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O Natal de 2022 é um recomeço -por Valdeci Oliveira

“Não há mais espaço para o confronto, para a vingança, para a exclusão...”

A cada ano, nesta época que precede o natal, aproveitando a tradição, faço cá com meus botões uma série de pedidos. A maior parte deles não trata de coisas materiais. Diria até sua totalidade. Como incorrigível que sou em pensar as coisas positivamente – mesmo tendo noção e conhecimento de que muitas delas fogem da nossa governabilidade -, independentemente do momento costumo desejar ser agraciado com generosas doses de paz, saúde, harmonia na vida, amor, tolerância, acalento.

A diferença para o Natal que se avizinha é que, diferentemente dos últimos quatro, sei que meus desejos têm agora muito mais chances de se concretizar. Desde o final de 2018, diante de um cenário pouco promissor para que tais quesitos se espalhassem como a água da chuva sobre a terra, as coisas foram, de forma paulatina e crescente, ficando mais difíceis, sufocantes até, para aqueles e aquelas que, como eu, imaginam e buscam a criação de uma sociedade mais justa, inclusiva, tolerante e com lugar para quem nela desejar viver.

Conforme o ano vinha findando, preparava meu espírito para não esmorecer diante de horizontes tão sombrios, sem vida ou esperança, pois sabia que tais desejos eram e são como a utopia: a buscamos sempre, mesmo ela se afastando de nós cada vez que parece estar perto. Esta é a forma encontrada por ela para que não deixemos de persegui-la.

Mas ao mesmo tempo, nos momentos mais tensos, como forma de manter a chama dos bons desejos acesa, buscava pensar que tais provações se tratavam de um ciclo, de um processo de aprendizado que talvez a sociedade brasileira precisasse passar para ver que coisas tão óbvias e simples fazem toda a diferença quando delas ficamos carentes. E que quanto menos tivéssemos, mais valor a elas daríamos no futuro.

E no fim das contas, pelos caminhos mais tortuosos, pelos dias e noites que pareciam durar uma eternidade, tamanho era o caos que vinha sendo erguido a nossa frente dia após dia, foi isso o que aconteceu. Vimos que, no lugar do ódio, é o amor que precisa se fazer onipresente, que ao invés de armas precisamos de livros, que no lugar da força bruta e irracional precisamos é do abraço terno e verdadeiro.

Nesses últimos quatro anos, a realidade, dura e inclemente, forjada a partir de uma receita insana e inescrupulosa, ironicamente escancarou que a democracia, mesmo com tantas imperfeições, é a única que pode nos garantir justiça, assegurar que nossa voz venha a ser ouvida e que a participação na construção de nossos destinos é mais do que mera teoria.

Nesse último período, vimos que a fome é fruto de escolhas políticas e que o alimento – ou a falta dele -, a depender de quem governa, vira moeda de troca, se transforma em barganha onde quem mais tem domina o mais fraco.

Mas, felizmente, os deuses da democracia olharam para nós e viram que o estrago já era grande o suficiente, pesado demais para cobrar por qualquer pecado que tenhamos cometido consciente ou inconscientemente, que era hora de parar com essa espécie de castigo, de pegadinha de mal gosto, de piada sem graça.

As novas possibilidades de vida e de relações interpessoais e profissionais que nos esperam a uma distância curta de dias, que comparo a respirar um ar limpo e fresco, fazem com que o Natal de 2022 reacenda, pelo menos em boa parte da população, o que estava adormecido em algum lugar dos nossos corações, reaviva aqueles que estavam convencidos de que não mais valia a pena sonhar, que não mais queriam olhar para frente e andar de cabeça erguida. 

O Natal de 2022 é tão simbólico e desejável que se faz necessário, como forma de agradecimento, estendermos a mão até mesmo a quem nos desejou o mal, nos perseguiu, nos viu como algo a ser extirpado do convívio social. Depois de quatro anos de destruição das empatias, não há mais espaço para o confronto, para a vingança, para a exclusão de quem quer que seja. O Natal de 2022 é uma espécie de recomeço e cujo tempo não pode ser desperdiçado pelo desprezo.

Neste 2022 o nascimento de Cristo, tenho certeza, fará jus a um dos seus mais belos mandamentos: amai-vos uns aos outros como eu vos amei.

Um Feliz Natal a todos e todas que têm fome de vida, sede de esperança e desejo de um mundo melhor, onde a injustiça seja apenas – e não mais do que isso – um termo descrito no dicionário da nossa língua pátria.

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria. É também o atual presidente da Assembleia Legislativa gaúcha.

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