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ESPORTE. Um na UFSM Futsal, outro no Atlântico de Erechim: conheça a história dos gêmeos Trojahn

Mateus e Rodrigo se enfrentam sábado. Rivais, sim, mas só dentro da quadra

Em lados diferentes, dupla esteve em quadra na histórica vitória dos santa-marienses no CDM (Foto Ricardo Weschenfelder/UFSM Futsal)

Por Pedro Pereira

Neste sábado (14), UFSM Futsal e Atlântico, de Erechim, voltam a se enfrentar pelo Campeonato Gaúcho – Série Ouro. O confronto acontece no Caldeirão do Galo, casa dos erechinenses, e é válido pela última rodada da fase inicial. Embora remotas, as chances dos guris da Federal ultrapassarem os rivais na tabela e assumirem a liderança do grupo B são matematicamente reais, o que torna o duelo ainda mais interessante. Entretanto, a partida vale muito mais que o resultado em si para uma família específica.

Naturais de Cachoeira do Sul, os gêmeos Mateus Trojahn e Rodrigo Trojahn têm 20 anos de idade e somam mais de uma década de carreira no futebol de salão. Pela maior parte de suas vidas, vestiram as mesmas cores e foram responsáveis por impulsionar um ao outro em direção ao sucesso municipal e estadual. Agora, contudo, atuam separados: enquanto o primeiro veio ao Coração do Rio Grande e se tornou ala da equipe da Universidade, o segundo joga embaixo das traves do tradicional clube gaúcho, campeão do mundo em 2015.

De lados opostos, a dupla fez parte da histórica partida entre UFSM Futsal e Atlântico nesta temporada, que teve como palco um Centro Desportivo Municipal (CDM) lotado e o triunfo dos santa-marienses por 2 a 1 sobre o time sub-20 dos vencedores da Liga Nacional de Futsal de 2023. Atualmente antagonistas dentro das quatro linhas mas sempre parceiros fora de quadra, conheça a história dos “Irmãos Trojahn”.

Rodrigo e Mateus jogaram pelo extinto União Independente, de SM, no sub-15 (Foto Reprodução)

Parceria de sempre

Mateus e Rodrigo começaram suas trajetórias na modalidade juntos, aos sete anos, na categoria de base da ACAFUTSAL, agremiação de Cachoeira do Sul que, na época, disputava o Campeonato Gaúcho – Série Prata na divisão adulta. Inicialmente, o atleta que hoje é goleiro era pivô e o guri da Federal, que constantemente atua no setor ofensivo da equipe de Santa Maria, era fixo.

“O que ele jogava era brincadeira. Às vezes a gente ganhava de 6 a 0 e os 6 gols eram dele. Era absurdo, artilheiro de todos os campeonatos. Ninguém imaginava que mudaria de posição”, relatou o agora ala sobre o irmão. A troca de função ocorreu quando estavam no sub-11 e, na disputa do Campeonato Gaúcho juvenil, acabaram caindo ainda nas fases primárias pois não contavam com um bom goleiro.

Rodrigo, dessa forma, se encarregou de ser a solução para o problema. “No início foi desconfortável, passei muita dificuldade até ir pegando a técnica e o jeito da coisa. Fui mais pela disposição e pelo comprometimento com o time e com os resultados, mas com o passar do tempo fui me apaixonando e acredito que foi uma grande escolha que fiz dentro do esporte”, declarou o atleta. No começo do processo de transição, os irmãos treinavam juntos na garagem de casa.

Logo depois da mudança de função, a caminhada da dupla foi da água para o vinho. Do sub-13 ao sub-20, entre torneios promovidos tanto pela Federação Gaúcha de Futebol de Salão quanto pela Liga Gaúcha de Futsal, foram seis decisões de título e um troféu, conquistado na última categoria de base. O contato inicial deles com uma agremiação de Santa Maria foi na divisão sub-15, quando passaram a jogar pelo extinto União Independente.

No ano passado, Mateus e Rodrigo passaram a morar em Santa Maria para cursar Educação Física – Bacharelado, na UFSM. O primeiro, que segue estudando até hoje na instituição, lembra que, assim como em diferentes momentos de sua vida, os irmãos foram aprovados praticamente juntos: ele em 5º lugar e o goleiro em 6º. Após passar em um processo seletivo do Atlântico no início de 2024, o segundo trancou sua matrícula na Universidade e faz algumas disciplinas na URI, que tem campus em Erechim.

Mateus (E) e Rodrigo foram seis vezes a finais estaduais entre os sub-13 e 20 (Foto Arquivo pessoal)

Márcia Trojahn, mãe dos cachoeirenses, é professora de Educação Física e sempre marcou presença em competições de voleibol, como atleta. Ela explica que, desde quando eram bebês, eles têm essa “veia esportiva”, se destacando inclusive na modalidade em que a genitora acumula experiência. “A família até achava que eles seguiriam neste caminho, mas logo viram que eles eram excelentes em diferentes esportes como basquete, tênis e xadrez, da mesma forma que o futsal. A vida toda foram muito dedicados”.

Na visão de Márcia, a convivência no ambiente da competição e sua própria formação podem ter influenciado na escolha dos filhos em seguir esta carreira. Dedicados e focados em aprender novas técnicas e táticas do jogo, os irmãos também se preocupam em fazer treinamentos específicos e pensam no fator psicológico para enfrentar as adversidades. “Hoje mais do que nunca encaram, além de lazer, como profissão”, declarou a mãe.

