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Não podemos nos acostumar com a proliferação do ódio – por Valdeci Oliveira

“...A luta política feita com o fígado, em que inexiste a figura do ser humano...”

A internação no início da semana do presidente Lula para tratamento de hemorragia intracraniana, surgida após uma queda sofrida por ele em outubro, trouxe à tona, novamente, a luta política feita com o fígado, em que inexiste a figura do ser humano quando este é o oponente. Também dizem que é diante do caos ou de situações tensas e delicadas que homens e mulheres acabam por revelar de fato suas reais personalidades, deixam aflorar seus desejos mais profundos, anseios do tipo que talvez não seja de bom tom mostrá-los em público, deixando-os apenas para si próprio ou no máximo para os círculos mais íntimos.

Entre a queda do presidente Lula no banheiro do Palácio do Alvorada e seu retorno ao hospital, para tratar das sequelas dela decorrentes, houve uma profusão de discursos, na melhor linha do “agora é o momento”, em que traços de humanidade de seus emissores, se é que existiram em algum momento, desceram pelo ralo da consciência. Da mesma forma, não dá para aceitar que, em tese, tais posturas façam “parte do jogo”, ainda mais do jogo democrático.

Da minha parte – assim como de milhões de brasileiros e brasileiras -, estou torcendo pela rápida recuperação de uma das maiores lideranças políticas do mundo, personalidade esta que chefes de países do dito lado desenvolvido ouvem o que ele tem para falar, o veem como liderança global, o admiram pela postura de apresentar e defender de maneira firme propostas em fóruns internacionais, sejam elas medidas contra a fome, pobreza, por justiça fiscal – como a proposta de taxar os super-ricos – ou em defesa do meio ambiente.

Apesar de ter suficiente noção do grau de estupidez e truculência que há anos vem reinando junto aos desejos – e práticas – de parcela considerável da população e de acompanhar a evolução desse processo por conta da minha atividade político-partidária, ainda não me acostumei com tamanho grau de insensatez e brutalidade – seja física ou verbal – desse segmento social que se une, independente do grau de educação ou financeiro, contra um sujeito, sua história e suas ideias.

E sugiro a todos e todas que também não se acostumem, não normalizem esse “modo de vida” sequer por um momento, pois somente assim nos manteremos humanos o suficiente para evitaremos que algo tão repulsivo se estabeleça. É como se ódio batesse a nossa porta e o que temos de fazer é não atender, não se render.

Faço essas considerações na tentativa de entender o que leva alguém, num momento delicado e sério para qualquer pessoa, a postar em suas redes sociais e compartilhar em aplicativos de conversas “cards” com a frase “torcendo para que fiquem juntos novamente” ilustrada por uma foto em preto e branco de Lula e Dona Marisa, falecida em 2017.

Ou outro, também doentio, afirmando que neste Natal não haverá peru, mas presunto. E ao final, o dizer: “Deus é que sabe das coisas”. Quer algo mais sem sentido? A cereja do bolo talvez tenha sido o vídeo de um homem, que em meio aos jornalistas de plantão em frente ao Hospital Sírio Libanês, onde o presidente está internado, pergunta, esperançoso, se “já morreu”.

O que vemos agora é uma continuidade, a reprodução do já visto e do já feito por figuras e lideranças proeminentes da nossa República. O que vemos é o resultado do pisar sobre os rastros de uma espécie de ódio que contamina a trilha de quem percorre o mesmo caminho. Tratam-se de sentimentos latentes que foram acordados, que afloraram aos primeiros sinais de que não estavam sós, que não precisam ter vergonha nem esconder em meias palavras o que desejam ao outro, mesmo que isso, de forma vil, resulte no pior. E se questionado, muito provavelmente não saberá explicar.

Lembro que em 2015, num momento agudo para os militantes de esquerda e dos direitos humanos como eu, da entrevista concedida por uma dessas lideranças que buscava mostrar a esta parcela da população radicalizada que ela não se encontrava sozinha. Ao responder sobre a permanência da presidenta Dilma no Planalto, afirmou: “Espero que o mandato dela acabe hoje, infartada ou com câncer”.

A mesma voz, no ano seguinte, na votação do impeachment, ao declarar seu voto pela cassação, o fez em homenagem ao militar que torturou a então jovem estudante de 22 anos. E para não deixar dúvidas, costumeiramente utiliza o termo “ponta da praia” em suas falas, sendo que, além de ser referência à base da Marinha na Restinga da Marambaia, no RJ, também é uma gíria militar em alusão a um local de perfil clandestino usado, na Ditadura Militar, para interrogatório com tortura e eventual morte do detido.

Como escreveu o jornalista político Ricardo Noblat: “pensões militares causam déficit de R$ 50 bilhões; Judiciário é um mar de supersalários; Congresso luta contra a transparência das emendas. “Faria Lima” chantageia governo. Mas se você perguntar, todos querem o melhor para o Brasil”. E eu complemento: E o problema é o Lula?

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.

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6 Comentários

  1. Resumo da opera. Este discurso de santarrão, de ‘ódio’, é para o proprio publico. Que é infantil. Rato Rouco não transferiu poder para o Picolé de Xuxu. Não importa o motivo. Centralização, costume vermelho, no ‘grande lider’. Sensação é que o Executivo ficou acéfalo, a briga entre Congresso e STF acirrou. ‘Depois a gente vê’. Como dizem em algum lugar, em briga de elefantes quem se ferra é o capim.

  2. Mantidas as atuais condições. Pode acontecer muita coisa, crise institucional, prorrogarem a idade de aposentadoria dos ministros para 80 anos, etc.

  3. A pua é a seguinte. Molusco com L.. abstemio, honesto e famigerado dirigente petista está com 79 anos. Não dá tilt como Biden, mas já não tem o mesmo dinamismo e comete erros. Economia embicou para o lado errado. Eleição de 2026 vai ser dificil. Rato Rouco pode perder e a biografia que já não é o que foi vai para as cucuias, sai da politica com um ‘plebiscito’. Vermelhos não tem candidato e não vão ter depois que o Rato Rouco pendurar a chuteira. Problema é que o(a) presidente eleito(a) em 2026 nomeia tres ministros do STF. Fux, Carmem Lucia e Gilmar se aposentam. Uma maneira dos vermelhos de prolongarem no poder, já tem muita gente no Tribunal.

  4. Segundo aspecto, não tenho vinculo emocional com baratas. Quando piso numa barata não estou preocupado se ela vai achar bom ou não. Nem com a reprovação moral das outras baratas. Simples assim.

  5. Sim, o problema é o Rato Rouco et caterva. Estão gastando como se não tivesse amanha provocando inflação que leva a alta de juros. Repetindo a politica economica de Dilma, a humilde e capaz.

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