A multi-mulher – por Carine Prevedello
Pela segunda semana consecutiva, atrapalho-me com o prazo em que estou comprometida com o Claudemir. E buscando as razões pelas quais seja possível justificar essa falta, não encontro outra explicação que não seja um tema sobre o qual venho refletindo há algum tempo: a multi-funcionalidade de que está ocupada a mulher na vida contemporânea, uma condição que aqui denominarei como a multi-mulher, tentando defini-la.
Inicialmente, preciso defender o absoluto reconhecimento de que não imagino a situação feminina em oposição à independência, seja ela mental, espiritual, financeira ou profissional. Não há nenhuma razão para que sequer se cogitem as vantagens de uma época – não muito distante – em que ser mulher significava subjugar-se. Isso não impede, de outra forma, que precisemos reconhecer a evidência de uma imposição cultural que ainda nos faz (as mulheres) reféns de série de condicionamentos. E que dão margem – pelo menos por enquanto – ao que vou chamar de espaço de transição para a independência de fato. Talvez minhas filhas experimentem isso. E já me darei por vencedora se isso acontecer.
Explico. O espaço de transição está situado numa faixa em que, conquistados uma série de objetivos, ainda resiste uma condição cultural que impõe à mulher a responsabilidade principal sobre os filhos e a vida doméstica. Mais do que isso, acredito que exista uma propriedade genética, provavelmente instintiva – embora isso também esteja em processo de evolução – que nos relaciona à vigilância emocional permanente sobre a prole e a manutenção de estrutura familiar. Aquele sexto sentido apurado para todas as emergências, desde que o bebê nasce, e que permanece latente a milhares de quilômetros de distância, ainda que toda a super e infra-estrutura tenha sido providenciada.
Quero dizer com isso que hoje a mulher pode ter a profissão que quiser, pode escolher todos os relacionamentos afetivos que puder experimentar, pode ser financeiramente melhor sucedida do que seu companheiro, pode atuar em várias frentes, mas – se for mãe – esta será sempre a sua preocupação e o seu investimento potencial. E a dificuldade está no fato de que é mãe, é a gerente operacional da casa (por mais que delegue funções), é profissional – para o que tem de estar buscando atualização constante -, é mulher – em torno do que persegue um modelo de beleza e de relações inacessíveis – e é um ser humano, uma personalidade com potencialidades e desejos individuais.
Finalmente, mesmo sem querer encerrar (essa é uma discussão interminável), é preciso reconhecer que – embora seja multi – a mulher tem encontrado um apoio considerável no desenvolvimento da dimensão feminina do homem. Guardadas as proporções culturais e sociais, certamente os companheiros e pais de hoje são incrivelmente mais envolvidos com os cuidados com os filhos e com as responsabilidades domésticas. E freqüentemente por opção e prazer. Tenho em casa o exemplo tanto do meu pai – já em uma geração anterior – quanto do meu marido, ambos com uma dedicação impressionante à família. É preciso aqui discutir se há condição de gênero para a responsabilidade com a família. Muitos dirão que é cultural. Talvez exista ainda a comprovação genética. O fato é que há um espaço de transição em que a mulher assumiu sim uma multi-funcionalidade, em que pode ocupar-se de milhares de coisas e funções, mas que não diminuiu a sua centralidade na vida familiar. Há mudanças, sim, e muitas. Há diversidade de opções, sim, e muitas. Tudo isso é evolução, mudança do paradigma social, cultural e mesmo do condicionamento genético, que evolui com as mudanças de comportamento.
E por mais que isso signifique evolução, não quer dizer que eu considere a maternidade ou a vida doméstica um fardo a ser sublimado pelas mulheres. Pelo contrário, e aqueles que convivem comigo sabem da identificação e do amor que me unem à Ana Clara e a Bibiana, ambas vindas em situações totalmente diversas, mas ambas amadas, cuidadas e orientadas para a independência e a autonomia. Mulheres do seu tempo, que serão. Talvez um tempo em que possamos fazer menos opções – não por tanta coisa ao mesmo tempo – e que talvez por isso possamos fazer melhor aquilo que escolhermos. E aí talvez tenhamos tempo até para escrever e entregar no prazo combinado!
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