O editor tem, perto dele, e o você, leitor, com toda certeza também, gente que simplesmente adora as Lojas Renner. Faz sentido. É um ícone do comércio gaúcho, sempre zeloso da imagem construída ao longo de décadas. Mesmo quando parte do capital foi vendida a ianques, ainda na década passada, a empresa não deixou de cultivar a sua raiz gaúcha (embora tenha boa parte do faturamento vinda de outros Estados). É, enfim, uma organização respeitada pelos moradores e consumidores do Rio Grande.
Pois é exatamente essa imagem que, de uma certa maneira (se é que há “certa” maneira), foi arranhada. E seriamente abalada, convenhamos, com a notícia que veio a público nos últimos dias. Exatamente esta, que você confere no material publicado no jornal eletrônico Sul21, com informações da Assessoria de Imprensa do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e da revista Carta Capital. A seguir:
“Renner terá de pagar mais de R$ 900 mil aos trabalhadores resgatados em condições de escravidão
Na tarde desta sexta-feira (28), em São Paulo, foi firmado acordo entre o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Defensoria Pública da União (DPU), referente ao caso dos trabalhadores resgatados em condições análogas à escravidão em uma oficina de costura da Zona Norte da capital paulista, que produzia roupas para as Lojas Renner. Pelo acordo, os trabalhadores receberão R$ 770 mil até abril de 2015, além dos R$ 170 mil já repassados a título de verbas rescisórias e indenizações.
Na quinta-feira (27), auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgataram trabalhadores que produziam para a Renner e eram mantidos em condições que representam “desrespeito à dignidade humana”, conforme consta nos relatórios. O grupo de 37 pessoas, todas de nacionalidade boliviana, era composto por 36 adultos (21 homens e 15 mulheres) e um jovem de 16 anos. Muitos dos trabalhadores ao serem resgatados da fábrica em que trabalhavam por 16 ou 17 horas diariamente apresentavam quadro de infecção intestinal. Eles eram remunerados conforme a produção, tinham descontos indevidos ou mesmo a retenção salarial em função de dívidas. Os bolivianos viviam em alojamentos, recebiam R$ 1.082,00 por mês. Havia ratoeiras no refeitório, o que denunciava a presença de roedores, além de baratas na geladeira. “A servidão era disfarçada com a retenção de dinheiro”, explica Ronaldo Lima, procurador do MPT-RS.
“Nossos auditores foram ao Rio Grande do Sul (onde está a matriz da Renner) e apreenderam no departamento de criação os desenhos das peças que eram confeccionadas na oficina ilegal para comprovar o vínculo”, conta Luiz Antônio Medeiros, superintendente do MTE em São Paulo. A relação também podia ser comprovada pela existência de etiquetas, tecidos e notas fiscais das Lojas Renner no local…”
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Renner tinha sido vendida para um grupo americano e, depois aberto o capital, o grupo se desfez das ações. Não sei se é tão gaúcho assim.
E aí entra o problema da terceirização. Empresa terceiriza produção e o governo quer que fiscalize o terceirizado. Ou seja, governo terceiriza a fiscalização para a empresa contratante. Tudo para dar certo.
Escravidão aqui ou na China deve ser parecido.
Os ditos empresários "liberais" brasileiros e outros do capital estrangeiro (uma parcela deles) não leu A. Comte, K. Marx e F. Hayek, pelo menos estes autores, para entender o que significa trabalho e lucro. Se leram, são mal intencionados.
Assim como no campo/cenário da política brasileira, onde vigoram práticas de corrupção e extorsão, as pequenas e/ou grandes vantagens devem ser punidas severamente. E não apenas com multas. São crimes que tem analogias com narcotráfico e seus derivantes delituosos, que afetam pessoas e famílias. Portanto, os dirigentes destas empresas (assim como os políticos e servidores falcatruas) deveriam experimentar anos de prisão. E nós cidadãos deveríamos usar a política de excluir empresas como estas das nossas preferências de consumo (claro sem sermos ingênuos, já que outras tantas igualmente utilizam expedientes como estes, inclusive no que tange às matérias primas não sustentáveis).