pouco conflituoso na questão da disponibilização dos dados em termos de Brasil e aceitação dessas informações no Rio Grande do Sul (RS).
Tratando-se da questão nacional, uma mudança na metodologia de divulgação dos dados e informações sobre mortos e número de casos pela pandemia gerou debate na última semana. A mudança gerou informações menos completas que o modelo anterior, além de provocar uma série de críticas por parte da sociedade. A partir disso, o embate entre imprensa e governo federal tomou novos rumos, a ponto de parte dos órgãos de imprensa criar um “consórcio” com a sua própria metodologia para divulgação de informações baseadas no que é coletado pelas Secretarias de Saúde de cada unidade federativa no país.
Ademais, a falta da divulgação das informações na sua totalidade fere um dos princípios balizares da gestão pública, que é a transparência, pois, no que tange à Lei de Acesso à Informação, em seu art. 3º, consta que deve ocorrer a divulgação de informações que sejam de interesse público, mesmo não havendo solicitação por elas (BRASIL, 2011). É dever do governo informar qualquer aspecto que leve em conta a preocupação de todos, principalmente quando se trata de uma doença que vem assolando o país e ceifando milhares de vidas.
Não existe uma explicação coerente que justifique o acontecimento dessa alteração na exposição de dados, já que não se trata de esclarecimentos de cunho sigiloso, o que justificaria a ausência de alguma informação. Todavia, é perceptível o quanto a falta de informação pode afetar negativamente o presente cenário, interferindo no planejamento econômico e social, o qual se faz necessário neste momento.
Além de não ter sido vista de forma positiva, por decisão judicial, a metodologia que trazia uma nova forma de apresentar os dados teve que ser revista, voltando à forma original como era divulgada. Neste contexto, fica a indagação: será que era necessário mudar a forma de divulgação dos dados de número de mortes e infectados pela doença, a qual já estava consolidada, durante o período em que não atingimos o auge da pandemia enquanto país?
Referente ao aspecto estadual, o governo do Estado do Rio Grande do Sul, utilizando três formas de agrupamento das regiões do Estado, ou seja, 30 regiões de saúde, 20 regiões COVID-19 e 7 macrorregiões, adotou um modelo de bandeiras nas cores amarela, laranja, vermelha e preta, que visam ditar as regras para a convivência social nas regiões do Estado (SEPLAG RS, 2020). Um modelo baseado em dados e informações científicas que segue os parâmetros de órgãos e instituições consolidadas, que está sendo abordado em outros países do mundo e que começou a ser adotado em outras unidades federativas do país.
Esse modelo, que tem nas bandeiras vermelha e preta as medidas de restrição mais rígidas nas atividades sociais e econômicas, encontrou um grande debate esta semana. Apesar de nenhuma região do Rio Grande do Sul ter classificação como bandeira preta, várias regiões tiveram a mudança de bandeira laranja para vermelha nesta semana, o que implica medidas como fechamento de estabelecimentos não essenciais e redução de capacidade de trabalhadores em outros setores.
Isso pode vir a afetar a economia dos municípios, mas visa, sobretudo, proteger as vidas que se encontram em risco devido à alta propagação e letalidade que esse vírus possui. É um aspecto complexo, pois fica a cargo dos gestores realizar escolhas que visem ao rigor nas ações despendidas, principalmente no ponto de vista econômico.
O grande dilema é que muitos prefeitos e associações não aceitaram essa classificação baseada em critérios claros e técnicos e passaram a questionar esse modelo apenas quando foram diretamente afetados. Dessa forma, o segundo e grande questionamento que fica é: será válido ir contra critérios técnicos que valorizam a vida quando há impactos sociais e econômicos diretos na minha realidade próxima?
Essas duas perguntas só podem ser respondidas, com acuidade, a longo prazo e se os dados e as informações confiáveis e científicas permitirem e/ou forem aceitos.
(*) Nelson Guilherme Machado Pinto é Professor Adjunto do Departamento de Administração da UFSM, Doutor em Administração pela UFSM. E-mail: [email protected]
Daniel Arruda Coronel é Professor Associado do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM, Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail: [email protected]
Andressa Petry Müller é Bolsista DTI3 FAPERGS vinculada a UFSM, bacharel em Administração pela UFSM/PM, mestranda em Administração Pública na UFSM. E-mail: [email protected]
Patrick Andrei Caron Guerra é Bolsista DTI3 FAPERGS, bacharel em Sistemas de Informação pela UFSM/FW, pós-graduando em Business Intelligence, Big Data e Analytics – Ciência de Dados na UNOPAR. E-mail: [email protected]
O problema é o “delay”(atraso) das medidas a serem tomadas ou seja, os dados de aumento de infectados(e mortos também) após um afrouxamento do isolamento aparecem duas ou três semanas depois. Aí, caso sejam tomadas medidas mais restritivas(e nem sempre são tomadas) o “estrago” já está feito. Por isso a cautela é sempre a melhor atitude. O empresariado tupiniquim tem que entender que um isolamento mais eficaz salva vidas e também proporciona uma retomada da Economia mais consistente e em horizonte mais curto. Não podemos ser imediatistas. Caso não tenhamos essa cautela tanto o cidadão como os produtos brasileiros(atenção empresários!) sofrerão barreiras sanitárias no exterior.
Quatro acadêmicos para escrever um texto que diz absolutamente nada. Nenhuma informação nova, nenhum novo ‘insight’. É a critica ao governo federal de praxe e um monte de obviedades.
Por isto que em muitas IFES alguns departamentos podem ser fechados sem prejuízo nenhum ao futuro nacional. Economiza-se dinheiro para aplicar onde a academia realmente funciona.