Perguntas mal explicadas pela imprensa sobre o “apagão” de Biden no debate com Trump – por Carlos Wagner
“Se Biden tem problemas de saúde mental, quem está presidindo os EUA?”
Há um punhado de perguntas que foram mal explicadas pela imprensa em relação ao desempenho do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, 81 anos (democrata), no debate com o ex-presidente Donald Trump, 78 anos (republicano), nos estúdios da CNN, em Atlanta, na noite de quinta-feira (27/6).
Durante uma boa parte dos 90 minutos do debate Biden demonstrou ter problemas de raciocínio e de memória. Em consequência disso, foi massacrado por Trump, que falou mentiras na maior parte do tempo, deixando, no jargão futebolístico, bolas picando na área que, em situação normal, Biden chutaria e faria o gol.
Nos dias seguintes houve uma chuva de pedidos para que Biden desistisse da candidatura à reeleição. Entre os pedidos merece destaque o amigo do presidente, o colunista do The New York Times Thomas Friedman, que escreveu uma coluna onde diz: “Joe Biden é um bom homem e um bom presidente”. Conclui dizendo que Biden não tem condições de concorrer contra Trump, “um homem malicioso e um presidente mesquinho, que não aprendeu nada e não esqueceu nada. Ele é o mesmo lança-chamas de mentiras”.
Todos os grandes jornais estão pedindo para que o presidente desista das eleições. Uma pesquisa de opinião publicada no domingo (30) aponta que 62% dos americanos gostariam que o presidente americano desistisse da candidatura.
Eu acompanhei o debate e as repercussões nos dias seguintes nos Estados Unidos e no Brasil. Realmente, o comportamento de Biden foi estranho. Digo isso com base no fato de que tenho acompanhado a carreira do presidente americano, por entender que a imprensa o trata com preconceito devido à idade.
Lembro que durante a campanha eleitoral de 2020, quando Trump concorria à reeleição, fiz o post O dia em que Biden foi rei da Espanha. E Trump foi Hugo Chávez. O atual presidente mandou Trump calar a boca durante aquele debate. Recentemente, em março deste ano, publiquei o post Presidente Biden pendurou no pescoço de Trump as imagens da invasão ao Capitólio. Falava sobre o discurso do presidente no Congresso americano, quando lembrou que foi Trump quem incentivou a invasão do Capitólio (Congresso) em 6 de janeiro de 2021 tentando reverter o resultado das eleições – há matérias na internet.
Aqui vou citar uma pergunta que considerei não ter sido respondida a respeito do desempenho de Biden no recente debate com Trump. Todos consideram que Biden está com problemas de coordenação mental e não tem condições de enfrentar Trump. A pergunta é: se Biden tem problemas de saúde mental, quem está presidindo os Estados Unidos?
A imprensa precisa explicar se os problemas apresentados pelo presidente americano aconteceram por questão de estresse, cansaço ou são permanentes. Uma pessoa de 81 anos pode ter o seu dia de cão, né? Mais uma pergunta que se faz necessária. Desde a conclusão do debate, Biden tem frequentado as manchetes dos jornais ao redor do mundo. Claro, a maioria tratando-o como um “velho teimoso que insiste em concorrer sem condições mentais”.
Mais importante: estão falando sobre Biden, um homem velho que luta para provar que pode continuar exercendo o seu cargo. Uma luta muito semelhante a que muitos velhos ao redor do mundo vivem diariamente, tentando segurar os seus empregos. Portanto, é uma causa simpática a muita gente.
Há mais uma pergunta que a imprensa precisa esclarecer. Temos noticiado que uma eventual vitória de Trump, que nos dias atuais é considerada como provável, e o bom desempenho no primeiro turno das eleições para o Parlamento da França da extrema direita liderada por Marine Le Pen, que fez 34% dos votos, vão beneficiar os projetos políticos da extrema direita do Brasil, comandada pelo ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL).
Na teoria, isso pode acontecer. Mas, na prática, como isso vai acontecer, tendo em vista que uma das principais bandeiras políticas de Trump e de Le Pen é o ódio aos imigrantes? Sendo o Brasil um grande fornecedor de imigrantes para aqueles países, a maioria ilegal. Duvido que a extrema direita brasileira seja chamada por Trump e Le Pen para tirarem fotos juntos.
O fato é que os bolsonaristas já estão vendendo para o seu público a ideia de que a eleição de Trump e de Le Pen vão ajudar a pressionar o Judiciário brasileiro, em especial o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a revogar a inelegibilidade de oito anos de Bolsonaro e anistiar as mais de 1,2 mil pessoas que se envolveram na tentativa de golpe de estado em 8 de janeiro de 2023, quando invadiram e quebraram tudo que encontraram pela frente no Congresso, no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal Federal.
Conversei com fontes que tenho entre os chamados bolsonaristas raiz no interior do Rio Grande do Sul. Um deles explicou que a desastrada participação de Biden no debate e os resultados da eleição em primeiro turno na França “deixaram a militância faceira”. A palavra faceira no interior gaúcho é usada no sentido de alegre.
