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Eles não esvaziaram as lixeiras – por Valdeci Oliveira

Silvinei preso: "Justiça se faz com democracia. E democracia se faz com justiça"

A cada dia que passa e conforme evoluem diversas investigações em andamento fica mais claro, com alguns detalhes até chocantes pela artimanha empregada, que um segmento político-social se utilizou dos mais sórdidos métodos para vencer o último processo eleitoral brasileiro. Não que no Brasil as eleições, em todos os níveis, fossem, desde a redemocratização, um parquinho de diversões ou um convento. Mas até mesmo numa disputa figadal por votos, em que as “caneladas” entre adversários costumam acontecer, o que temos visto, ao descortinarmos o nosso passado mais recente, é um cenário ignóbil do ponto de vista democrático.

A prisão do ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, para ficar no caso mais recente, foi motivada pelas ações que se diziam fiscalizatórias, mas que, na verdade, compuseram uma das várias faces que trabalharam pelo cerceamento ao direito mais básico numa democracia, que é o direito ao voto, à escolha dos brasileiros e brasileiras.

Utilizar a estrutura estatal para atrapalhar ao máximo o ir e vir da população no dia do segundo turno foi uma espécie de cereja de um bolo que vinha sendo servido já fazia algum tempo, onde trabalhadores e trabalhadoras eram ameaçados de demissão (ou futuro desligamento) e comunidades, com a perda de investimentos privados caso um dos candidatos vencesse o pleito. E curiosa e coincidentemente se tratava do mesmo nome rejeitado pelos patrões e empresas.

Como na engenharia reversa, que resumidamente falando consiste, entre outros exemplos, em entender o funcionamento de um equipamento mecânico desmontando-o e vendo como ele funciona, no caso do 8 de janeiro, a engenharia reversa pode ser utilizada para retroceder no tempo, mês a mês e analisar os atos, falas, posturas e até mesmo decretos governamentais para entender, e conhecer, os desejos – alguns explicitamente postos em minutas  redigidas por quem entende do que está falando – daqueles que contribuíram, de alguma forma e em diferentes tempos, na tentativa de captura do estado brasileiro.

O fato concreto é que os mesmos que apontavam o dedo acusatório para o nosso sistema eleitoral – apesar deles próprios se elegeram há décadas pelo processo – arquitetaram um gigante ataque aos Poderes da República e – felizmente para a democracia e para fins de justiça e reparação – deixaram um rastro, não apenas de destruição e violência, mas composto por indícios, depoimentos, planilhas, mensagens em grupos de conversa e trocas de e-mails. Isso tudo, junto a quebras de sigilos bancários e telefônicos, está a nos mostrar, quase que diuturnamente, o modus operandi, as digitais e o DNA de quem aviltou o estado democrático de direito para atender a objetivos puramente eleitorais.

Para a nossa sorte, as instituições agiram e se comportaram à altura do problema, e os extremistas tupiniquins, que espalharam e continuam a difundir fake news a granel, foram incompetentes na empreitada: entre outras trapalhadas, antes de irem embora, limparam suas caixas de e-mails mas não esvaziaram as respectivas lixeiras. Com isso, mais de 17 mil mensagens estão sendo analisadas.

As CPIs que estão em curso vêm mostrando que, de fato, e sem sombra de dúvida buscaram corroer a democracia por dentro, dela participando, aparelhando e dispondo de poderosas estruturas de poder. Chamado de ‘herói do povo brasileiro’ por um parlamentar cujo exercício legislativo e profissão de fé estão calcados no clientelismo, no falso moralismo e no fundamentalismo religioso, o ex-diretor da PRF utilizou a máquina pública para interferir no destino de milhões de homens e mulheres.

E se estes têm alguma inveja do ‘herói” esta certamente reside no fato dele ter tido o privilégio, inalcançável à imensa maioria dos mortais brasileiros, de ter se aposentado aos 47 anos e depois de 27 anos de contribuição, com salário integral. O resto é digno de vergonha.

E de tão sérias e graves que foram suas ações (que, reafirmo, devem ser repelidas à altura), volto ao adjetivo que escrevi no final do primeiro parágrafo deste texto. Um ato ignóbil ou uma pessoa ignóbil, conforme estudamos no colégio, é o que não é nobre, que inspira horror do ponto de vista moral, de caráter vil, baixo, que causa repugnância e ofende o sentido estético; hediondo. E é disso que se trata: as aberrações a que fomos vítimas enquanto sociedade antes, durante e depois do último processo eleitoral, onde buscaram, mesmo que forma velada e hipócrita, capturar o Estado brasileiro, precisam de ser constantemente lembradas, repudiadas, combatidas e penalizadas para que não se repitam e para que não alterem, logo ali adiante – como costumeiramente o fazem -, sua narrativa histórica.

Justiça se faz com democracia. E democracia se faz com justiça.

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.

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3 Comentários

  1. Sem dúvida nenhuma, foi um plano arquitetado a muito tempo, e como tal, previa várias alternativas : 1) A tentativa de desconstituir o processo eleitoral;
    2) A tentava de interferir no resultado da eleição, com ações como as coordenadas pelo ex diretor Mauro Cid;
    3) Por fim , se nenhuma desse certo, a tentativa de golpe em 8 de Janeiro.
    Ao fim e ao cabo a máscara vai caindo e o plano vai sendo desvendado , pouco a pouco. Espero que a justiça seja feita e que, todos aqueles e aquelas que planejaram e executaram tais ações, sejam punidos com os rigores da lei.

  2. O que traz outros assuntos. Noutro dia, noutro municipio, tive que pegar estrada de chão. Estava muito melhor do que certas ruas centrais da urb. Indigesto andou asfaltando ruas terciarias com pouco movimento para angariar popularidade e votos. Conde de POA está um desasgre. Acesso a rodoviária para quem vai pela Duque está com cenário lunar.

  3. Como o caso Mariele. Não tem outra coisa vai isto mesmo. Cortina de fumaça. Enquanto isto a inflação veio um pouco mais alto do que o esperado. Controle do preço do diesel é maior do que o da gasolina. Já há noticias de dificuldade de abastecimento (como prognosticado) no RS e em MG. Daqui a pouco começa a influir no sistema logistico, ou seja, mais inflação. Para quem não entendeu o tempo atual, podem falar o que quiser. Só não podem obrigar a achar ‘mais importante’ o que falam.

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