Carta ao Prefeito – por Luiz Alberto Cassol
Carta ao Exmo. Sr. Cezar Augusto Schirmer
Prefeito de Santa Maria, RS, Brasil
Assunto: Solicitação de pedido de desculpas pela tragédia na Boate Kiss
Sr. Prefeito Cezar Schirmer, aceite minhas linhas abaixo como um pedido em um desabafo. Não tenho absolutamente nada contra a sua pessoa ou sua vida pessoal, até porque sou daqueles que defende que a vida particular de cada ser humano interesse apenas a ele e as pessoas com quem ele divide seus sonhos e objetivos.
No entanto, ocupar um cargo público implica em responsabilidades, atos e decisões que emanam do posto ocupado. Portanto, no meu caso, sendo diretor de cinema, cineclubista, coordenador de um festival de cinema e já tendo sido presidente do conselho nacional de cineclubes no Brasil, diretor da Casa de Cultura de Santa Maria e do Instituto Estadual de Cinema do Rio Grande do Sul, propiciei retorno e respondo ao público pelos filmes que dirijo, curadorias que estabeleço, programações que produzo ou pelos textos e artigos que escrevo. A cada um desses trabalhos comunico-me com as pessoas e responsabilizo-me por minhas escolhas éticas, artísticas e tomadas de decisão.
Fiz essa introdução, pois tenho pleno conhecimento que isso está muito distante do cargo de um prefeito, suas responsabilidades e decisões. Mas, é exatamente por isso, como cidadão nascido em Santa Maria, que julguei grafar esta carta em 26 de janeiro de 2016. Aliás, o senhor também é nascido na mesma cidade e como conterrâneo, a partir de agora, com todo o respeito, permito-me te chamar de Schirmer.
É preciso que tu peças desculpas aos pais, familiares e sobreviventes da tragédia da Boate Kiss. Lá se foram três anos e não vi, li ou soube de um único momento em que tu tenhas tomado tal atitude.
Não entro de nenhuma forma no terreno jurídico. Não falo sobre teus pares ou funcionários da Prefeitura. Até me questiono sobre o fato de não teres refutado quando do processo estabelecido contra os pais. Seria isso mesmo crível? Como houve tamanha inversão de valores?
Todavia, esse não é um texto onde me remeto a qualquer outra esfera pública. Quero discorrer sobre respeito e dignidade com o outro. Fico em tua pessoa pública. E, nesse caso, no momento mais impiedoso que uma mãe e um pai podem passar, a perda de um filho.
Schirmer, foram 242 mortes e mais de 600 sobreviventes numa tragédia que aconteceu enquanto tu és prefeito da cidade que testemunhou a noite mais desgraçada de seus cento e cinquenta e sete anos de emancipação política-administrativa.
Na próxima quarta-feira serão exatos três anos. É preciso que tu tenhas coragem e finalmente peças desculpas por tudo. És o Prefeito Municipal. Deves isso aos cidadãos de Santa Maria e, acima de tudo, a essas famílias que tiveram seus futuros ceifados.
Será que nesse tempo não vistes pais ajoelhados desenhando corpos no chão em memória a seus filhos, em frente ao prédio da SUCV, onde está abrigado teu gabinete? Tudo sob o olhar da Guarda Municipal. As botas da guarda contra as mãos de pais que definham sua dor.
Não vistes as mãos vermelhas que os pais, familiares e sobreviventes marcaram nas paredes desse mesmo prédio numa agonia alucinante de repulsa aos teus atos nesses três anos? Aliás, dessa mesma edificação tu podes ver a tenda da vigília que os pais montaram para homenagear seus filhos. Como agentes municipais foram até lá para tentar retirar esse local de tributo ao amor e a saudade?
Me digas quantas vezes fostes até a tenda e ouviu um pouco dos pais? Quantas pais abraçastes? Não falo em tapinha nas costas, tampouco de um aperto de mão miúdo como quem já sai sem nunca realmente ter chegado. Digo de um abraço fraterno e apertado. Refiro-me a tentar uma vez entender o que realmente esses pais heróis desejam saber. “O que aconteceu com nossos filhos?” “Como deixaram isso ocorrer?”
Será que isso não te entristece, não te estremece? Não te faz querer que a cidade que está sob a tua tutela tente encontrar as causas para tamanha tragédia? Não consigo entender a tua motivação para não te aliares a esses pais na busca de respostas.
Aconteceu na cidade que administras, então por qual motivo não fizestes uma grande mobilização para Santa Maria tornar-se a capital da prevenção? Por que razão não destes tantas quantas fossem as entrevistas necessárias em solidariedade aos pais, familiares e sobreviventes?
É surreal o que fazes ao negar estar lado a lado com esses pais.
Seria íntegro que, nesse 27 de janeiro, colocasses uma faixa em frente ao prédio da SUCV com o dizer: EU PEÇO DESCULPAS PELA TRAGÉDIA. ASSINADO: O PREFEITO DE SANTA MARIA.
