Um projeto democrático de Brasil e o silêncio da mídia
Por PAULO PIMENTA (*)
O lançamento do “Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil” apresentado ao país pelo Partido dos Trabalhadores no 21 de setembro foi recebido pela mídia corporativa com um fragoroso silêncio.
A estratégia de blindagem do pensamento único neoliberal segue olímpica navegando no pântano que ela própria cavou. Não se comove mesmo diante da sucessão de catástrofes que desatou desde o golpe de 2016 e mergulhou o país na calamidade em que hoje se encontra.
O Brasil da “Ponte para o futuro”, prometido pelos neoliberais se converteu em pasto da pilhagem internacional, se encontra à mercê do atropelo do Estado Democrático de Direito, do desemprego de 14 milhões de pessoas, da incompetência e do autoritarismo dos militares que ocupam indevidamente altos postos na administração civil, e segue colhido pela conjugação das crises econômica, social, ambiental e cultural, agora agravadas pela crise sanitária.
Para os oligopólios midiáticos, sempre atados ao sonho das elites empenhadas em construir uma democracia sem povo… é necessário manter a interdição das esquerdas. Nessa batalha de valores travada dentro da moldura da “guerra cultural” decretada pela extrema-direita é necessário reduzi-las ao silêncio, à invisibilidade. Ainda que para isso se converta em norma a aberração da campanha presidencial de 2018, em que o judiciário encarcerou o líder nas pesquisas e quando vimos ser escolhido Presidente da República um candidato sem programa, que usou toda a sorte de subterfúgios para não participar de debates com seus adversários sobre o que propunha para o país.
Para onde nos leva o índex dos meios de comunicação corporativos, ao adotarem a censura ideológica como método de combate contra qualquer projeto que não se enquadre no receituário neoliberal? As opções não são muitas. A mais provável é a que testemunhamos nesse momento: para atar o país à camisa de força do neoliberalismo, os oligopólios de comunicação dão força ao governo neofascista de Bolsonaro, instrumento encontrado pela plutocracia para impor essa agenda criminosa. Terão que assumir diante da história a responsabilidade pela escolha.
Recupere um lapso breve de tempo. Depois do golpe de estado de 2016 algum partido – à esquerda ou à direita no espectro político brasileiro – ofereceu ao debate um projeto para o Brasil com começo, meio e fim?
“(…) O PT propõe um novo modelo de desenvolvimento, uma nova forma de gerir a economia, o Estado e a Sociedade fundamentada na valorização da vida e na solidariedade. Esse projeto vai avançar assentado nos mesmos objetivos básicos e nos mesmos valores que orientaram os governos petistas: distribuição da renda e da riqueza, redução das desigualdades e eliminação de suas causas estruturais, superação da pobreza e da fome, ampliação das oportunidades educacionais e do direito ao trabalho, expansão e melhoria da qualidade dos serviços públicos gratuitos e do Estado de Bem-Estar, afirmação da soberania, conservação ambiental e desenvolvimento sustentável, ampliação dos espaços democráticos e da participação popular, promoção de ações efetivas em prol da ampliação de direitos”.
O Partido dos Trabalhadores não formula essas propostas abstratamente para abri-las ao debate com as forças democráticas do país, os partidos, os movimentos sociais e culturais da sociedade civil. Elas estão ancoradas na sólida experiência dos governos democráticos e populares, reconduzida em quatro eleições sucessivas e interrompida pelo golpe de estado de 2016.
“Tais governos conseguiram combinar, de forma inédita no Brasil, crescimento sustentado com distribuição significativa de renda, redução da desiguald ade, diminuição substancial da pobreza, eliminação da pobreza extrema, superação da fome, redução da mortalidade infantil e desnutrição, combate ao racismo e à violência contra as mulheres, ampliação extraordinária da inclusão escolar e das oportunidades educacionais, expansão e melhoria da qualidade do sistema de saúde pública, do Sistema Único de Assistência Social e do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, enorme crescimento do atendimento às necessidades habitacionais da população de baixa renda, criação de programas voltados à diversidade e cidadania cultural, afirmação da soberania, ampliação do protagonismo internacional do país, redução substancial do desmatamento, principalmente na Amazônia, ampliação dos espaços democráticos de participação popular.”
A iniciativa da Fundação Perseu Abramo e do Partido dos Trabalhadores, somados a outras forças do campo das esquerdas, ao lançar o Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil, preencheu um vazio no debate sobre os rumos do país. Deu o passo necessário, para além da denúncia do governo criminoso de Jair Bolsonaro que associa na sua perspectiva e no seu desempenho essa dupla calamidade: o neoliberalismo como meta e o neofascismo como instrumento operacional.
O Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil afirma o potencial das forças comprometidas com a democracia para oferecer um caminho capaz de reconduzir o Estado Brasileiro ao encontro do seu próprio povo. Não se pode ignorá-lo. A proposta despertará o debate ainda que não seja o desejo dos proprietários dos oligopólios ou dos seus editores, porque tem densidade social, representa aspirações de milhões de brasileiros e brasileiras organizados em espaços legítimos de ação política.
Por último, mas não menos importante, que espécie de democracia é essa que insiste em manter na clandestinidade as ideias de um Plano de Reconstrução e Transformação do país sistematizadas e propostas para debate pelo Partido que elegeu a maior bancada de deputados no Parlamento?
(*) Paulo Pimenta é Jornalista e Deputado Federal, presidente estadual do PT/RS e escreve no site às quartas-feiras.
Observação do editor: a foto (de Ricardo Stuckert/Divulgação) que ilustra este artigo mostra o ex-presidente Lula, no ato de lançamento, dia 21 passado, em São Paulo, do “Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil”.
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