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CAMPO. No campus da UFSM, em Camobi, em todas as quartas-feiras, a primeira Feira orgânica de SM

Carmen Silva, representante dos agricultores orgânicos que organizam a feira. Evento acontece entre 10 da manhã e 2 da tarde, às quartas

Por BRUNA HOMRICH (texto e foto), da Assessoria de Imprensa da Seção Sindical dos Docentes

Ana Maria Primavesi é uma engenheira agrônoma austríaca que, nos anos 1960, veio lecionar, junto com o marido, no departamento de Solos da UFSM, onde desenvolveu um trabalho pioneiro na perspectiva de uma produção mais saudável e ecológica. Agora, aos 97 anos, ela dá nome à 1ª feira totalmente orgânica de Santa Maria, a Feira Ana Primavesi, sediada todas as quartas-feiras, das 10h às 14h (horário de verão), no Espaço Multiuso da UFSM.

A feira foi inaugurada no dia 27 de setembro de 2017, porém é fruto de um processo iniciado em 2014, quando um grupo de agricultores que já produziam de forma orgânica, porém comercializavam seus produtos em feiras convencionais, sentiu a necessidade de construir um espaço específico para dar visibilidade a seus produtos. Eles buscaram, então, apoio junto à universidade, e lá encontraram o professor Ascísio dos Reis Pereira, então pró-reitor adjunto de Extensão. “A ideia nasceu dos produtores. A maior dificuldade do grupo foi conseguir a certificação orgânica”, diz Pereira.

Carmen Silva, aposentada, agricultora e representante do grupo de produtores orgânicos que organiza a feira, explicou que para constituírem uma feira exclusivamente orgânica, os produtores tinham de obter uma certificação do Ministério da Agricultura. Algo como uma chancela garantidora da procedência verdadeiramente orgânica dos produtos a serem comercializados. Isso porque, diz Carmen, circulam por aí diversos produtos que, embora propagandeados como orgânicos, têm, em sua composição, agrotóxicos e métodos não sustentáveis de produção.

Contudo, a certificação para produtos orgânicos não é conquistada facilmente. Uma das possibilidades seria, conforme explica Carmen, a contratação, pelos produtores, de uma auditoria particular que visitasse as propriedades dos agricultores e concedesse a certificação. O alto valor cobrado pelas empresas que fazem esse tipo de trabalho impossibilitou que as famílias dedicadas à produção orgânica em Santa Maria pudessem efetivar a contratação.

O outro caminho para se obter a certificação de produto orgânico dá-se através de uma permissão, contida na legislação de orgânicos, para que se constituam grupos de agricultores vinculados ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

“Os produtores formam um grupo, que se constitui numa Organização de Controle Social (OCS), e esse grupo se verifica aos pares. Então eu e outros agricultores nos juntamos e vamos à propriedade de um terceiro. Lá, nós verificamos como é o processo naquela propriedade, o que está sendo usado, como estão sendo feitos os manejos [dentre outras questões]. Se o agricultor cumprir com os requisitos, ele está encaminhando seus produtos para a produção orgânica. Depois, esse mesmo grupo visita outra propriedade”, explica Carmen.

E foi esse o caminho escolhido para a obtenção da certificação de orgânico pelos produtores da Feira Ana Primavesi. As visitas às propriedades foram realizadas, diz Carmen, com a presença de técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), de professores da UFSM envolvidos no projeto da Feira e, também, de consumidores – além dos próprios produtores, é claro. Após realizadas as visitas, os laudos foram emitidos e encaminhados para o Ministério da Agricultura, que, por sua vez, veio até as propriedades e confirmou a existência da produção orgânica, conferindo a certificação de orgânico à Organização de Controle Social dos agricultores e, individualmente, a cada produtor.

