Eu garatujo, tu gatafunhas, ele rabisca… – por Marcelo Arigony
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-Pai, o que é garatujar? Perguntou minha filha ao ler um texto que eu há pouco tinha escrito.
-Garatujar, é gatafunhar, respondi.
-Tu tá de sacanagem comigo, disse ela num sorriso gostoso.
-Tu tá brincadeira comigo e com todos que vão ler esse negócio aí.
Pior que não: garatujar é gatafunhar sim, significa rascunhar, rabiscar.
Lembro com nostalgia de quando cursava o primeiro semestre de Direito na UFSM e o professor, do alto de sua sapiência, falou em hermenêutica; falou no hermeneuta. Meu Deus! Essas palavras soavam importantes, imponentes e bonitas. Mas eu não tinha a menor ideia do que se tratava. Não sabia se era de comer ou de beber; não sabia se era gente ou bicho, enfim, não sabia de que planeta vinha o tal hermenêutico.
-Professor, o que é hermenêutica? Perguntou um colega mais saliente e expondo-se ao risco certo de bullying, na época chamado chacota, zombaria ou algo assim.
-Hermenêutica é exegese, respondeu o professor. Hermenêutica é o exercício da ciência interpretativa, reforçou o mestre.
Ah… sim, claro, exegese! Como podíamos não saber. Hermenêutica é exegese. Haha!
Pois é, na sequência vieram tantas outras palavras na época imponentes, bonitas e desafiadoras. Eu lembro de perscrutar, perquirir, querelante (esta eu achava que era comida pra pinto). Também tinha querelado, achádego e tanta coisa nova, que só a leitura especializada deu a conhecer.
E chegamos ao ponto. Só se pode saber o que é garatujar e gatafunhar, quando nos pomos a chafurdar, mergulhar para valer nos livros. Obviamente o termo chafurdar foi utilizado aqui no conotativo, mas serve, por emblemático, a ilustrar a questão.
A leitura nos amplia o horizonte e nos torna pessoas melhores, com maior capacidade de raciocínio, com mais possibilidade de enfrentar todas as desventuras da vida. Nos proporciona a melhor interpretação, a visualização do mundo que nos cerca. A leitura é o que nos faz crescer, nos põe pra frente, sempre.
Mais do que isso, ler nos torna interessantes como pessoas, como colegas, como pais, como cidadãos. A leitura nos traz conhecimento, e conhecimento é poder.
Quem lê bastante, nem precisa saber regras de português. A leitura vai fazendo assimilar o vernáculo, de modo a acender um automático sinal de alerta sempre que escrevemos ou lemos algo errado. Ler é que nos possibilita saber o que é garatujar e tantas outras palavras esquisitas, estranhas ou bonitas, que a complexa língua portuguesa nos traz.
É por aí. Ler é tudo de bom. Leia o jornal, leia a revista, leia livros, leia pela internet, mas leia muito.
Em tempo: quem me conhece sabe que gosto do “em tempo”.
Desta feita vou render uma merecida homenagem. A primeira vez que ouvi a palavra perscrutar, foi da boca da hoje promotora de Justiça Waleska Flores Agostini, nos idos de 1990, em uma aula de Seminário de Direito Penal, com o saudoso professor Luis Felipe Lenz. Na época fiquei admirado com o vocabulário erudito da jovem colega, que já despontava entre o grupo de alunos. Não à toa foi sempre a primeira da turma. Com certeza lia muito.
*Marcelo Mendes Arigony é titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.
Carlos Maximiliano Pereira dos Santos morou por aqui. Lenio Strepe e sua turma colocaram muita filosofia na coisa toda, criaram um grau de complexidade desnecessário e o que dai saiu é o que se tem hoje. Valer o que está escrito só na loteria zoologica.