A política americana tem lá os seus mistérios. Mas é uma das mais antigas e sólidas do mundo. E vários setores, tanto entre democratas quanto entre os próprios republicanos, têm apontado o dedo em direção a Trump dizendo que ele é um perigo para a democracia do país.
Seja lá qual for o destino da candidatura à reeleição de Biden, a imprensa precisa esclarecer as dezenas de perguntas que estão sem resposta após o debate. É necessário tal esclarecimento para saber se nesse episódio houve alguma sacanagem. Tem muita coisa em jogo nessa história.
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(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.
SOBRE O AUTOR: Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 73 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.
Resumo da opera. Os ianques estão f*#i#os.
‘É necessário tal esclarecimento para saber se nesse episódio houve alguma sacanagem.’ Sim, da imprensa que é totalmente parcial.
‘[…] têm apontado o dedo em direção a Trump dizendo que ele é um perigo para a democracia do país.’ Narrativa e tatica do medo.
‘Mas é uma das mais antigas e sólidas do mundo.’ Era mais solida. Antiga? Pais não tem 250 anos. Tem restaurante na França em funcionamento desde 1345.
‘Sendo o Brasil um grande fornecedor de imigrantes para aqueles países,[…]’. Afirmação sem base nenhuma. Alas, não há noticia sobre isto. Maioria na França sai da Africa. Nos EUA origem é America Central e até Asia.
‘[…] principais bandeiras políticas de Trump e de Le Pen é o ódio aos imigrantes? ‘ Numero de imigrantes ilegais nos EUA (oficial não quer dizer que seja o verdadeiro) é algo como 11 milhões. Em maio foram 117 mil e junho 84 mil. Vermelhos gosta de dizer que é ‘odio’. Solução é bem simples, tanto nos EUA quanto na França, é só reeleger a esquerda e ver no que dá.
‘[…] se envolveram na tentativa de golpe de estado […]’. Com a tentativa de golpe (ou autogolpe) na Bolivia qualquer idiota pode discernir uma coisa da outra. Foi baderna.
‘[…] revogar a inelegibilidade de oito anos de Bolsonaro […]’. Ha uma campanha para que aconteça. Nas condições atuais não esta no horizonte.
Jornalistas insistem no ‘extrema direita’. Sem problema, muda nada. ‘[…] o bom desempenho no primeiro turno das eleições para o Parlamento da França da […] direita liderada por Marine Le Pen […]’. Guerra na Ucrania e imigração desenfreada deu resultados. França esta quebrada, divida é 98% do PIB. O Estado de Bem Estar Social não se sustenta. Habitos estão mudando por conta disto e isto as pessoas não toleram.
‘[…] tratando-o como um “velho teimoso […]’. Pleonasmo.
‘ Uma pessoa de 81 anos pode ter o seu dia de cão, né?’ Narrativa do Obama. Se o jornalista de Watergate falou com assessores proximos e a coisa piorou de um ano e meio para cá, não foi um ‘dia ruim’ e o debate não foi o unico episodio. Obvio. Politicos na Europa já estavam preocupados. Num encontro recente ele saiu do grupo e foi para um canto e precisou de ‘resgate’.
‘ A pergunta é: se Biden tem problemas de saúde mental, quem está presidindo os Estados Unidos?’. A mulher, o filho e Obama. E o que dizem as mas linguas. Problema não é este, a pergunta é ‘quem controla o arsenal atomico? quem controla os codigos e o botão de disparo?’.
‘[…] uando lembrou que foi Trump quem incentivou a invasão do Capitólio […]’. Discurso foi ambiguo. Não desincentivou. Narrativa da midia.
‘Ele é o mesmo lança-chamas de mentiras”. A midia acoberta Biden. Focam no Trump. Separar mentira do declinio mental não é facil tampouco. Falou que reduziu a insulina para 15 dolares por mes (valor real é 35, corrigiu depois). Mentiu que nenhum militar americano tinha sido morto durante seu mandato (vide fiasco na saída do Afeganistao por exemplo), afirmou que os bilionarios só pagam 8% de impostos federais (o valor real é proximo a 23%), afirmou que Trump iria eliminar a previdencia social (totalmente sem base), disse que a taxa de desemprego era 15% quando tomou posse (era pouco menos que 4), afirmou que o sindicato dos policiais de fronteira apoiava a legislação que ele aprovou (mentira) e disse que Trump defendeu o tratamento da Covid com injeção de desinfetante.
Carl Bernstein, o do Watergate, declarou que Biden está em declinio mental acentuado há um ano e meio. Ha quem diga que ele ‘funciona’ bem das dez da manha até as duas ou quatro da tarde. Alguns dias são melhores, outros piores.
‘Há um punhado de perguntas que foram mal explicadas pela imprensa […]’. Principalmente pelo acobertamento da situação. Sim, há ‘mini documentarios’ a respeito do assunto. A campanha orquestrada do ‘está no melhor momento das capacidades mentais’, ‘no topo do jogo’, ‘esperto’, um sem numero de adjetivos. Orquestramento comprovado porque as palavras e expressões eram basicamente as mesmas. A desqualificação de quem alertava, ‘fake news’, ‘noticias falsas’, ‘intriga da oposição’, etc.