DestaqueEstado

ESTADO. Rombo superior a R$ 8 bi em 2023, por ICMS menor, preocupa os candidatos ao Palácio Piratini

As consequências por conta do “milagre” da redução do preço do combustível

“Milagre” da redução de preços do combustível vai impactar diretamente a arrecadação dos estados (Foto de Luiza Castro/Sul21)

Reproduzido do jornal eletrônico SUL21 / Reportagem assinada por Flávio Ilha

Gasolina a menos de R$ 5 nos principais postos do Estado, a 30 dias da eleição, soa como música a quem precisa abastecer o carro ou a moto para trabalhar – casos cada vez mais comuns no Brasil dos aplicativos. Mas o milagre da redução do preço, garantido por uma canetada do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, com aval do Congresso, guarda uma perversidade: os cofres estaduais, já sem gordura devido à queda no desempenho econômico pela pandemia de covid-19, vão ficar ainda mais magros em 2023. No Rio Grande do Sul, a perda estimada é de R$ 5,7 bilhões.

Somado à perda do segundo semestre deste ano, calculada em R$ 2,8 bilhões, o prejuízo do Estado sobe a mais de R$ 8 bilhões – dinheiro que financia basicamente as ações municipais em saúde e educação. A previsão preocupa os principais candidatos ao governo gaúcho, que classificam a medida como “insuportável” para a gestão pública. “Não há saída a não ser a União compensar essas perdas. Ninguém contesta os efeitos benéficos da medida, mas quem vai pagar essa conta é a população pobre que precisa dos serviços públicos”, disparou o candidato do PDT ao Piratini, Vieira da Cunha.

Com a canetada de Bolsonaro, aplicada no final de junho, o preço médio do litro da gasolina comum apresentou uma redução de 10,93% no fechamento de agosto, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Em julho já havia caído mais de 6%. O valor médio do combustível fechou o mês em R$ 5,66 devido à redução do ICMS e do PIS/Cofins pelos estados e à queda do valor do combustível para as refinarias pela Petrobras.

A redução das alíquotas do ICMS sobre combustíveis, energia elétrica e comunicações – com teto de 18% – foi aprovada pelo Congresso por meio da Lei Complementar 194, que entrou em vigor no dia 23 de junho. A medida é uma das bandeiras da campanha de reeleição de Bolsonaro e levou a uma queda imediata e abrupta nos preços dos combustíveis e nas contas de luz, levando à deflação registrada em julho e esperada também para agosto.

De acordo com cálculos divulgados pelo Comitê Nacional de Secretários de Fazenda dos Estados e do Distrito Federal (Comsefaz), a redução das alíquotas de ICMS incidentes sobre energia elétrica, combustíveis e telecomunicações provocará uma redução de 13% em média na receita de ICMS dos estados. Essa perda, estimada em R$ 85 bilhões anuais, seria permanente.

Pela lei, o governo federal é obrigado a compensar os Estados quando a perda de receita com o tributo ultrapassar 5% na comparação com a receita registrada em 2021. A equipe econômica argumenta, no entanto, que a compensação deve ser feita apenas em 2023, com base nas receitas de todo o ano. Por liminar do STF, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Acre, São Paulo, Maranhão, Piauí e Alagoas já conseguiram direito ao gatilho ainda este ano.

O governo gaúcho, entretanto, não pode acionar a União na Justiça porque aderiu ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), que renegociou a dívida do estado com o governo federal. O governador Ranolfo Viera Júnior (PSDB) informou que haverá cortes de gastos para compensar as perdas em áreas que ainda estão sendo estudadas. “Trata-se de uma concessão em ano eleitoral. É muito perigoso em relação à responsabilidade fiscal a aprovação de um benefício dessa natureza”, disse o governador.

O RRF resultará em uma “anualidade” paga à União, a título de ressarcimento de uma dívida estimada em R$ 75 bilhões, de R$ 1,85 bilhão em 2023. No ano seguinte, a despesa pula para R$ 2,63 bilhões. Em todo o mandato do próximo governador (2023 a 2026), estima-se que só o pagamento da dívida com a União acarretará gastos de R$ 12 bilhões.

O pagamento da dívida com a União estava suspenso desde 2017 em razão de uma liminar do STF, da qual o governo abriu mão oficialmente em maio para viabilizar a adesão ao regime de recuperação. Nesse período, acumulou nova dívida de R$ 14,2 bilhões a título de juros pelo valor em atraso. Pelo acordo do RRF, esses R$ 14,2 bilhões poderão ser refinanciados ao longo de 30 anos.

“É mais uma conta que os governos Bolsonaro e Leite deixam para o Rio Grande do Sul. O estado corre o risco de perder mais essa receita [de ICMS], que o STF já indica que deve ser compensada. O RRF, que foi apresentado como uma solução para as finanças do estado, nos faz abrir mão de mais R$ 8 bilhões. Esses recursos são fundamentais para a saúde e para a educação”, criticou o candidato do PT, Edegar Pretto.

Assim como Vieira da Cunha, que garantiu, se eleito, revogar imediatamente o RRF, Pretto também disse que “não cruzará os braços”. O candidato prometeu sair do regime de recuperação, “mesmo que seja necessário entrar na Justiça”, e assegurou que, numa eventual gestão do PT, não haverá aumento nas alíquotas de ICMS.

A assessoria do candidato do PL ao governo, Onyx Lorenzoni, evitou criticar a medida eleitoreira de Bolsonaro – de quem é o principal aliado no Rio Grande do Sul. Ex-ministro chefe da Casa Civil e também da Integração, que negociava diretamente com o Congresso, Lorenzoni apenas garantiu que num eventual governo do PL não haverá aumento de impostos. “Em hipótese alguma”, reforçou.

O candidato do Progressistas, senador Luis Carlos Heinze – também aliado de Bolsonaro -, é mais incisivo e diz que irá rever o acordo do RRF no estado. “Não se trata de calote. Simplesmente não vamos ter caixa para pagar”, afirmou. Ele disse que irá à Justiça se for preciso para negociar um desconto com o governo federal nos montantes perdidos com ICMS e RRF. “O [ex-governador] Sartori pagou em torno de R$ 5 bilhões e parou. Mesmo assim, não conseguiu honrar a folha do funcionalismo. O [ex-governador] Leite recebeu o governo com a mesma liminar e pagou zero da dívida com a União. Deixar para o próximo governo uma conta de R$ 13 bilhões é insustentável”, disse.

Mesmo assim, Heinze defendeu o teto para o ICMS. “Entendo que o presidente Bolsonaro está fazendo sua parte para reduzir o preço dos combustíveis. Os estados também têm que fazer. Sei que vamos perder arrecadação. Agora, tem que fazer processo de compensação, pois educação, saúde e outros setores vão perder investimentos. Já houve troca de ministro, de presidente da Petrobras, e não resolveu o assunto. Agora melhorou bastante”, disse.

A equipe do ex-governador Eduardo Leite (PSDB), que voltou a ser candidato ao governo do estado, recebeu a mesma questão que os outros quatro postulantes mais bem colocados na última pesquisa do Ipec para as eleições majoritárias no Rio Grande do Sul. O candidato tucano, porém, não se manifestou sobre as perdas de arrecadação e nem sobre o RRF até o fechamento desta edição.

PARA LER NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo