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Tempestade em copo d’água – por Rogério Koff

Minha participação neste espaço é semanal, mas costumo conferir em primeira mão as notícias diariamente. Afinal, carecemos em geral de um jornalismo de cunho investigativo e de qualidade, somado ao exercício responsável da opinião e da crítica. E acredito que encontramos tudo isto aqui mesmo. Leio a informação do Claudemir sobre a “gafe” cometida por Boris Casoy em 31 de dezembro passado. Após chamar o intervalo no Jornal da Band, Casoy não percebeu que os microfones de bancada continuaram abertos e, de forma infeliz, teceu comentários desabonadores sobre uma vinheta da emissora, na qual dois garis desejavam aos telespectadores boas festas de final de ano. Desavisado, o âncora disparou: Que merda…Dois lixeiros desejando felicidades do alto de suas vassouras. Dois lixeiros! O mais baixo da escala do trabalho.

A fala de Casoy é mesmo infeliz e lembra o famoso episódio de Rubens Ricúpero. Lamentável, sob todos os aspectos. Mas agora o Claudemir chama a atenção para informação da revista eletrônica Consultor Jurídico (que eu não conheço), afirmando que o Presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Prestação de Serviços de Asseio e Conservação e Limpeza Urbana – SIEMACO, José Moacyr Malvino Pereira, pretende processar o apresentador da Band. Lembro que Casoy chegou a pedir desculpas na noite seguinte. Mas o dirigente sindical afirma que não vai aceitar e que dará sequência ao processo.

Sinceramente, considero tudo um grande exagero. Quem já trabalhou em redação de jornal ou emissora de televisão sabe muito bem do que estou falando. Em reuniões fechadas, já ouvi e disse coisas que não eram exatamente destinadas ao domínio público. Levante a voz o jornalista que, diante de colegas ou amigos, nunca falou nada que considerasse realmente impublicável.

Casoy não falou para os garis ou para os telespectadores. Aquele microfone nunca deveria estar aberto. O jornalista fez seu comentário para os colegas de bancada. E querem saber? Com todo o respeito aos garis, a vinheta era de mau gosto e tecnicamente sofrível.  O que vamos fazer agora? Abrir uma temporada de caça às bruxas e perseguição a jornalistas que falam bobagens? Certamente, teremos que fazer uma lista que pode – ou não – ser encabeçada por Casoy, mas que seguramente não se esgotará na sua figura.

Imediatamente me veio à mente o “caso Rother”. O leitor se recorda? Larry Rohter era correspondente do New York Times no Brasil. Em 2004, no segundo ano do primeiro governo Lula, teve seu visto cancelado no Brasil, porque fez menção em um artigo sobre o suposto alcoolismo do Presidente da República. Era um texto malicioso e cheio de insinuações. Ao contrário de Casoy, a trapalhada de Rohter foi intencional. Ele escreveu, assinou e publicou.

Mas lembro que, na época, comprei alguma polêmica com certas patrulhas ideológicas e guardiões dos bons costumes quando disse que o artigo de Rohter era pura e simplesmente um exemplo de péssimo jornalismo. E nada mais do que isso. Mas o que assistimos a seguir foi uma das maiores “patriotadas”, quando a cassação do visto do jornalista passou a ser tratada como caso de soberania nacional.

Assim como o texto de Rohter, a língua solta de Casoy é meramente caso de verborragia. Não estamos diante de qualquer discussão mais sólida sobre liberdade de expressão e direito à informação. E o tal do Sindicato busca seu suposto direito no endereço certo: a Justiça, que é a instância democraticamente constituída para defender cidadãos que se entendem vítimas de informações veiculadas pela mídia.

Para o meu gosto, é tempestade em copo d’água. É somente uma gafe histórica. E fim de papo.

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Um Comentário

  1. A opinião de Casoy não foi sobre a vinheta, mas sobre os lixeiros mesmo. Eu não me surpreendi porque há muito não tempo não suporto Boris Casoy que já demonstrou suas opiniõezinhas racistas e de mau gosto em outras ocasiões.Sua fala demonstra arrogância típica de um jornalista que se acha o dono da verdade. Não concordo com a ação judicial; acredito que a exposição do fato, de forma viral na rede, já foi o suficiente para desmoralizá-lo, mas o que Casoy falou “fora do ar” mostra, sim, seu pensamento elitizador, típico de um jornalista que não tem mais nada de bom para oferecer.

  2. Discordo. Não se trata de discutir a intenção do apresentador. Até por que isto está bem claro: desqualificar (além da vinheta) uma classe profissional. Só que queria fazer isso só para os seus, mas isso não diminui o problema, pois continua sendo a disseminação intencional do preconceito de classe.

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