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A menina – por Maiquel Rosauro

“Mas tu não vai me enganar, hein tio!”, dispara a menina enquanto olha para a entrada do condomínio. Seus braços estão na cintura e sua postura é firme, não condizente com a sua idade, que calculo não ter mais do que 11 anos. Outras quatro crianças estão ao seu redor, mas só ela fala.

Está quente, abafado, o sol insiste em não ir embora, típico dia de verão santa-mariense. Estou com pressa, tenho que me livrar dos sacos de lixo e depois torcer para o mercadinho no fim da avenida ainda estar aberto. Mas antes, precisava encarar aquela menina.

“Não estou te mentindo, não tenho mesmo nada para te dar. Na próxima eu procuro algo em casa para trazer”, explico outra vez, já sem muito entusiasmo.

“Ah tio, por que o senhor não busca agora. É rapidinho”, insiste a garota com um olhar quase sem esperanças.

“Não posso pequena, estou atrasado. Onde você mora?”.

“Aqui no bairro tio”, diz ela apontando em direção à rodovia. “O senhor não tem mesmo nada para dar, quem sabe uma moedinha”.

Neste momento percebo que sua atenção mira de forma fixa a entrada do condomínio. Em momento algum ela cogita ir até minha casa buscar algo. É como se existisse um muro intransponível que a impedisse  de atravessar a portaria, quando na verdade bastava apenas que eu fizesse um convite ou autorizasse sua entrada.

Após explicar, em definitivo, que nada tinha para ela, larguei o lixo no contêiner e segui meu rumo. Mas não sem antes olhar pelo retrovisor e notar que as crianças foram revirar as sacolas que deixei.

Então entendi o que ela quis dizer sobre não enganá-la. Moedas, latinhas, papelão, comida ou qualquer outra coisa de valor eram o seu interesse material. Porém, ela me pediu algo muito mais valioso, o qual não consegui cumprir. A minha palavra.

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