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EXCLUSIVO. Com pouco dinheiro e saída da KMW, Tecnoparque vive um momento difícil e já corre riscos

Complexo de prédio construído no Distrito Industrial conta com três empresas instaladas
Complexo de prédio construído no Distrito Industrial conta com três empresas instaladas

Por MARCOS FONSECA (texto e foto)

O Parque Tecnológico de Santa Maria (Santa Maria Tecnoparque) vive dias difíceis. Inaugurado há apenas um ano, o empreendimento criado para atrair empresas do setor tecnológico enfrenta dois sérios problemas que podem colocar em risco o sucesso do investimento. O primeiro é a falta de dinheiro. O segundo é mais grave: há poucos dias, a direção da KMW decidiu abandonar o parque e transferir sua unidade de pesquisa e desenvolvimento para dentro da própria fábrica que está prestes a inaugurar no município.

O Santa Maria Tecnoparque foi construído em uma área do Distrito Industrial. O empreendimento é bancado, na maior parte, por duas fontes públicas de recursos: prefeitura e governo do Estado. Com cada um, há um convênio.

Para cobrir despesas básicas com funcionários, água, luz e vigilância, o parque recebe atualmente em torno de R$ 20 mil por mês do convênio com o município. O problema é que o gasto mensal hoje supera R$ 30 mil. Desde o final do ano passado, a direção do Tecnoparque tenta negociar um aditivo com a prefeitura para garantir a manutenção do complexo.

Enquanto o acordo não acontece, o clima é de preocupação dentro do parque tecnológico. Falta dinheiro para pagar os dois servidores que recebem via recursos municipais. Até mesmo o sistema de vigilância está ameaçado, pois não há dinheiro para pagar a empresa responsável pela segurança do local.

O diretor financeiro do Santa Maria Tecnoparque, Vilson Serro, trata o assunto com preocupação. Ele diz que o convênio assinado em 2014 com a prefeitura não previu todo o dinheiro que seria necessário para a manutenção do complexo. Contudo, tem esperança que haja uma negociação positiva a fim de assegurar o aumento do repasse. “R$ 30 mil seriam o ideal para manter o parque operando normalmente. Acredito que conseguiremos”, afirma Serro, referindo-se ao repasse mensal que tenta com a prefeitura.

Apesar do corte orçamentário adotado neste começo de ano pelo governo do Estado, o repasse ao Tecnoparque não foi afetado. O convênio prevê investimentos de R$ 2,3 milhões em duas etapas. A primeira parte, de R$ 1 milhão, já foi paga. O dinheiro mantém em funcionamento o Centro Tecnológico de Simulação, que conta com equipamentos já instalados. Além disso, dois outros funcionários do parque recebem via recurso estadual. Segundo Serro, a outra parte do convênio será liberada no segundo semestre de 2015.

O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Projetos Estratégicos, Jaques Jaeger, assegura que o aditivo no convênio está em análise. Ele explica que, no começo do projeto do parque, a prefeitura investiu um valor elevado para a construção dos prédios no Distrito Industrial. Com o passar dos meses, esse valor vem sendo reduzido. “É uma falsa sensação de falta de dinheiro”, diz.

Jaeger ressalta que o aumento no desembolso para o Tecnoparque depende ainda de maiores estudos, pois é preciso que o valor esteja dentro dos limites impostos pela lei orçamentária.

Fábrica de blindados saiu do parque por motivo de segurança das operações

Outro motivo de preocupação dentro do Parque Tecnológico de Santa Maria é a perda da maior empresa do complexo. A alemã KMW desistiu de manter uma sede de pesquisa e desenvolvimento no complexo. A unidade trabalharia com projetos de simuladores para a fábrica de blindados, que está pronta e será inaugurada até a metade do ano.

Conforme Vilson Serro, a decisão de deixar o parque partiu da matriz da montadora de blindados, na Alemanha. O motivo alegado pela empresa foi a segurança. Por se tratar da criação de simuladores de veículos de uso militar, a segurança das operações é rigorosa. O próprio uso da internet dentro do Tecnoparque poderia pôr em risco o trabalho da montadora. Conforme Serro, a KMW levou a unidade de pesquisa para dentro da própria fábrica construída no Distrito de Boca do Monte.

A saída da KMW reduz para três o número de empresas em atividade dentro do parque tecnológico santa-mariense. Como parte dos recursos de manutenção do complexo vem do aluguel das salas para as empresas, a perda do principal parceiro do empreendimento agrava a situação financeira do parque.

O diretor financeiro do Tecnoparque informa que há duas empresas interessadas em se instalar no local. Porém, o cenário de instabilidade econômica no país faz os investidores segurarem seus projetos de expansão. Serro conta que empresas do setor metal-mecânico parceiras do parque tiveram até 40% de queda no faturamento em 2014.

