Segurança

DO DANTRO. Leitor do sítio e a questão das drogas, vistas à distância de um oceano

Antigo leitor deste sítio, e eventual colaborador, o cientista social Dantro Guevedo, vivendo (temporariamente) na Europa, mais exatamente em Dublin, na Irlanda, envia interessante colaboração. O tema principal é a droga – mas há outras questões subjacentes, também colocadas. Imagino que valha a pena a leitura. Afinal, é um olhar de fora, e que pode ajudar no debate. Confira:

“Prefiro pagar impostos ao invés de pagar com vidas

Dias atrás, conversando com uma senhora amiga de minha família, ouvi a seguinte afirmação. “Eu não sou assassina, eu apenas fumo cigarros! Não quero mais ser responsável por mortes no fim da fila. Consumir maconha não é errado, não me torna uma pessoa pior ou melhor, é apenas um costume prazeroso, praticado naturalmente por centenas de milhares de pessoas em todo o mundo diariamente, até mesmo distribuída gratuitamente em hospitais de Jerusalém (a Terra Santa) onde essa não é mais uma questão de polícia mas de saúde pública. Erradas são as leis que não tornaram esse produto, mundialmente consumido, em um objeto de consumo do qual seja cobrado imposto. Pois no momento em que é cobrado o imposto, e esse é revertido para educação, saúde, segurança ou infra-estrutura, já passa a ser um comércio legal que pode ser mais facilmente fiscalizado e controlado pelo Estado. Por isso, e se tivesse a oportunidade, iria pedir aos políticos, sem hipocrisia, – por favor – que cobrem impostos da maconha, afinal de contas é preferível pagar esse preço a ver um número cada vez maior de crianças e adolescentes tendo as vidas ceifadas pela guerra entre policiais e traficantes. Ou seja, como já dizia Montesquieu não são os costumes que devem se adaptar às leis, mas sim as leis que devem se adaptar aos costumes”.

Opiniões como a dessa senhora refletem o principal problema da história recente do Brasil. Dia após dia, filhos dessa pátria perdem a vida em uma guerra sem sentido, na qual ninguém mais sabe quem é o bandido e quem é o mocinho. História essa muito parecida com aquela que aconteceu nos Estados Unidos da América com o surgimento da chamada “Lei Seca” na década de 20, que proibia a venda, o transporte e consumo de álcool naquele país, considerando bebidas alcoólicas como drogas tão prejudiciais quanto o tabaco, a maconha ou a cocaína. Naquele período surgiram grandes quadrilhas e nomes que ficaram na história do cinema, como Al Capone. E no fim a solução encontrada, cujos resultados já conhecemos, foi pela liberação do consumo com regras e restrições. Pronto, o Estado passou a ganhar com recursos, não abrindo mão dessa importante fonte de receitas, e a população presenciou a diminuição de diversos grupos da máfia e de policiais corruptos, além de experimentar a um estado de ordem proveniente do direito de livre escolha.

A violência é hoje o maior pesadelo dos brasileiros, concentrada em guetos e favelas, ela torna nosso país universalmente conhecido como um lugar de pobreza, dor, desespero, insegurança, desrespeito pela vida e caos. Mas afinal de contas será que nós queremos mesmo acabar com a violência? Todos já sabemos que as favelas são perigosas porque abrigam muitas armas, em numero superior e muito mais sofisticas do que aquelas que estão em posse do Estado. São essas armas que atraem a policia e fazem das favelas locais de batalhas sangrentas. Entretanto, todos já conhecemos os efeitos positivos de políticas de regulação do consumo de algumas drogas, a exemplo da cerveja nos EUA. Então porque não passamos para a etapa seguinte e agimos sobre as causas dessas mortes? Sem o dinheiro do tráfico, assim como ocorreu nos EUA, não há meios de comprar tamanha munição, e por fim, não haverá mais esse número doloroso e maluco de conflitos e balas perdidas. Poderemos, quem sabe, dizer em 2016 que o Rio de Janeiro foi um lugar perigoso, e melhorou muito com a extinção daquela “lei seca e obsoleta”.

Sabemos também que os políticos brasileiros não são pessoas de coragem e de palavra firmada ao se tratar de temas polêmicos como a maconha, por isso o melhor mesmo seria realizar um plebiscito, e ver o que as pessoas de bem de nosso país pensam a respeito da diminuição de balas perdidas e mortes por armas de fogo usadas no tráfico de drogas. Que se pergunte a elas o que elas preferem, entre pagar impostos para fumar maconha ou pagar com as vidas de suas crianças? A preocupação deixou de ser pela legalização ou não das drogas, todos sabem que tanto tabaco quanto maconha fazem mal à saúde, a questão passou a ser minimizar os efeitos devastadores da guerra que gira em torno delas.

Dantro Guevedo – Cientista Social – Dublin (Irlanda)”

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