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Coisas de criança – por Daiani Ferrari

Quando era pequena, a ideia de um adulto perfeito era ser casado, ter um ou dois filhos, um emprego, não um que rendesse muito, financeiramente falando, mas um que não levasse trabalho ou problemas para casa. Essa semana quando pedi para sair do lugar onde estava trabalhando talvez tivesse tido uma ponta de arrependimento, mas arrependimento por estar destruindo aquela ideia de que quando se é grande é preciso ter as coisas bem determinadas – casa, emprego e família. A ideia de criança.

Mas tive uma luz que me fez ficar sem esse sentimento que na verdade nem sabia o que era. Minha mãe, há 20 anos trabalhando na prefeitura de São Borja, manhã e tarde, trocou também (não por vontade própria), e nas tardes agora vai para a Coordenadoria Regional de Educação daquela cidade. Ela também não está gostando do trabalho, assim como eu não estava. Ela não tem pique para isso, assim como eu não tenho para jornal impresso, talvez pelo fato de em mim estarem impregnados os vícios de uma assessoria de imprensa ou essa ser realmente minha vocação.

Confesso, tenho dificuldade de lidar com as pessoas, chego a ter vergonha de ligar todos os dias para a mesma pessoa, querendo sempre saber a mesma coisa. Foi por isso que “pedi para sair”. Eu era praticamente o 02 do filme Tropa de Elite. “Tá com medinho, pede pra sair, 02”. E foi o que fiz. Saí.

Mas o que minha mãe me disse me fez um bem tremendo, porque na minha cabeça vinha também um certo sentimento de egoísmo, de estar menosprezando emprego, numa época em que eles estão raros, em um mercado de comunicação de certa forma pequeno, como o de Santa Maria. Meu problema de consciência era também pelo fato de ser uma pessoa otimista. Não pensei, em momento algum, que pudesse ficar eternamente sem emprego ou ficar um longo tempo buscando uma colocação. Não. Penso que o desemprego é sempre algo passageiro, que para quem realmente quer trabalhar, as oportunidades aparecem.

Quando optei pela troca, lembro exatamente minhas palavras. “Estou indo pela experiência, pois jornal impresso é algo que nunca tive. Se não der certo, sou uma guria nova e me recupero”. Bom, não deu certo, mas a experiência foi deveras valiosa. Que eu tenha sempre essa percepção da minha mãe, de que as mudanças vêm em qualquer idade e quando chegam não destroem os sonhos da criança que ficou lá atrás. Tenho quase 30 anos, não tenho emprego, tampouco filhos, apenas um cachorro, e sou casada de fato e não de direito. Mas acho que estou no caminho certo para a felicidade.

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