“A certificação é exclusiva para venda direta e venda em feiras, além de não permitir ao produtor o uso de selo”, diz Carmen. Assim, com os agricultores sendo certificados como produtores orgânicos pelo Ministério da Agricultura, podia ser inaugurada, enfim, a Feira Ana Primavesi, a primeira legalmente orgânica de Santa Maria.

elação produtor x consumidor

Para Carmen, cuja família toda se dedica à produção orgânica, uma questão basilar é a relação de confiança estabelecida entre agricultor e consumidor. “O consumidor deve ser bem informado, deve saber o que busca, não sendo levado pelos modismos. A certificação te traz um respaldo. A feira dá visibilidade para esses agricultores, pois eles estão buscando uma produção limpa, saudável, sustentável, preservando sua saúde, já que não estão usando os contaminantes de agrotóxicos, inseticidas, químicos e pesticidas. Estão promovendo um solo saudável, e onde tem solo saudável, tem produto sadio. O solo saudável também evita que as águas e o próprio ar se tornem contaminados”, salienta Carmen.

Mas o que é uma produção limpa?

O morango é uma fruta cuja safra ocorreria, via de regra, no inverno. Contudo, se entrarmos em um supermercado ainda nesse mês de janeiro, é pouco provável que não encontremos morangos para comprar. Ou seja, acostumamo-nos a acessar os alimentos no decorrer de todo o ano, esquecendo-nos, assim, de seus ciclos naturais. Carmen explica que, em uma feira orgânica, o consumidor vai encontrar apenas os produtos típicos daquela estação do ano, uma vez que há o respeito à sazonalidade.

A produção orgânica (ou limpa), diz a agricultora, passa pelo tratamento sadio do solo, que deve receber adubação verde e compostos orgânicos (produzidos, por exemplo, a partir da compostagem do esterco da vaga, da galinha, ou mesmo dos galhos e podas). “Hoje em dia nossos solos já estão tão contaminados que precisamos fazer vários processos para que eles realmente possam se recuperar. As monoculturas e outros tipos de produção que existiram degradaram muito os solos”, reflete Carmen. A forma de manejo também é equilibrada e privilegia a diversidade, o que diminui a incidência de pragas.

Os princípios norteadores desse tipo de produção advêm da agroecologia, campo no qual a agrônoma Ana Primavesi deixou legados que hoje permitem atestar: sim, é possível produzir de forma saudável. “O orgânico é um processo que começa no solo, que tem a ver com a muda, com a semente, com o manejo, com o que não é modificado geneticamente. É todo um processo de produção saudável e sustentável, sem o uso de químicos, agrotóxicos e de tantos outros produtos que carregam metais pesados em suas composições, ou que estão em solos onde há uma carga de metais pesados ali depositados há muito tempo”.

Dificuldades

Porém, como todo processo que desafia a ordem vigente, a produção orgânica enfrenta dificuldades. Uma dessas é relatada pelo professor do departamento de Ciências Sociais da UFSM, Everton Picolotto, que integrou o projeto da Feira Ana Primavesi desde o princípio. Trata-se da carência de pesquisas sobre como produzir de forma orgânica. Ele diz que as pesquisas desenvolvidas no âmbito da instituição centram-se, em sua quase maioria, na produção com insumos químicos/agrotóxicos.

“A produção orgânica é um tipo de agricultura que trabalha muito mais com a autonomia e a autossuficiência da produção, com a adubação orgânica, com o controle das doenças de forma diferente. O apoio da universidade, com conhecimento acadêmico e técnico, é importante para aprimorar e desenvolver esse tipo de produção. A Feira Ana Primavesi mostra que é possível produzir produtos saudáveis com preços acessíveis”, diz o docente…”

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Um Comentário

  1. Elogiável a iniciativa, mas cabe uma observação histórica. No inicio a UFSM trouxe muitos professores do exterior, daí a lenda “Santa Maria cidade cosmopolita”. Hoje, num mundo em que se fala muito na internacionalização das universidades (efeito da globalização), o número de estrangeiros lecionando deve ser baixíssimo. Sem pesquisa de qualquer espécie, é possível afirmar que a grande maioria dos professores fez doutorado aqui, em POA ou Floripa. E os que saíram para estudar fora estão na beirada da aposentadoria. Ou seja, o tal cosmopolitismo é lenda.

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