Eu que não consigo dormir… – por Alice Elaine Teixeira de Oliveira

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Não adianta pensar nos compromissos do amanhã, eu não consigo dormir…

Fecho os olhos e tento relaxar, pensar em números, contar carneirinhos. Eu chego aos mil e nada de um dos carneiros me dar um coice e me nocautear.

Viro de lado, volto ao outro. Ligo o celular. Jogo paciência. Quebro todos os recordes e ganho todas as medalhas e nada. Então tento a leitura. Vamos ler as notícias do momento. Alta do dólar, queda da bolsa, bomba aqui e acolá, manifestação contra isso ou aquilo, crime, castigo, monopólio, livre comércio…

Idiotices e notícias sem sentido. Quem sabe um pouco de humor?

A política me faz rir e chorar e a comédia é muito sem graça e, no fim, tudo é realidade e esta sim é uma piada pronta. O que um dia gerou riqueza às custas dos donos originais de uma terra, volta a matar os donos atuais do lugar, num mar de lamas de rochas e lodo revolvido. Barragem de um acúmulo de resíduos que não se perdem com o tempo e que mesmo sendo desprezados lembram que ainda estão ali. É o tempo que cobra o seu preço.

Diante do telejornal, o pensamento que me ocorre é o de que a bomba que explode junto a um corpo não é a mesma que cai do céu, mas, tem por objetivo o mesmo: aniquilar vidas, findar sonhos e chegar a objetivos muito além dos que as transportam.

As madrugadas têm fim! É a única conclusão ao qual eu consigo chegar após transpor muitas delas. Elas acabam quando o sol brilha, os pássaros cantam e os carros aceleram.

Mas, então, chega-me o sono. Porque parece que o mundo vive e respira enquanto dormimos. As notícias que nos chegam, no jornal da manhã, são na verdade a última repetição do que já aconteceu no mundo durante nossa noite. Enquanto dormíamos o mundo ruía, definhava e morria.

Somos os receptores das más notícias do dia anterior. Somos a herança da catástrofe. E o que fazemos? Como reagimos? Como nos comportamos diante de tantas notícias caóticas e alarmantes?

Pensamos com a positividade das crianças, dos otimistas e dos loucos: – Somos um povo feliz e festeiro. Tudo dará certo para nós, pois sambamos na cara do terrorismo, pagando o dízimo do assaltante, a cada esquina. Duvidamos dos franco-atiradores, matando nosso ecossistema, todos os dias. Rimos das desgraças da vida, quando esquecemos da negligência de grandes Estatais, em cada município. Damos graças a Deus por não termos catástrofes, quando barrancos desmoronam sobre dezenas de infelizes moradores, com as chuvas tropicais…

É doce o sono dos justos e então, talvez seja este o problema do mundo que não dorme, penso com meus botões e continuo, pois este Sistema Mundial tem pesadelos constantes com um perseguidor que é capaz de lhe encontrar em todos e quaisquer esconderijos, e continua sonhando com uma fuga, é como estar no desenho animado daquele famoso gambá, que dando pulinhos sapecas agarra a gatinha que corre desesperadamente.

Não posso pensar, preciso dormir, sem pensar, sem calcular, sem lembrar. Então fecho os olhos e os pássaros cantam, o dia vem raiando… porém o sono me atropela como um trem de carga. Dois segundos e o despertador da responsabilidade diária grita no meu ouvido.

Outro dia sonolento, de olhos inchados e mente torpe à espera de outra noite interminável de pensamentos inquietantes. Outro dia pesado de labor e luta, mas um dia isso vai chegar ao fim, este ciclo há de findar-se ou findarei eu!!!