Coluna

Memórias estelares – Bianca Zasso

biancaA ficção científica viveu seu momento mais produtivo no cinema durante a década de 50. O público foi presenteado com clássicos como Planeta proibido, Vampiros de almas, ambos de 1956 e O dia em que a terra parou, de 1951. Do outro lado do mundo, para ser mais precisa no Japão, o monstro Godzilla fazia sua estreia em 1954. Os anos 80 nos deram A mosca, de David Cronenberg e Eles vivem, a crítica amarga de John Carpenter.

Nos anos 90, tivemos o blockbuster Independence Day, que tem uma continuação prevista para estrear em junho deste ano nas nossas telas. No entanto, esta humilde colunista acredita que a década do grunge e da camisa de flanela contribuiu com o gênero com a ajuda de um diretor poderoso e sem medo de ousadias.

A franquia Tropas estelares estreou em 1997 e ganhou sequências em 2004 e 2008.  Porém, o primeiro filme, mesmo com um final que anuncia uma nova aventura, é único e merece atenção especial. O diretor Paul Verhoeven já era conhecido dos cinéfilos pelos ótimos Robocop e Instinto Selvagem. Mesmo que o policial do futuro já tivesse nos mostrado a boa mão de Verhoeven para o gênero, foi com Tropas Estelares que ele pode ser ainda mais incisivo.

Baseado num livro de Robert A. Heinlein, o filme se passa num futuro onde a juventude se divide entre os civis, que procuram um futuro nas universidades, e os chamados cidadãos, que integram um exército designado para uma batalha contra insetos alienígenas do planeta Klendathu. O início mais parece um episódio da série Barrados no Baile futurista. O protagonista Johnny Rico escolhe o alistamento em nome do amor, já que sua namorada Carmen só pensa na carreira militar.

Interpretados por Casper Van Dien e Denise Richards, os protagonistas lideram um elenco fraco que fica visível em especial nos momentos “dramáticos”, onde as caretas se fazem presentes e a boa interpretação não passa nem de raspão. Tirando as declarações de amor piegas, Tropas estelares vale a sessão por suas cenas de ação, seus efeitos especiais e condução bem ritmada das batalhas entre humanos bem equipados e insetos alienígenas. Para a nova geração, acostumada a computação gráfica, alguns momentos podem parecer cômicos. Mas para quem tinha 10 anos naquele longínquo 1997 (caso desta que vos escreve), o monstro cérebro impressiona.

Tropas estelares pode até não entrar para a lista de grandes ficções científicas, mas tem o seu mérito por adaptar um livro importante sem levar tudo ao pé da letra. Verhoeven transformou a prosa abertamente militarista numa história onde a amizade conduz a batalha com mais força que as ordens dos superiores. Isso porque o protagonista já começa se alistando com a pulga atrás da orelha, vivencia mortes e torturas e cogita largar tudo em nome de uma vida mais tranquila. O que o faz voltar é a revolta provocada pela destruição de sua cidade, Buenos Aires, pelos inimigos aracnídeos gigantes. As propagandas chamando a população jovem para desfrutar as maravilhas da jornada militar, além de divertidas, foram a maneira encontrada pelo diretor para deixar clara sua oposição pela ideia central da história original, que exalta o militarismo em detrimento da democracia.

Em tempos sombrios como os que estamos vivendo em nosso país, onde existem criaturas que acreditam na volta da ditadura como solução de todos os problemas e elevam torturadores ao status de heróis, Tropas Estelares vai além do entretenimento. Monstros venenosos e assassinos são bichinhos inocentes ao lado de certos governantes do nosso planeta.

Tropas estelares (Starship Troopers)

Ano: 1997

Direção: Paul Verhoeven

Disponível em DVD e na plataforma Netflix

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