Essa seria uma atitude digna de alguém que ocupa o maior posto de sua comuna. Fostes eleito para governar para toda uma coletividade. Seja os que nela nasceram e habitam ou os que nela vieram viver ou conhecer. Ao contrário disso, te ouço tergiversar sobre o assunto. Não queres responsabilidade sobre nada. Como assim? Que cargo ocupas? A quem representas?
Portanto, meu caro Schirmer, de uma vez por todas, encaras de frente os teus compromissos com Santa Maria. Abraça os pais. Dê-lhes uma resposta. Não fuja de teus cidadãos.
A história será implacável ao relatar o que não fizestes. Então, faça!
Luiz Alberto Cassol
Cineasta e Cineclubista
Diretor, com Paulo Nascimento, do documentário Janeiro 27
pq nao uma carta de solidariedade aos pais ao inves de bater na mesma tecla de culpar uma pessoa . se e pre acusar entao vamos acusar a tds as esferas de governo essa carta me parece de alguem q tem algo pessoal contra o prefeito .minha opiniao !! ah quero deixar um grande abraço a tds familares e sobreviventes da tragedia pq minhas oraçoes ja foram feitas com muito amor pq e isso q o mundo precisa menos pessoas querendo aparecer !!!!
Essa carta poderia ser dirigida também ao MP estadual (que não representou pelo fechamento da boate) e para o ex – governador,Tarso, que sucateou os bombeiros e manteve apenas cinco plantonistas destreinados no plantão daquele dia. … Também para a Presidente da República manteve o SUS caótico sem possuir o coquetel anti cianeto!
Luiz Alberto Cassol,
O senhor também é nascido na mesma cidade que eu e como conterrâneo e amigo com todo o meu respeito e admiração por você, permito-me te chamar de Cassol.
Cassol meu querido e bom amigo do fundo do meu coração MEUS PARABÉNS por cada palavra colocada nesta carta.
O dia que o Schirmer se cercar de pessoas descentes ela agirá com decência.
Novamente meu bom amigo MEUS PARABÉNS.
Só existe um modo de vencermos a barreira do mêdo, é através do Amor. Tudo que Santa Maria gostaria era desse abraço fraterno de suas autoridades. De mãos dadas, de coração aberto. A morte destes jovens não teria sido em vão. Sinto muito.
Muito bom o texto no que tange a responsabilidade que o cargo impõe. Questiono, porém, se de alguma forma alguém deixou de criticá-lo, ofendê-lo e insultá-lo para que assim, por algum segundo, o prefeito sentisse o mínimo de conforto e segurança para comprarecer à tenda sem ser esculachado e linchado pela comunidade.
Orgulhoso, soberbo, arrogante é o que define nosso inapto governante. Custo a crer que ele vá fazer isso.
Cassol,a tua carta diz o que está no pensamento de muitos santa-marienses. Sabemos que no processo kiss está faltando alguém que se esconde no silêncio e na indiferença.
Uma palavra da autoridade maior da cidade seria uma mostra de solidariedade aos familiares das 242 vítimas e teria respaldo da comunidade.
Schirmer, Tarso e Dilma peçam desculpas para o povo de Santa Maria, Rio Grande do Sul e ao Brasil.
Reflitam sobre a responsabilidade de vossos comandados, fiscais, bombeiros, funcionários públicos municipais, estaduais e federais que deveriam ter atuado e poderiam ter evitado a tragédia.
Palavras bem colocadas, oportunas, mas que infelizmente, não irão sensibilizar o senhor prefeito, pois sua arrogância não permite…Há três anos atrás, enviei uma carta à ele,publicada pelo Diário de Santa Maria, e o resultado disso, foi mandar um assessor seu, "me convidar" para ir ao seu gabinete, para conversarmos…Um convite com tom intimatório! E diante de minha recusa, dizendo à ele, que deveria sim, era conversar com todos os familiares e sociedade em geral! Lamentavelmente, usando de suas influências, colocou na mídia, que eu estava me recusando a falar sobre o assunto com ele! E depois de tr~es anos, o que temos hoje? Lamentavelmente, nada!
Boas idéias devem ser copiadas. Escrever para Tarso e comentar sobre a situação e vistorias do corpo de Bombeiros na época da tragédia Kiss. De como o estado apoiou imediatamente após o evento.
Escrever para Dilma, que tem na sua tutela o Ministério do Trabalho que deveria ter zelado pela saúde dos trabalhadores no que é um dos maiores "acidentes" laborais do país. Cobrar da presidente da República todas suas promessas pós evento, de apoio para as famílias e sobreviventes.
Carta anda na moda, Temer fez escola
Não tenho dúvidas que ele sentirá tudo o que os familiares sentiram e sente, essa dor ele não escapa. O que ele ignora agora terá um peso que talvez ele não suporte.
Sr. Luiz Alberto não espere por isto pois a soberba não permite