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Nos meus tempos de quartel – por Maiquel Rosauro

Calma, não se empolgue com o título. Meus tempos de quartel se resumem a algumas visitas à 6ª Brigada de Infantaria Blindada e ao Parque Regional de Manutenção. Mas os últimos minutos em que estive no Exército foram o suficiente para mudar minha forma de ver o mundo.

Com 18 anos, eu só tinha uma certeza na vida: precisava encontrar alguma coisa para fazer pós Ensino Médio. E só havia duas opções, faculdade ou quartel.

Após dois exames médicos, um exame de aptidão física e uma entrevista, eu já estava quase entendendo o que significava o termo “bizu”. Fui então designado para o Parque de Manutenção e já havia até comprado um cadeado com duas chaves para guardar minhas coisas em algum armário.

Confesso que não estava muito empolgado, não entendia o porquê de passar um ano no quartel. Eu queria mesmo era cursar Jornalismo.

Quando estava quase na fila para o corte de cabelo, descobri que tinha sido dispensado. Havia gente demais, eles diziam. E tinha mesmo, eram centenas de jovens de toda a região.

Logo fui direcionado para junto de outros rapazes que pareciam contentes pela dispensa, bem ao contrário dos que estavam sob o sol quente aprendendo algum tipo de formação.

Em uma última oportunidade, um oficial vem até nós e pergunta se algum queria servir. “Sem chances”, disse a mim mesmo em pensamento. Eu iria para a faculdade e adeus quartel. Mas eis que acontece o inesperado. Um garoto meio gordinho e com cabelos loiros, cujo sobrenome era Gabbi, ergue o braço. O que ele disse a seguir eu nunca esqueci.

“Eu gostaria de servir senhor. Eu moro com meu pai e minha madrasta, mas ela não gosta de mim. Ela disse que se eu não entrasse no quartel, teria que sair de casa porque não teria mais espaço para ficar lá”.

Incrível. O que seria um problema para mim, era a solução para aquele garoto. Naquele momento fiquei feliz por morar com meus avós e ter certeza de que se eu voltasse em algumas horas, não seria expulso de casa.

A história do garoto comoveu os militares. “O teu nome a gente já sabe, é Gabbi, não tem como esquecer. Então tu anda na linha, se não tu vai embora”, disse um oficial.

Eu nunca mais vi aquele garoto. Sei apenas que ele não fez o juramento à bandeira comigo naquele dia.

 

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