Enfrentamentos duros

O embate sediado no CDM não foi o primeiro encontro entre os Trojahn dentro de quadra. Em 2022, Mateus já defendia as cores da UFSM Futsal, Rodrigo era goleiro do São José, de Cachoeira do Sul, e as equipes duelaram justamente na cidade natal dos jogadores, com a família acompanhando de perto. Na ocasião, o placar terminou a favor dos santa-marienses, por 5 a 1, visto que, para o ala, “o time dele estava bem abaixo do nosso e a gente tinha muita facilidade em propor nosso plano de jogo”. Nenhum dos gols, porém, foram marcados pelo atleta de linha.

A partida deste ano foi o segundo enfrentamento entre a dupla e, na opinião dos dois, foi o mais importante. O guri da Federal revela que, após a vitória sobre o Atlântico de seu irmão, brincou com ele: “cara, tu pode tá no Atlântico, tu pode tá no Barcelona, tu vai me ver do outro lado da quadra e não vai ganhar de mim”, relembrou o até o momento invicto Mateus, em meio a risadas. O defensor das traves de Erechim, que terá a revanche neste sábado, evidencia o jogo por ter sido disputado com “emoção até o último segundo”.

Para ambos, existe uma motivação a mais quando jogam um contra o outro, levando em conta que pela quantidade de tempo que vestiram as mesmas cores, sabem tudo que o outro tem em mente.” A gente se conhece muito bem e sabe quase todas as características individuais de cada um, em virtude de termos jogado tanto tempo juntos. É fácil diferenciá-lo dos demais atletas só pelo jeito de jogar, correr, conduzir a bola e tudo mais”, afirmou Rodrigo.

Mateus detalha que, quando atuavam do mesmo lado, conseguiam se encontrar em quadra até de olhos fechados. Hoje rivais, esta questão não atrapalha as equipes. Muito pelo contrário, conforme exemplifica o representante da UFSM Futsal: “o fato da gente se conhecer ajuda mais na questão tática e de observação dos times. Eu sei muita coisa sobre o Atlântico e ele sabe muita coisa sobre a Federal”.

Mateus (E), que está no time da Universidade desde 2022, já enfrentou o irmão Rodrigo duas vezes na história e nunca foi derrotado (Foto Ricardo Weschenfelder/UFSM Futsal)

Após o apito final, a parceria entre os dois segue normal. “Quem perdeu vai ouvir, quem ganhou vai se ‘arriar’. Não tem mistério”, zombou o jogador da Universidade. Isto, inclusive, é uma das questões que mais orgulha a mãe dos gêmeos. “Quando vejo eles em quadra me emociono pois sei que vão dar o melhor para os clubes que defendem, mesmo que tenham que se enfrentar. Também sei que, quando o jogo acabar, independente do resultado, o amor entre eles sempre será maior”, garantiu Márcia.

A genitora conta que nunca é fácil assistir aos duelos em que cada um está de um lado. “Atletas como Mateus e Rodrigo, todo treinador gostaria de ter. Além de serem tecnicamente habilidosos, são muito inteligentes e contribuem muito para o sucesso de suas equipes. Acabo torcendo mais para o empate”, brincou. Neste sábado, a professora de Educação Física não estará presente em Erechim, onde acontece a partida, mas acompanhará de casa. “Desejo que consigam jogar bem e se sentirem felizes com o esporte que escolheram”, finalizou.

Hora da revanche

Os irmãos conversaram após a derrota do Atlântico em Santa Maria e, segundo o ala da UFSM Futsal, “eles até hoje não aceitam terem perdido, até porque definitivamente eles mandaram no jogo”. O guri da Federal admite que os adversários produziram bastante em solo santa-mariense, pecando apenas na hora de balançar as redes. Entretanto, não tira o mérito de seu próprio grupo: “nós, sabendo das nossas limitações e da capacidade deles, fizemos um confronto muito correto e merecemos a vitória”.

Mateus não entra em quadra oficialmente pelo plantel do Coração do Rio Grande desde que participou da quebra de um jejum de 12 anos ao conquistar o título dos Jogos Universitários Gaúchos. O jogador começou a sentir dores no púbis e precisou se afastar das atividades para se recuperar. Agora, ele já treina com o elenco e deve estar à disposição do técnico Gabriel Pranke em Erechim.

Ainda não é possível saber se o Atlântico mandará para dentro das quatro linhas a divisão profissional do clube ou, como vem acontecendo nos compromissos válidos pela Série Ouro, o esquadrão sub-20. Rodrigo, contudo, fala que a preparação segue firme e avalia a UFSM Futsal desta temporada: “é um time muito competitivo, que apresenta dificuldade para seus adversários, tem um potencial ofensivo grande e bastante eficiência nas transições ofensivas e defensivas. Estão merecendo estar onde estão na tabela”.

O ala dos santa-marienses conta que a equipe está ciente da dificuldade que será encarar a tradicional agremiação mais uma vez, ainda mais por terem sobressaído no primeiro encontro. “Com certeza eles têm esse gostinho até hoje de ter perdido para nós, até porque foi uma das poucas derrotas que tiveram, então vão fazer de tudo para nos ganhar. Dentro da casa deles é ‘embaçado’, mas nós também vamos fazer de tudo para ganhar”.

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