Artigos

Os privilégios que (quase) ninguém vê – por Giuseppe Riesgo

É preciso que “a moralidade no setor público seja regra e não exceção”

Quando Margaret Thatcher, em memorável discurso, afirmava que “o Estado não tem outra fonte de recursos, além do dinheiro que as pessoas ganham por si próprias”, pois, “não existe essa coisa de dinheiro público, mas apenas o dinheiro do pagador de impostos”, alertava para algo fundamental: os gastos públicos têm limite, e este é dado pela capacidade dos indivíduos de bancarem o Estado e suas despesas.

O alerta serve, até hoje, como uma bússola. Como um norte para que não esqueçamos das limitações do governo em gastar e tributar. No entanto, o aviso de Thatcher também serve à responsabilidade. Auxilia para uma maior diligência com o dinheiro dos impostos pagos por todos nós e aplicados pelos gestores para os mais diversos fins das despesas públicas.

Só que por aqui, infelizmente, essa não tem sido a regra. Além de um Estado perdulário, temos fracassado na escolha das prioridades e, consequentemente, na eficiência de aplicação dos gastos públicos. Em outras palavras, temos inchado as despesas públicas e distribuído esses recursos apenas para a manutenção da máquina pública e dos seus privilégios. Assim, temos um estado endividado, ineficiente e voltado para si mesmo. Com tais incentivos, não é de se surpreender que pululem corporações se apropriando, sorrateiramente, de fatias cada vez mais generosas do orçamento público estadual.

Um bom exemplo deriva da série de privilégios e combates que travamos nessa atual legislatura para defender o dinheiro do pagador de impostos. A lista é longa: começa pelo (imoral) auxílio-mudança para deputados estaduais, passa pelos (ilegais) honorários de sucumbência dos Procuradores do Estado, chega até os (autoconcedidos) auxílios-saúde para o Judiciário, a Defensoria e o Ministério Público e culmina nas indenizações (também autoconcedidas) de licenças-prêmio acumuladas por conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, num cálculo bastante criativo e, novamente, ilegal.

Ainda seria possível citar as indenizações milionárias (e já prescritas) por diferenças no cálculo das URVs pleiteadas por servidores do TCE e da Assembleia Legislativa, além de indenizações pelo implemento do sistema de subsídios na magistratura gaúcha e da implementação (mais uma vez autoconcedida) de gratificação por “acúmulo de trabalho” do nosso Tribunal de Justiça do RS.

Isso tudo foi pleiteado em apenas três anos e meio de legislatura. Demandas geralmente autoconcedidas e, por vezes, ilegais (além de imorais). Recursos recolhidos pelo cidadão gaúcho em cada guia de ICMS paga, em cada boleto de IPVA gerado, em cada valor de ITCMD cobrado. Dinheiro oriundo do trabalho alheio e, geralmente, surrupiado sem consulta ao Parlamento e, consequentemente, à sociedade gaúcha.

A grande verdade é que o Estado do Rio Grande do Sul virou um grande umbigo que só enxerga a si mesmo. Por isso, a minha atuação junto à Bancada do Partido NOVO tem sido veemente contra o corporativismo de uma elite que insiste em tomar o orçamento para si em detrimento dos interesses legítimos do nosso povo.

Nessa semana, tivemos uma importante vitória nesse sentido. A recepção da nossa denúncia sobre o pagamento ilegal de licenças-prêmio não gozadas devido a um “erro de cálculo” no cômputo do tempo de serviço de alguns conselheiros do TCE, escancarou o achincalhe com as instituições e os diplomas legais que disciplinam a Corte de Contas. O Judiciário acolheu e os valores recebidos terão que ser devolvidos.

Mas até quando suportaremos? Se, geralmente, temos a percepção que os maiores privilégios derivam da má atuação da classe política, por vezes, esquecemos que boa parte dos predadores do orçamento público se refestelam, silenciosamente, no âmbito das diversas instituições e órgãos de estado. E o fazem por não se submeter ao escrutínio público das urnas. Por estarem protegidos em um emaranhado legal que, além de confuso, lhes é mais conveniente do que ao povo –, a quem, afinal, deveriam servir.

Por isso, a atuação do NOVO tem sido decisiva na defesa do pagador de impostos. Se a política e o Estado resolveram servir a si próprios, nós também resolvemos nos insurgir. Decidimos tirar o véu desses privilégios e desnudar a face daqueles que por anos chafurdaram suas mãos no orçamento público e o tomaram da nossa gente. Nós chegamos e não iremos parar até que a moralidade no setor público seja a regra e não a exceção.  

(*) Giuseppe Riesgo é deputado estadual e cumpre seu primeiro mandato pelo partido Novo. Ele escreve no Site todas as quintas-feiras.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

2 Comentários

  1. Novo é uma incognita. Defende um liberalismo que distoa completamente do zeitgeist. Marketing é mais tradicional que caixa de Maizena. Discurso idem. Alás, papo de ‘moralidade’ com vantagens apoiadas legalmente ou judicialmente levam a discussão para o parlamento e judiciario, ou seja, ‘venha nos o Vosso Reino’ e ‘farinha pouca meu pirão primeiro’. Palpite é que não veremos o final desta novela.

  2. Tudo o que Thatcher disse foi numa determinada epoca e num determinado contexto. Hoje, obserando a situação, talvez dissesse outra coisa. Ou o mesmo, não há como saber. E bom lembrar que ficou 14 anos no poder, era filha de donos de mercearia. Caiu justamente por querer aumentar tributos que inclusive atingiriam o pessoal de onde veio. Ou seja, falar até papagaio fala, é necessario prestar atenção no que os politios fazem. Problema do serviço publico é mais complexo. Antes da CF88 não eram postos de trabalho particularmente procurados (dai as vantagens), depois a coisa mudou de figura. Transformou-se numa casta (ao menos nas ‘elites’) que defende muito bem os proprios interesses, não muito diferente da casta politica (estamentos?). De qualquer maneira alterar o panorama necessitaria de uma reforma administrativa (debatida e séria, algo utopico) no ambito federal, algo que não está no horizonte e, se estivesse, o lobby dos servidores, que é muito forte, ‘daria um jeito’. Mais ou menos como a regulamentação dos aplicativos na aldeia, lobby dos taxistas não quer e até uma parte dos motoristas ‘clandestinos’. Governo, qualquer um, geralmente foge da briga, algo compreensivel porque é necessario escolher as batalhas. Ruim para todos no entanto.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo