JORNALISMO. Santa Maria, cidade de intocáveis (3). E tem também o dilema: ser “traidor” ou um “petista”
Agora, chegamos ao terceiro texto. Nos dois anteriores, tratamos das premissas e de exemplos na área da cultura. Alguém haverá de lembrar de outros, em setores diversos, como noutros campos das artes, entre os quais a literatura e a música. Ou, então, na área econômica, por exemplo. Mesmo aqui, pode apostar, pressões de anunciantes, embora existam, são pontuais – e sobre a mídia tradicional – e não tão corriqueiros. Ao contrário das artes. E, especialmente, da política. Nessas duas, falar ou qualquer coisa pode ser muuuito perigoso.
Santa Maria é uma maravilhosa grande/média/pequena comuna. É isso mesmo. Ao mesmo tempo em que é grande, para os padrões normais, é média e, sobretudo, pequena – pela incrível teia de relações construídas ao longo da história. Assim, se o editor escrever, por exemplo, e ele não deverá (espero) ficar brabo com a citação, sobre o trabalho do colaborador do sítio, o publicitário e designer Luciano Ribas, estará tudo bem se for a favor.
Quer dizer, mais ou menos. Haverá a lisonja dos amigos dele. Mas a brabeza dos que com ele não concordam. E estes telefonarão ao editor. Ou enviarão mensagens. Ou, pior, falarão mal a um amigo do amigo de outro amigo do profissional – que, ao fim, receberá o recado. Normalmente, inclusive, distorcido.
Foi assim no início deste fevereiro (leia o texto inicial e entenderá). Ligou o amigo do amigo. Depois ligou a amiga do amigo. Em seguida, um amigo (real) do editor, contando o que havia ouvido. Em seguida, uma parceira do parceiro da parceira do parceiro. De maneira que, ao mesmo tempo em que a audiência explodia (porque se tratava de jornalismo, afinal), criou-se uma rede sem fio. Que atingiu o editor no que ele tem de mais caro. E que, creia, não é dinheiro.
Mas, o que esperar, afinal (e essa é a tese central), de uma cidade de intocáveis?
Retomando os exemplos.
Havia um colunista político e, digamos, social da cidade que fazia muito sucesso, até o início dos 80. Nada contra ele, aliás uma boníssima pessoa. Mas era um anódino. Capaz de elogiar contrários. Sem avaliar contrapontos, uma base do jornalismo. Talvez, inclusive, porque ele não era jornalista.
Com o editor deste sítio, esse tipo de trabalho inexiste. Aqui se analisa, avalia e publica. Sem imparcialidade, que este é um mito cultivado exatamente por quem é… parcial. Mas com honestidade profissional. Até mesmo a questão da independência é irrelevante, embora também exista. Honestidade profissional, sim. É o que garante a credibilidade duramente conquistada. E que até impediu alguns passos específicos.
Um apenas, para constar. Em dois governos municipais diferentes, o editor foi convidado para virar secretário. Sim, esse mesmo cargo que tantos ambicionam e para o qual muitos inclusive promovem ridículos do tipo pedir uma carta de indicação de um general. Aliás, quem noticiou isso? Diga-se, o único. Sim, esse mesmo que você está pensando.
Pois o editor recusou ambos. Não porque desdenhasse das funções, por sinal bastante interessantes. Apenas as considerou incompatíveis ao seu próprio trabalho. Não cabe defender a dois senhores, é algo que aprendeu. E não desaprendeu. Dêem uma olhada na mídia local. E entenderão.
Agora, a intocabilidade. Que é incentivada pela patrulha. Que vem de todos os lados. É a história do amigo do amigo… etc… de que escrevi mais acima.
Assim que, ao longo dos últimos 30 anos, este jornalista enfrentou algumas paradas. E nem vou falar aqui daquele político que espalhou sua vontade de “matar” o colunista e blogueiro. Há quem jure tê-lo visto com um revólver no calçadão. Por precaução, e em proteção aos meus, por um tempo não apareci com a família em locais públicos.
Mas não me submeti, profissionalmente, a nenhuma dessas patrulhas. Me orgulho disso. Vamos a três fatos.
1) Ao assumir precocemente (hoje, as redações estão cheias de jovens bem jovens, muito diferente do início dos 80’s), o diretor Luizinho de Grandi decidiu colocar aquele guri que fazia o noticiário esportivo no principal cargo da redação de A Razão. Logo aquele esquerdista que havia feito um discurso dizendo que os jornalistas ganhavam muito mal, na formatura recém-realizada, lá pelo fim de 83, início de 84. Resultado: os conservadores (pra não dizer Direita) ficaram furibundos. E os progressistas (pra não dizer Esquerda) não escondiam a desconfiança. “Será que ele não nos traiu?”, pensavam. E alguns até diziam.
Bueno, quando percebi que isso seria uma constante, coloquei a preocupação de lado. E procurei aquilo a que sempre me propus: ser profissional. E honesto. E ainda por cima apoiado pelo conservador nas ideias mas maravilhoso nas atitudes, Luizinho de Grandi. Que, quando morreu, jamais esqueci, ouvi, caminhando pela Tuiuti, o Chico Menino (onde andará essa criatura dos 70’s): “a morte do Luizinho é uma perda irreparável. Ele era de direita, mas tinha um coração de esquerda”. Pois é.
2) Nos dois mandatos de Valdeci Oliveira (PT), não foram poucas as vezes que o prefeito era criticado pelo editor, tanto na coluna do jornal quanto aqui no site. E as seções “Não custa lembrar” trazem esses textos, não raro. Pois bem, na nossa cultura grenalizada até na política, os petistas chamavam o jornalista de “traidor” de suas origens. E os peemedebistas viam, seeeempre, uma “proteção” ao “companheiro”. Fazer o quê? Ora, ignorar.
3) Faz quatro anos que Cezar Schirmer é prefeito. Agora, inverteu. As críticas ao prefeito (praticamente inexistentes na mídia tradicional, digo isso com todo o respeito) tornaram o profissional “um petista”. Já a patrulha do outro lado, não é raro, reclama de tal ou qual assunto, que não foi tratado. Ou foi tratado “inadequadamente”. Aliás, quem lê os comentários do sítio, invariavelmente encontra chineladas no editor. Que as publica todas, desde que não contenham ofensa pessoal. Aliás, onde mais esse livre exercício de opinião é assim tão livre? Deixa pra lá…
(No texto final, a ser postado logo em seguida, você entenderá as razões recentes. E as providências tomadas pelo editor)
Dito e redito, estou contigo, sejas critico, sejas imparcial e sempre serás grande….
Caro amigo Claudemir, para dar o tom do meu comentário vou buscar as palavras do Grande Millôr Fernandes quando ele dizia/escrevia: ” Imprensa é oposição o resto é armazem de secos e molhados”.
O tempo passou, e rápido, e a nossa “grande” imprensa
virou um grande armazem de secos e molhados.
Os contra ou os a favor viram traidores ou aduladores.
Nos resta por em prática os ensinamentos dos velhos mestres do jornalismo e ser imparciais.
Agora ser imparcial hoje em dia, como dói.
Claudemir, pode falar mal, juro que não ficarei bravo!