Santa Maria

CRÔNICA. Orlando Fonseca e os 222 anos de SM

Memória ativa

Por ORLANDO FONSECA (*)

Em 1914, um grupo de santa-marienses, orgulhosos de sua comunidade, organizaram-se para celebrar o que eles consideravam o Primeiro Centenário de Santa Maria. Sem considerar os trâmites políticos e legais, próprios da formação dos municípios, nossos conterrâneos tomavam como ponto de partida uma data relacionada à organização religiosa, que, no regime imperial, confundia-se com as questões políticas, ou de Estado. Em julho de 1812, a Capella de Santa Maria, por decreto real, foi emancipada de Cachoeira do Sul. Dois anos depois, assumiu um Cura, o que lhe deu o status de Capela Curada, motivo das comemorações cem anos depois.

Aquele, no entanto, não se constituiu como marco definitivo da formação do Município, pois em 1958, regatando a ordenação legal do processo político, os santa-marienses comemoraram novamente um Centenário, que daí para frente passou a ser a data de nascimento da cidade, contada a partir da sua emancipação, em 1858. As festividades de 1914, registradas em uma publicação ilustrada, passaram a ser chamadas de “o falso centenário”. Muitos dos nomes ilustres que aparecem na Revista, hoje são designações de ruas, em homenagem ao que fizeram pela cidade, para além de seu afeto e preocupação demonstrada em festejar o seu crescimento, como se pode ler no referido almanaque.

Por essa razão é que, no dia 17 de maio, não comemoramos os 205 anos de Santa Maria. Entretanto, há quem queira, em verdade, recuar ainda mais a data de nascimento. E com certa razão, pois os primeiros registros de uma formação populacional datam do final do século XVIII. Como se sabe, a Comissão demarcadora do Tratado de Santo Ildefonso (1777), armou um acampamento por aqui, em 1797, deixando como marca de sua passagem uma das principais vias centrais de nossa cidade. E não apenas isso, também uma pequena Capela, onde hoje temos a Praça Saldanha Marinho, o que atraiu pessoas para as proximidades, a fim de celebrarem a sua fé. Os militares da Comissão se retiraram, mas os fiéis permaneceram, mantendo o nome do lugar, referido àquele rústico templo dedicado a Santa Maria. Por esta datação, estaríamos algo em torno de 222 anos.

Pelo que se vê, nossa cidade teve origens que a definem como centro comunitário. Uma comissão formada por militares e uma capela que atraiu devotos. Depois veio a ferrovia, os ferroviários, os passageiros, implantaram-se oficinas, erigiu-se uma Gare movimentada, uma vila, uma cooperativa (a maior da América Latina), escolas. Com o fim desse ciclo, veio a primeira universidade federal do interior do país, vieram os estudantes, os livros, a cultura, outras instituições de ensino superior, a maior rede de ensino público do interior.

Embora estes movimentos históricos tenham dado à cidade, no coração do Rio Grande, um caráter de “lugar de passagem”, em que visitantes ou mesmo residentes tenham a “sua cidade” em outro ponto do Estado, ou do País, é preciso afirmar, todo dia, a ideia de pertencimento, de construir a autoestima cidadã. E uma das formas mais significativas é mantendo o registro de sua constituição como lugar de morada. Os prédios, os monumentos, os registros impressos e fotográficos, o trabalho de gente que, como os organizadores do “falso centenário”, têm projeto para a cidade, porque querem vê-la crescer. Por esta razão é que um grupo de santa-marienses apaixonados por Santa Maria, lançará oficialmente o Coletivo Memória Ativa, e divulgará a sua marca, em defesa do patrimônio cultural de nossa cidade. O evento será na próxima sexta-feira, dia 24, no Casarão da TV OVO. O propósito desse Coletivo é sensibilizar a cidade para o valor de preservar a sua identidade, material e imaterial, consignada em suas construções e produções culturais.

(*) ORLANDO FONSECA é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

OBSERVAÇÃO: a imagem que ilustra esta matéria foi postada pelo historiador José Antonio Brenner, no Facebook, na sexta-feira (17).

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