Vamos por mas – por Carlos Dominguez
Futuro. Que futuro? Decisões e relações. Um diretor de uma pequena escola estadual no interior do Rio Grande do Sul foi acusado de corrupção de menores por oferecer dinheiro aos alunos para votarem nele nas eleições. Caso de polícia. O cinquentenário professor há 18 anos era diretor da escola e além do mal hábito de fumar o dia todo dentro da escola era negligente e não permitia que o colégio evoluisse para reter os jovens da comunidade no local e lhes assegurar um futuro digno. Ignorante, o diretor foi flagrado com câmeras de audio e vídeo de celulares. Resultado: além de responder a um possível processo criminal a escola deverá ser fechada. Que futuro terá uma comunidade sem escola? Favelização. O rosto ignóbil do diretor é o elo perdido da corrupção. Corrompe crianças ensinando que é bom vender o voto. Corrompe a instituição escolar ao desestruturar o grupo de professores. Corrompe o futuro ao privar os jovens de valores morais um pouco mais corretos socialmente do que o benefício próprio.
Mil e duzentos quilômetros de Frederico Westphalen (RS), cenário do caso de corrupção de menores, está Montevidéu, capital do país e quase uma cidade estado cercada de um lado pelo mar e do outro pelo mar pampeano de verdes infindáveis. O Uruguay terá até o fim do mês de novembro escolhido seu novo presidente. Bueno. E daí?
Caminhe pelas ruas de Montevidéu. Mergulhe incógnito na população da cidade. Converse com as pessoas. E você saberá o que é ter uma boa educação. No pequeno país, do tamanho do Rio Grande do Sul, com uma população de 2,5 milhões de habitantes o ensino sempre atingiu a quase totalidade dos moradores. Ao cruzar o país e nas pequenas e escassas cidades lá estão as escolinhas rurais e municipais. Quase não existem analfabetos. Resultado disso: uma grande consciência crítica e política da sua própria realidade.
Claro que não é tudo maravilha. No nosso vizinho mais próximo existe pobreza e miséria. Mas mesmo na ausência de bens materiais existe uma escola por perto. A primeira consequência é o nível da política, espelho fiel da sociedade que a gera como sistema de governo. Se no Brasil há péssimos políticos é porque temos péssimos cidadãos a quem a classe governante prefere burra e alienada. Como no caso da escola em Frederico Westphalen. Uma escola que ensina a vender o voto desde cedo.
Os uruguaios vivem o seu primeiro governo de esquerda com o médico Tabaré Vasquez, presidente eleito por uma ampla coalização de partidos de esquerda chamada Frente Ampla. Concorre a sua sucessão Pepe Mujica, ex-guerrilheiro e um líder popular e carismático que abocanhou o primeiro turno com mais de 48% dos votos. Disputará com ele o candidato de direita, Lacalle, ex-presidente da República que contará com o apoio do terceiro colocado Pedro Balaberry, do tradicional Partido Colorado e filho de um ditador.
O Brasil, como de costume, em sua grandeza continental, praticamente ignora o pequeno país. O Rio Grande do Sul, estado vizinho e de terras e cultura contígua ao Uruguai mal acompanha a disputa. Por que, me indago? Talvez levados por um tradicionalismo doentio que nos afasta dos países do prata ao propor um modelo puro de gauchismo, irreal e artificial. Talvez por que tenhamos vergonha de ver um país tão pequeno e com um povo tão bem educado. Queremos apenas, em uma mal contida euforia consumista, invadir os free-shoppings da fronteira onde o nosso minguado dinheiro parece valer. E depois voltar para o nosso amado Brasil arrotando superioridade. Meu deus, como somos idiotas.
Uma vez o Rio Grande do Sul foi exemplo em educação para o Brasil. Faz tempo que isso não é mais verdade. Quando você anda por Porto Alegre, Caxias, Rio Grande, Pelotas e Santa Maria o que se vê é gente medrosa. Tente parar um estranho e conversar com ele. Mas cuidado, pois podem pensar que é assalto. Se alguém lhe pede dinheiro na rua, em nossas fabulosas metrópoles, o que você faz? Vira a cara e sai fora, na maioria das vezes. Nunca ficaria quase meia hora conversando sobre o futuro da política na América Latina e qual o papel do Brasil enquanto potência mundial. Não, não. Certo devemos ser nós com nossas fábricas de pequenos corruptos em idade escolar. Cosa mui mala.
Carlos Dominguez – Jornalista
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