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20 Comentários

  1. Diante dos comentários de colegas, cheguei a esta reportagem de Claudemir Pereira e aproveito para elogiar sua coragem em abordar esse assunto tão absurdamente obscuro.
    Como já sabia de alguns fatos existentes sobre o Tecnoparque anteriormente, não pude deixar de resgatar uma reportagem que na época me deixou um pouco incomodado pois, a reportagem do diário dizia: "A dois meses de completar um ano de funcionamento, o Santa Maria Tecnoparque está com o primeiro de dois prédios quase todo ocupado. As 50 salas foram sendo preenchidas gradativamente, desde a divulgação das empresas selecionadas pelo primeiro edital, em 12 de dezembro de 2013". http://diariodesantamaria.clicrbs.com.br/rs/economia/noticia/2014/10/santa-maria-tecnoparque-esta-quase-cheio-de-empresas-4629929.html Reportagem de Juliana Gelatti do Diário de SM de 28/10/2014
    http://diariodesantamaria.clicrbs.com.br/rs/economia/noticia/2013/12/kmw-do-brasil-tecnopampa-e-outras-nove-empresas-estarao-no-santa-maria-tecnoparque-4361294.html 11/12/2013
    Agora nos vemos com uma realidade totalmente diferente, ou melhor agora vemos a REALIDADE através de fatos reais. Não sei quem foi entrevistado e relatou a repórter do Diário que o 1ºprédio estava quase todo ocupado, mas com certeza a informação não era verdadeira. A quem acham que enganam? É simples e previsível a falência do Tecnoparque, faltou seriedade e transparência na gestão.
    Concordo quando falam que precisam de pessoas competentes, estratégias para o crescimento e sustentabilidade do projeto e principalmente, transparência pois trata-se de $ público.
    Espero agora ser surpreendido com alguma atitude sensata dos órgãos responsáveis pelo convênio.
    Abraços Mariano

  2. Exatamente esse o ponto Carlinhos, acredito que o que você disse vá de encontro ao que muitos disseram aqui nos comentários. Parece-me que falta transparência sobre a gestão do parque.
    Se o parque recebe recursos públicos não deveria se enquadrar nas leis de transparência pública? Deveriam ser publicas as informações das empresas instaladas, os contratos fechados, os funcionários contratados e seus salários, enfim, uma prestação de contas completa. Se os demais órgãos públicos precisam fornecer essas informações, por o parque não precisa?

  3. Esta é uma discussão que não pode ser apaixonada, envolve recursos públicos. Devemos procurar conhecer, antes de criticar. Por exemplo: Quais são as empresas instaladas lá? Quantos empregos são gerados? Quais os produtos desenvolvidos lá? Pelo que sei, uma das empresas é o Exército e isto seria estratégico para a região.

  4. Gostaria aqui de parabenizar as 3 empresas instaladas no Tecnoparque que pagam o aluguel do metro quadrado mais caro que no centro da cidade.

  5. Acho curioso a prefeitura cogitar investir mensalmente 30 mil reais para manter a estrutura para três empresas de porte no máximo mediano.

    Sou capaz de apostar que as três empresas juntas não devolvem nem perto de 30 mil reais em forma de imposto para a prefeitura visto o seu baixo faturamento.

  6. Para o comentarista "Apaixonado" somente vale elogios e as mesuras sociais satisfazem alguns egos inflados da cidade.
    Em nenhum momento disse que o parque tecnológico não era importante. Apenas demarquei, se não ficou claro, que precisamos de profissionalismo e mentalidade empresarial, de quem conhece o mercado realmente, e não gente formada em cursos motivacionais…
    Resumindo, falta gestão e visão de mercado. Pedir dinheiro para governo qualquer um faz.

  7. Depois de ler a reportagem e os comentários, pude observar que mesmo sem muito conhecimento sobre o assunto, a maioria fez comentários justificáveis com a realidade do contexto.
    Acredito que algo deva ser feito com urgência, pois um projeto grandioso como este necessita de tratamento especial. É notório que o Parque Tecnológico naufragou e isso não quer dizer que sou uma pessoa negativa, pelo contrário, acredito no poder de crescimento de SM, mas não podemos deixar de fiscalizar pois é dinheiro público, lê-se nosso dinheiro.
    Não tenho a intenção de desqualificar ninguém, mas é notório que até agora a gestão do Tecnoparque foi falha e totalmente sem estratégia. Então o que fazer?
    Como cidadã creio que uma auditoria por parte dos orgãos que apoiam esse convênio, poder Municipal e Estadual seria uma boa ação, com isso teriam argumentos e indicadores para analisarem se o convênio está cumprindo com as metas pré estabelecidas, com isso poderão decidir em continuar apoiando ou não esse projeto.
    Desejo boa sorte aos responsáveis, pois vão precisar!

