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A descoberta do mundo – por Bianca Zasso

MV5BMTU4MTQ3NTAyNF5BMl5BanBnXkFtZTgwNzIxNDI0MTE@._V1__SX1217_SY647_O prêmio de melhor filme estrangeiro oferecido pela Academia americana é o sonho de muitos realizadores. Isso porque estar entre os indicados pode ser a porta de entrada para Hollywood (sonho de muitos) e também uma oportunidade de conseguir novas parcerias e patrocinadores. Sem contar que quem utiliza o Oscar como termômetro na hora de escolher o que assistir (quase como se ele fosse um tipo de selo de qualidade) acaba se interessando pela filmografia do país agraciado com o pequeno homem dourado. Nossos Hermanos argentinos viveram isso quando o elegante O segredo dos seus olhos, de Juan José Campanella, garantiu um olhar mais interessado por parte de produtores e até atores para as películas feitas em Buenos Aires e arredores. Em 2014, foi a vez dos poloneses terem seus talentos agraciados por uma pequena obra-prima.

Ida, dirigido por Pawel Pawlikowski, tem em sua protagonista um fio condutor delicado e que surpreende no decorrer da trama. A jovem noviça, criada em um convento desde a infância, está prestes a fazer seus votos e dedicar a vida à Deus. Antes disso, precisa de um encontro com seu passado para ter certeza de sua decisão. O passado de Ida se resume a sua tia Wanda, uma juíza mais interessada em doses de uísque que processos. Logo no primeiro encontro, Ida, que até então pensava se chamar Anna, descobre sua origem judia e o misterioso assassinato de seus pais. É dada a largada para que tia e sobrinha busquem respostas. A questão do paradeiro da família vai, aos poucos, ficando em segundo plano. Ida quer a descoberta do mundo, antes de qualquer informação sobre pai e mãe. Os desejos, as provocações de Wanda, o saxofonista que chama seu olhar entre uma prece e outra. As tentações são muitas e é preciso se conter. Ou se entregar.

A história é simples, mas os planos são intensos. O preto e branco de sua fotografia é primoroso. A câmera parada mirando uma ação quase imperceptível foi a escolha perfeita para falar de uma garota cujo mundo, até então, era monótono e baseado em regras que ela não via porque questionar. Aos poucos, os quadros propostos por Pawlikowski vão dando lugar ao balanço do carro, o pra lá e pra cá na cama em busca de sono e os rodopios dos pecadores no salão de festas do hotel. Algo se moveu dentro de Ida e não vai voltar mais a sua posição inicial. A bela Agata Trzebuchowska, que interpreta Ida, consegue mostrar esses pequenos rompimentos da protagonista apenas com olhares e gestos sutis. Poucos diálogos para uma moça que sabe que tem muito a dizer, mas está em busca das frases certas.

Ida caiu nas graças da Academia muito por sua estética caprichada e melancólica. As paredes quase nuas mostradas no filme não são nada comuns na Hollywood que adora estampas, referências e cores. Mas o que faz de Ida um candidato a clássico é a sua delicadeza ao falar de algo tão arrebatador e que marca a vida de todos nós, humanos de fé ou não: a descoberta do mundo.
Ida

Ano: 2014
Direção: Pawel Pawlikowski
Disponível em DVD, Blu-Ray e na plataforma Netflix

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