Análise. Agora, é o governo que tem pressa. O resto é apenas exercício de retórica de Lula
A verdade é essa: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já atrasou mais que o suficiente, para o nível de tolerância política brasileiro, a formação do ministério para o segundo mandato. Este, aliás, na prática não começa, se todas as peças não forem devidamente encaixadas, cada uma em seu lugar.
Mais que isso: embora Lula diga que quem define o tempo de divulgação e nomeação é dele (o que é uma verdade tão óbvia que não mereceria ser afirmada pelo próprio), o fato é que a segunda parte de seu governo de oito anos, referendada pelas urnas, se começou, o fez mal. Tanto que há projetos que já se paralisam nas gavetas de ministros cuja titularidade é desconhecida. Logo…
Então, é iminente definição da totalidade do grupo de assessores do primeiro escalão (e quem sabe também do segundo), para que a administração federal tome seu rumo. Se bom ou ruim, ao longo dele será possível avaliar – pelos governistas e, como não poderia ser diferente, pela oposição.
Vai nesse rumo a reportagem, publicada antes do encontros previstos para esta quarta-feira entre o Presidente e as lideranças dos principais partidos da coalizão, PT e PMDB. Quem a assina é Nelson Breve (com a colaboração de Maurício Hashizume), da agência Carta Maior. E é o texto que passo a reproduzir:
Presidente inicia mudanças com o objetivo de “virar a página”
A avaliação do núcleo que assessora Lula, com a qual ele concorda, é que fechar logo a chamada reforma ministerial passou a ser uma necessidade e não mais apenas uma formalidade. No entanto, imposições são repelidas pelo presidente.
O presidente Lula diz que o tempo de fazer as mudanças nos ministérios é dele. Pode ser nesta semana, pode ser na outra. Ele tenta tirar a ansiedade em torno do assunto, mas a realidade é que o governo tem pressa de resolver a questão. A avaliação do núcleo central que assessora o presidente, com a qual ele concorda, é que fechar logo a chamada reforma ministerial passou a ser uma necessidade e não mais apenas uma formalidade.
Embora tente aparentar o contrário, a percepção do presidente é que ele não conseguirá o objetivo de virar a página do primeiro mandato enquanto não tiver dado posse à equipe que irá compor a nova cara do governo Lula. E enquanto não vira a página a máquina administrativa não anda, os novos projetos não saem, a sociedade não confia no discurso de que daqui para frente muita coisa vai ser diferente.
A principal mudança que terá de ser assimilada pela nova equipe é que não é o governo que dará o rumo ao presidente e sim o presidente quem dará rumo ao governo. Nesse sentido, é temerário para qualquer agrupamento político tentar emparedar Lula logo de cara. Exigindo ministérios, por exemplo. O presidente não pretende desconsiderar as sugestões e advertências das lideranças dos partidos aliados. Mas não aceitará imposições.
Como, aliás, é da sua personalidade. Ele rejeitou imposições mesmo nos momentos mais difíceis do primeiro mandato. Quando Severino Cavalcanti, eleito presidente da Câmara, cobrava a nomeação de um indicado de seu partido, o PP, não apenas para um ministério importante, mas também para a diretoria da Petrobrás que fura poço.
Por causa desse temperamento, o momento mais crítico para a conclusão da reforma será a negociação com o PMDB. As especulações em torno da reforma ministerial acabaram criando uma grande expectativa sobre a bancada da Câmara. Como diz o ex-presidente do partido Jader Barbalho (PA), lá tem uns 20 candidatos a ministro e uns 60 candidatos a indicar presidentes e diretores de empresas estatais, bancos oficiais e autarquias.
Haverá uma grande frustração se o presidente do partido, Michel Temer (SP), obtiver do presidente Lula apenas a confirmação de um ministro indicado pela bancada de deputados: Geddel Vieira Lima (BA), para a Integração Nacional. O líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), disse que sua bancada não aceita apadrinhar José Gomes Temporão para ministro da Saúde. Lula gosta dele e sua nomeação é dada como 99,9% certa no Palácio do Planalto. Entraria na cota peemedebista do governador do Rio, Sergio Cabral.
No início do primeiro mandato, esse tipo de relacionamento não deu certo. Lula queria que o PMDB acolhesse o economista Carlos Lessa (RJ) como representante do partido no Ministério do Planejamento e o senador Pedro Simon (RS) no Ministério das Minas e Energia. Os caciques peemedebistas não aceitaram e a adesão do partido ao governo transformou-se em uma novela, que ainda não acabou…
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