  8. Fico triste a ler comentários desta natureza. Este empreendimento só existe com um objetivo: desenvolver a região central do RS. Fico pensando: muitas pessoas gastaram energia para criticar, mas por que não investem em ajudar? Muita coisa foi dita sem ter conhecimento real, muita crítica maldosa sem aplicação prática. Por que vocês (Eduardo, Eduardo Faccin, Renan Birck Pinheiro, Jack Baranhas, João Paulo Mariano da Rocha, Ignez Andrade) não usam nomes reais, é fácil criticar escondendo-se atrás de codinomes, se importam mesmo com o desenvolvimento de Santa Maria ou estão apenas aproveitando, como chupins, a especulação do retrocesso?
    Ademais, fica a dica: o Santa Maria Tecnoparque estará sempre de portas abertas para demonstrar todo o profissionalismo de sua gestão, certamente em alguns anos será uma referência em empreendedorismo tecnológico e esmagará a inveja dos perdedores. Na minha opinião, Vocês não sabem de nada, a opinião de vocês é apenas destrutiva e para tanto deve ser desconsiderada. Caso vocês revelem seus reais nomes, ficarei honrado em procurá-los para conversar pessoalmente e descobrir de fato qual o nível de profissionalismo e conhecimento de cada um.

  9. É lamentável ler os comentários acima. Isso mostra o quão atrasada e provinciana é a mente das pessoas aqui. Ao invés de valorizamos o que foi feito para nós, é mais cômodo meter o pau pois mamar na teta da Universidade e demais instituições públicas é fácil e cômodo. As pessoas aqui só querem as coisas prontas mastigadas, mas botar as mãos pra fazer ninguém quer, ninguém tem tempo. Botar defeito é muito mais fácil que entender e buscar saber o motivo real das coisas.
    Com a duplicação da travessia urbana, será possível chegar muito mais rápido e toda a cidade tem projeção de crescer para o lado da TNeves. Com isso se cria infraestrutura (onibus, comércio, parcerias, novos negócios). Todo empreendimento de grande porte tem seu tempo de maturidade. É por isso que Santa Maria sempre será a coitadinha desamparada e refém de Porto Alegre e Serra, porque as pessoas daqui valorizam mais o que é de fora. Parabéns mentes pequenas, vocês vão longe.

  10. Ótima idéia Eduardo Faccin!!! Porque os gestores do parque não divulgam seus planos de negócio, já que o parque tem recursos públicos, nada mais justo que conheçamos seu planejamento para avaliar aonde está a falha.
    Como lembrou Renan, a Unifra, UFSM e Ulbra são parceiras do parque, então porque estão criando pólos tecnológicos próprios dentro de sua estruturas??? Porque não destinam os recursos para lá???

  11. Não sabia que tínhamos este empreendimento em SM. E ainda consumindo recursos de outros lugares. O verdadeiro 'Parque dos dinossauros'.

    Obrigado ao Blog pela imparcialidade e coragem de publicar. Leitor assíduo.

  12. O importante é ter uma transparência maior e ver se realmente existe conflito de interesses por parte da administração. A partir disto medir os resultados. Só não entendo uma estrutura daquele porte para 3 empresas.

  13. Por que não estou surpreso?

    Instalaram um parque tecnológico no meio do nada, inacessível para a maioria das pessoas que poderiam trabalhar lá (cadê o ônibus que vá da UFSM, da Unifra etc… para lá?), para meia dúzia de empresas.

    Tudo com dinheiro público, como sempre. Logo mais as outras empresas pulam fora da barca furada e deixam o prédio lá – ao menos poderia ser aproveitado em algo necessário.

    Sabe o que poderia atrair muito mais empresas para cá? Melhorar a infraestrutura da cidade. Mas não é tão bonito quanto inaugurar elefantes brancos erguidos em meio ao quase nada.

  14. Eduardo! É isso mesmo.

    O processo de seleção dá prioridade a empresas que são "Associadas" ao parque tecnológico ou membras de um APL local

  15. Pelo que li sobre o parque tecnológico, todos os investimentos são públicos. E as empresas??? e a iniciativa privada, não investe nada???
    A outra pergunta é: quem capta empresas??? como essa captação é feita??? Se temos apenas três empresas instaladas e uma está indo embora, é porque a sistemática não está funcionando…
    Como outros comentários que foram aqui expostos, acho importante rever as condições concretas do Tecnoparque antes de colocar dinheiro público em um elefante branco.
    Por fim, me disseram que uma das empresas instaladas é de um dos diretores do parque (não precisamos dizer mais nada).
    Coisas de Santa Maria.

  16. Coisas da aldeia. Como dizia Demóstenes há mais de dois mil anos atrás: "É extremamente fácil enganar a si mesmo; pois o homem geralmente acredita no que deseja."

  17. Esse Parque nasceu com muito cacique pra pouco índio. Nunca que eu ia colocar minha empresa numa furada dessas.

    Já demorou demais pra sair, com dinheiro público (muito importante isso), e com processos de seleção de empresas muito escusos.

    Acho que até é uma boa idéia morrer cedo, antes que consoma mais dos meu dinheiro.

  18. Esse projeto já nasceu morto…só eles que não perceberam ainda. Isso teria que ter sido feito la na UFSM junto ao pólo tecnológico.

  19. Neste momento de instabilidade da economia é provável que o investimento seja reduzido e mais uma 'promessa de desenvolvimento' da região seja fechada ou realocada sua utilização.

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