Por ANDRIELE HOFFMANN DA CRUZ (com fotos de Reprodução e Arquivo Pessoal), Especial para o Site (*)(**)
A tradicional sala da casa em tempos de pandemia também é sala de aula. Desde março, com o fechamento das escolas – medida de contenção ao covid-19 -, professores e alunos têm levado diariamente o ambiente escolar para dentro de suas casas. É de lá que os educadores operam a difícil missão de promover o ensino remoto de qualidade, bem como contornar os seus diferentes graus de dificuldade: acesso à internet, manuseio de ferramentas tecnológicas, adaptação à nova rotina, trabalho extra, planejamento, execução de atividades pedagógicas e comunicação com os alunos.
Giane Lara, professora de Educação Física no Instituto de Educação Olavo Bilac de Santa Maria relata que a sobrecarga de trabalho nos últimos meses é causada principalmente pelas exigências burocráticas que demandam horas extras de preenchimento de planilhas e tabelas, além de todo o trabalho pedagógico – planejamento de aulas, elaboração, envio e correção de atividades – realizado para centenas de estudantes, muitas vezes sem condições de acesso a internet e as tecnologias adequadas.
“Estamos com uma sobrecarga de trabalho burocrático que prejudica também o tempo dedicado ao planejamento das atividades e aulas online, visto que cada professor tem muitas turmas e uma demanda enorme de trabalho” explica Giane. A professora Cláudia Maria Fantti Fagundes, que ministra aulas de português e literatura para as turmas de ensino médio e EJA também no Olavo Bilac em Santa Maria, precisou reorganizar sua rotina de trabalho – que antes eram aulas presenciais de manhã e noite -, inserindo também o turno da tarde para atender todas as demandas de trabalho. Trata-se de muitas horas extras que não somam ao salário. “Nós estamos trabalhando o triplo e sem receber”, desabafa a professora.
Exaustão e sobrecarga de trabalho têm provocado malefícios para a saúde mental de profissionais da educação. “Temos muitos colegas se exonerando, em laudo por questões de saúde e afastados por doenças ocasionadas por este regime de trabalho”, relata Giane.
As professoras, para não adoecerem mentalmente pelo excesso de trabalho, precisaram fazer um planejamento para atender às demandas da escola no horário previsto e não deixar de lado seus lares, sua família, afazeres domésticos e lazer . “Tento fazer tudo no meu tempo. Se minha aula é de manhã, é de manhã que eu vou atender. Às vezes era uma hora da manhã e os alunos estavam querendo tirar dúvidas’’, explica Cláudia. “Precisei adaptar meus horários para conseguir manter uma rotina minimamente saudável e conseguir conciliar o trabalho com outras tarefas, prática de exercícios físicos e atividades de lazer”, finaliza Giane.
Os desafios estão dos dois lados da tela. Assim como professores precisam assumir exaustivas jornadas de trabalho, pais e alunos também enfrentam desafios diários para acompanhar as aulas remotas e realizar as atividades propostas pelos professores. Cristiane Jardim Fernandes, mãe de duas crianças, dona de casa e arquiteta em tempo integral, sente dificuldade em auxiliar seus filhos nas atividades escolares, bem como inserir esse momento de estudos em sua rotina já sobrecarregada de compromissos.
“Às vezes as tarefas acumulam, não dou conta”, confessa Cristiane. Até mesmo os jovens já acostumados com as ferramentas tecnológicas estão sentindo dificuldade em manter o foco com o ensino remoto. “É difícil se concentrar sozinho em casa e manter o foco para aprender e acompanhar a matéria”, relata Camille Almança, estudante do CTISM – Colégio Técnico Industrial em Santa Maria.
O site entrou em contato com mais de 30 professores e diretores de escolas em Santa Maria e região na busca por opiniões sobre um possível retorno das aulas na pandemia a ser decretado pelo governo estadual e, 95% dos profissionais responderam que não concordam e defendem o encerramento do ano letivo de forma remota e retorno apenas em 2021. As justificativas se concentram principalmente nas poucas condições financeiras das instituições em garantir a segurança sanitária necessária para a volta às aulas e a insegurança com relação a pandemia.
(*) Andriele Hoffmann da Cruz é acadêmica de Jornalismo da Universidade Franciscana e faz seu “estágio supervisionado” no site
(**) Nota do Editor: a reportagem de Andriele foi produzida antes do anúncio, pelo Governo do Estado, do retorno às aulas presenciais, em 20 de outubro. Pelo caráter não datado do material, o site decidiu manter a publicação.
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