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Enem: prova doutrinária ou civilizatória? – por Liliana de Oliveira

As provas do Enem 2015 (Exame Nacional do Ensino Médio) foram tema de debate nas redes sociais. Tudo porque a prova trouxe questões que tratavam da luta pelos direitos das mulheres. No primeiro dia, uma questão da prova de Ciências Humanas chamou a atenção de grupos feministas e ativistas nas redes sociais. A questão trazia a célebre frase de Simone de Beauvoir (“Não se nasce mulher, torna-se mulher”) em uma questão sobre as lutas feministas da metade do século XX. No segundo dia, o tema da redação foi “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”.

Os debates nas redes sociais foram polarizados. De um lado, tínhamos aqueles que celebravam que a prova que tem sido a principal forma de ingresso ao ensino superior no país, tematizasse a condição da mulher, indicando que esses debates são temas pertinentes à educação. De outro lado, tínhamos aqueles que diziam que a prova tinha caráter doutrinário e ideológico.

Tratar do feminismo ou da violência contra a mulher no Brasil não é doutrinação, é educação. Humanizar, civilizar, (re) pensar o modo como nos constituímos e nos tornamos aquilo que somos é tarefa da educação. Mas compreendo a posição daqueles que não entendem o porquê de uma prova de ingresso ao ensino superior tematizar tais questões. Afinal, nossa forma de ingresso se dava por meio de vestibulares que traziam questões muito específicas e que garantiam muitas vezes que alunos que desconheciam temas importantes pudessem ser aprovados em cursos concorridos.

Além do mais, não aprendemos nas escolas a pensar nossa condição de homens e mulheres construídos pela cultura. Muito pelo contrário, na maioria das escolas aprendemos a naturalizar comportamentos que são construídos pela cultura, reforçando assim, uma série de preconceitos e estereótipos no que se refere às questões de gênero. Por isso, acho compreensível o espanto de muitos, que são cobrados por aquilo que nunca (seja na escola ou na família) ousaram pensar.

Entretanto, precisamos avançar! Precisamos pensar que educar é muito mais do que transmitir conteúdos ou apresentar uma tradição. Educar pressupõe o compromisso ético de desnaturalizar e problematizar o instituído. Educar pressupõe uma consideração do humano, do respeito ao outro, do respeito às diferenças, do respeito à diversidade que em nada se parecem com doutrinar.

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