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Um novo amor – por Bianca Zasso

Proponho aos prezados leitores desta coluna um desafio: liste cinco histórias de amor clássicas do cinema. Muitos (me incluo neste grupo) pensaram “mas só cinco?”. Amor e cinema são parceiros de longa data. Uma dupla que já fez nossas avós suspirarem com Casablanca, de Michael Curtiz e nossos pais derramarem lágrimas com Love Story, de Arthur Miller. E é chegada a hora na nossa geração ter uma história romântica para chamar de sua. Muitas são as opções, mas meu voto vai para Ela, do diretor e roteirista Spike Jonze.

Vencedor do prêmio de melhor roteiro original na última cerimônia do Oscar, Ela segue o estilo de seu diretor, sempre bem acabado e com um equilíbrio perfeito história e estética. Conhecido por títulos como Quero ser John Malkovich e o belíssimo Onde vivem os monstros, Jonze escolheu o mais discutido e exaltado dos sentimentos para criar uma relação única, excêntrica e intensa. O protagonista, Theodore, interpretado com muito talento por Joaquin Phoenix, é um melancólico escritor de cartas por encomenda que está às voltas com seu divórcio e suas dúvidas sobre o que ainda sente pela antiga esposa.

Passado num futuro indefinido, com visual setentista imperando na direção de arte, Ela mostra como um novo amor, em formato e contexto, pode ser a saída para um período complicado pelo qual quem já se apaixonou que seja uma vez na vida já experimentou. Num mundo onde quase tudo é comandado pela voz, Theodore encontra abrigo em um sistema operacional dotado de inteligência artificial chamado Samantha, que passa de confidente e companheira de solidão para amante e amada.

A “voz” que descompassa o coração do protagonista é da atriz Scarlett Johansson, num trabalho que mostra que não é só com belos olhos e lábios que se faz um bom personagem. Scarlett cria toda uma personalidade para Samantha que, por não ter um corpo, é impressa através de tons, sussurros, respiros e silêncios. Cogitou-se indicá-la para melhor atriz, mas como premiar na arte da imagem em movimento alguém que não aparece na tela? Apesar de parecer absurdo, seria um prêmio merecido.

Ela é um amor do nosso tempo, onde casais se encontram no Facebook e matam a saudade pelo Skype. E também onde milhares de solitários e tímidos buscam um pouco de atenção em salas de bate-papo e sites que prometem um príncipe encantado em menos de uma semana. Theodore não é um maluco por tecnologia, apenas encontrou a mulher que sempre quis em um sistema operacional. E essa relação homem e máquina é tão real quanto os relacionamentos ditos normais. Theodore e Samantha também tem suas crises, suas dúvidas, suas surpresas. O medo de perder quem se ama está lá, em cada cena e diálogo, mesmo que perder seja apertar um botão.

Muitos foram os debates sobre qual é o tema por trás de Ela, qual a metáfora que o roteiro esconde. Estamos fadados a nos apaixonarmos por robôs? Nossa relação com a tecnologia está chegando em um ponto perigoso? Vamos viver mais no Instagram do que na mesa do bar? Tenho pra mim que essas discussões são muitos saudáveis, mas nada muda meu pensamento. Ela é uma história de amor. Simples, tocante, objetiva, sem exageros, bem conduzida e nada piegas. E também é uma ficção científica cheia de sentimento, ao nos apresentar um mundo novo, mas habitado por gente como a gente, sempre em busca da felicidade.

Ela nos deixa um recado muito claro. Ame. Quem você quiser. Sofrer faz parte. Ao homem e à máquina.

Ela (Her)

Direção: Spike Jonze

Ano: 2013

Em cartaz nos cinemas

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