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COLUNA. José Mauro Batista, a vacina ‘anticovid’ a caminho e, outra vez, o negacionismo do Presidente

Mesmo diante de dezenas de milhares de mortos pela Covid, Presidente da República persiste na posição negacionista (fotos Reprodução)

A Revolta da Vacina e os rastejantes de hoje

Por JOSÉ MAURO BATISTA (*)

Já escrevi sobre esse tema neste espaço e volto a ele devido à repercussão do assunto esta semana a partir de uma declaração do presidente Jair Bolsonaro de que “ninguém pode obrigar ninguém a tomar a vacina”, posição reforçada pela Secretaria de Comunicação do governo. Desde o início da pandemia Bolsonaro vem minimizando as consequências do novo coronavírus e se colocando contra o que diz a maioria dos pesquisadores, médicos e outros especialistas (pessoas com formação acadêmica e credenciais reconhecidas para tratar de coisas de sua área de conhecimento).

Não vejo a ciência como uma “entidade divina”, acima do bem e do mal, mas reconheço que ela emprega métodos rigorosos que buscam explicações para aquilo que não conhecemos. Não necessariamente o conhecimento científico é utilizado para o bem da humanidade – basta lembrarmos as experiências nazistas e a construção de armas nucleares, sobretudo na Guerra Fria travada entre EUA e URSS.

Mas em se tratando de Covid-19 não há porque duvidar que milhares de pesquisadores, em todo o mundo, estejam mobilizados para decifrar enigmas do vírus e da doença por ele causada e, a partir daí, fabricar medicamentos e vacinas. Há, seguramente, interesses financeiros de grandes laboratórios, mas há, também, uma demanda de toda a humanidade.

A Covid-19 causou estragos estrondosos nas economias e no cotidiano das pessoas, está tirando milhares de vidas e matando empresas e empregos. Por isso, não há argumentos plausíveis para duvidar das intenções de se conseguir uma vacina eficaz, apesar das dúvidas, corretíssimas aliás, em relação à rapidez com que a Rússia anunciou o seu imunizante.

Soluções mágicas x ciência

Dito isso, voltemos à fala do presidente. Em se tratando de Covid, que é o nosso tema aqui, há uma grande aposta na vacinação como método mais eficaz de se evitar a doença e suas consequências nefastas. E ele, ao invés de incentivar a população, cede ao negacionismo porque parte de sua base eleitoral acredita em soluções mágicas e relega soluções científicas. Assim foi o tempo todo, até agora, em relação à pandemia (menosprezo ao vírus, rejeição à máscara, combate ao isolamento e ao distanciamento social e receita de medicamentos de eficácia não comprovada). E as fake news reforçam esse posicionamento.

Ao declarar que ninguém pode ser obrigado a se vacinar, Bolsonaro contradiz uma própria lei proposta e sancionada por ele (lei nº 13.979, de fevereiro deste ano). Essa lei assegura que, em função da atual pandemia, as autoridades podem obrigar a população a se vacinar. É evidente que pessoas alérgicas à vacina ou que tenham outras contraindicações devem ser excluídas.

Exigência internacional

A questão da obrigatoriedade remonta ao episódio do início do século passado, conhecido como a Revolta da Vacina, quando a população do Rio de Janeiro se insurgiu contra a vacinação para combater a varíola. Só que não estamos no início do século passado, quando havia insegurança e pouca informação. E há outra situação: a vacinação é exigida para crianças no Brasil e em outros países. Uma amiga que mora nos Estados Unidos me contou que a escola onde seu filho adolescente estuda exige até vacina contra o HPV.

Embora a única vacina exigida em escala mundial nos tempos atuais seja a da febre amarela, há países que exigem ou ao menos recomendam uma ou outra vacina. E mesmo que a Europa seja a mais tolerante em relação à obrigatoriedade de certificado de vacinação, ao que parece, a vacina contra a Covid-19, caso saia do papel, poderá passar a ser exigida em grande escala, pelo menos por algum tempo. Isso significará que para viajar para o Exterior – seja para negócios, estudo ou turismo – os brasileiros poderão ter que comprovar que foram vacinados.

Refém de seres rastejantes

Ademais, o Brasil vai gastar R$ 1,8 bilhão para ter direito a uma vacina, o que não justifica que a população seja desestimulada a se vacinar. Como militar, o presidente obviamente deve ter noção do que é ou não perigoso. Como chefe da Nação, ele não pode agir como aquele jovem cadete sobe o qual pairaram suspeitas de atentados a bombas em quartéis. No mínimo, na questão da vacina, até pelas cifras de dinheiro público envolvidas, ele deveria estimular que todos que possam tomem a vacina. Sem a necessidade de obrigar ninguém, já que ele tem poder de convencimento sobre seu eleitorado antivacina.

Bolsonaro não pode ceder à base mais radical do seu leque de apoio (uma minoria dos seus eleitores, que nem deve existir em Santa Maria). Assim como existe a extrema esquerda quadrúpede que vê o mundo como se estivesse no século retrasado, existe a extrema direita rastejante, que busca a hegemonia do governo. E o presidente da República não pode ficar refém dessa parcela que vive nos pântanos e ter recaídas que o levam de volta a um passado que ele já deveria ter apagado de sua trajetória.

(*) José Mauro Batista é jornalista. Até recentemente, editor de Região do Diário de Santa Maria. Antes foi repórter e editor do jornal A Razão. Escreve no site semanalmente, aos domingos.

 

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