Happy Birthday, Mr Dylan! – por Leonardo da Rocha Botega
O articulista e os 80 anos de um gênio. E não apenas da música, por certo!
“Quantas estradas um homem precisará andar até que possam chamá-lo de homem? Sim, e quantos mares uma pomba branca precisará sobrevoar até que ela possa dormir na areia? Sim, e quantas vezes as balas de canhão precisarão voar até serem banidas para sempre?”. Seja pelas ondas do rádio ou nas vitrolas, tais perguntas ecoaram, literalmente, como sopros ao vento em uma geração que ousava romper as suas amarras.
O ano era 1963, o terceiro de uma década que abalaria profundamente as estruturas de um mundo que parecia congelado. Em março daquele ano, a gravadora Parlophone apresentaria ao mundo “Please, Please Me”, álbum de estreia da banda The Beatles. Os quatro garotos de Liverpool colocariam milhares de jovens para rebolar ao som de “I Saw Her Standing There”, “Please Please Me”, “Love Me Do” e, principalmente, “Twist and Shout”.
Ao longo dos próximos meses, Cassius Clay, futuro Muhammad Ali, derrotaria Doug Jones e Henry Cooper e se credenciaria como principal oponente de Sonny Liston, então campeão mundial de boxe na categoria peso pesado. Muhammad Ali e os Beatles elevariam o rock e o boxe a condição de grandes espetáculos de massa.
Ainda naquele ano, em abril, o movimento pelos direitos civis, sobretudo, a luta pelos direitos dos afro-americanos, ganharia um novo impulso com a Campanha de Birminghan, um conjunto de protestos não violentos liderados por Martin Luther King Jr. O pastor batista e ativista seria preso pela décima terceira vez, mas aquelas ações, assim como as ocorridas em Albany dois anos antes e a Marcha de Selma um ano depois, colocariam definitivamente o fim da segregação racial na ordem do dia da sociedade estadunidense, assustando ainda mais os racistas da Ku Kux Klan.
Em 22 de novembro, o presidente John F. Kennedy seria assassinado, alvejado por tiros enquanto desfilava em carro aberto na cidade de Dallas. Em paralelo a tais eventos, autores como Allen Ginsberg, Jack Kerouac e William Burroughs, os chamados escritores da Geração Beat, influenciavam novos comportamentos em relação a uma sociedade de consumo vendida por décadas como um American Way of Life que a cada dia se demonstrava voltado apenas para alguns.
Foi em meio a luta dos negros, dos pacifistas, do emergir das mulheres que lutavam por sua independência e da contracultura, que “Blowin’ in the Wind” foi lançada como música de abertura de “The Freewheelin’ Bob Dylan”, segundo álbum de Bob Dylan. Anunciando que as respostas para as perguntas acima expostas estariam soprando ao vento, o cantor nascido Robert Allen Zimmerman (que anos antes, influenciado pela poesia de Dylan Thomas, adotou um novo nome) despejava todo uma rebeldia contra os “mestres da guerra”, aqueles que colocavam armas nas mãos das pessoas, enquanto se escondiam atrás das mesas para ganhar dinheiro. “Master of war” seria mais um hino daquela geração que alguns anos depois seria jogada nas selvas vietnamitas em mais uma guerra de muitos jovens mortos e poucos velhos ricos.
Bob Dylan completou 80 anos no último dia 24 de maio. Deste o (para muitos, distante) ano de 1963 muitas coisas se transformaram. O movimento contra a segregação racial deixou raízes no Black Lives Matter. O contraditório John F. Kennedy até hoje é uma referência no uso político do passado feito pelo Partido Democrata.
Até mesmo o racismo da Ku Kux Klan é revivido (nos Estados Unidos e mundo afora) por classes médias arrogantes de países decadentes (sugados por parasitas que riem e buscam se fortalecer a partir de performances fascistas e fascistizantes).
Por sua vez, nenhum outro grupo chegou perto do que foram The Beatles. Muitos até se proclamaram maiores, mas não passavam de simulacros. Poucos foram os atletas que chegaram ao nível, sobretudo, ético-político de Muhammad Ali. Já Bob Dylan! Bem! Dylan segue sendo um gênio! Um gênio capaz de descortinar um profundo romantismo uma década depois de “Blowin’ in the Wind”.
Um gênio que, segundo a Academia Sueca, criou “novos modos de expressão poética no quadro da tradição da música americana” e que por isso foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura em 2016. Um gênio que oito décadas após o 24 de maio de 1941 (ano em que os Estados Unidos ingressaram na Segunda Grande Guerra) merece ser saudado com um sonoro: Happy Birthday, Mr Dylan!
(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve no site às quintas-feiras, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).
Observação do Editor: a foto de Bob Dylan, que ilustra este artigo, é uma reprodução obtida na internet.
Dylan fazia boas letras. Gente mais competente fez covers melhores das suas musicas.
Prêmios já perderam muito do significado para o grande público, para uns nunca fizeram diferença. Nobel de Literatura foi cancelado em 2018 por conta de uma série de escândalos na Academia Sueca. Como outros prêmios não foge de controvérsias, gente achando que uns mereciam e não ganharam e outros não mereciam e acabaram ganhando. Tudo muito subjetivo.
Dylan tem musicas boas onde a voz anasalada funciona. Beatles também nunca foram unanimidade, Rolling Stones faziam outro som e eram mais engajados. Vide criticas a Jovem Guarda. Vide a Marcha contra a Guitarra Elétrica (ou Passeata da MPB) liderada por Elis Regina, a humilde, secundada por Gilberto Gil. Lema era ‘Defender o que é nosso’ (de quem mesmo?). Sucesso na ocasião? Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.
Qual outros campos, faltou uma palavra.
Martin Luther King Jr. Jacqueline Kennedy dizia que ‘Não consigo ver uma foto de MLK sem pensar como ele é horrível’. Lindon Johnson o chamava de hipócrita. O pastor não tinha peias para ‘pular a cerca’ segundo dizem. Na Marcha para Washington tentou organizar uma ‘festinha grupal’. Como se sabe disto? FBI tinha ele ‘grampeado’ até os sapatos. Edgar Hoover, o que gostava de vestidos, mostrou as fitas para meio mundo. Jackie O. escutou MLK falar mal do marido após a morte do mesmo. E chamar o cardeal que fez a elegia de bêbado, estaria alcoolizado na ocasião.
Engraçado como a ‘história’ canoniza certos personagens. FDR não seria quem foi sem Teddy antes dele. Morto este último aconteceu uma cizânia nos ramos da família. Eleanor Roosevelt fez campanha contra Teddy Jr. implicando-o num escândalo de corrupção sabendo que era inocente. FDR antes da pólio transformou a secretaria de Eleanor em amante. Mais tarde arrumou um ‘guarda costa’ para ela. Tudo longe do conhecimento publico, afinal havia uma ‘grande causa’ e eleições para vencer. Não admira Bill Clinton e Hillary, um presidente com grandes apetites e muito pouco autocontrole. Kennedy não era fraco tampouco, passava o rodo. Lyndon Johnson era famigerado por estar conversando com alguém nos jardins da Casa Branca, tirar a ferramenta para fora e urinar. Logo em seguida perguntava ‘já viu um deste tamanho?’.
Chavão nesta hora é alegar ‘moralismo’. Ao que se responde com outra pergunta: se estas pessoas concediam a si próprias este tipo de ‘licença’ em qual outros faziam o mesmo?