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Música brasileira, onde anda você? – por Máucio

Cresci em uma época em que se ouvia através do rádio e da televisão músicas populares de ótima qualidade, tanto no que se refere às letras como no sentido musical propriamente dito.  Rodava Chico Buarque, Caetano e Gil, além de compositores também de peso como: Gonzaguinha, Edu Lobo, Tom, Vinícius, Moraes Moreira, Alceu Valença, Zé Ramalho, Belchior e tantos outros.

Esses dias ouvi uma entrevista com João Bosco relatando como surgiu O Bêbado e o Equilibrista. Conta que ficou sensibilizado com a notícia da morte de Charles Chaplin, em 25 de dezembro de 1977, e acabou criando a melodia. Dias depois a entregou para o genial letrista Aldir Blanc que, passados uns dias, volta à casa de Bosco e diz: cara! Acho que fizemos uma coisa boa. A composição acabou virando um dos ícones da luta contra a ditadura. Esse é só mais  um exemplo de como a música popular participava das questões sociais do país.

Os anos 80 também foi promissor na MPB, aparecem as bandas de Rock Nacional: Blitz, Ultrage a Rigor, Kid Abelha, Camisa de Vênus, Titãs, Radio Taxi, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho entre outras. Sem esquecer indivíduos como Eduardo Dusek, Leo Jaime, Lulu Santos, Pepeu Gomes, Guilherme Arantes, Marina Lima, Baby Consuelo… a lista é quase interminável. Refrões como nós vamos invadir sua praia e inúteis, nós somos inúteis embalavam e refletiam uma época de abertura política.

Na década de 1990 alcançam sucesso e espaço na mídia outros grupos como Skank, Pato Fu, Planet Hemp, Jota Quest, com propostas musicais ainda razoáveis. Todavia os grandes nomes da MPB, que continuam produzindo e gravando, passam a não chegar mais às emissoras – agora predominantemente FMs – nem às televisões.  O mesmo que acontece com os novos talentos surgidos nos anos 2000, como: Lenini, Chico Cesar e Zeca Baleiro. Este último com um pouquinho mais de divulgação.

A MPB de qualidade acabou? Claro que não, o que acontece é que o espaço na mídia popular foi ocupado por canções tolas – pra dizer o mínimo – que vão desde a Dança da Garrafa até Um tapinha não dói.  Dói sim! É só ficar ouvindo essas coisas.

Na década atual, conforme dados fornecidos pelas próprias gravadoras, sabem quais são três dos maiores nomes em divulgação e, por consequência, em vendas de cds? Banda Calypso, Ivete Sangalo e Padre Marcelo. O que você acha disso tudo?

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Um Comentário

  1. Máucio! Parabéns pelo texto. Fundamental o debate que ele proporciona. Li alguns comentários e não pude deixar de também contribuir. Sem dúvidas há muita música, e músicos, de qualidade hoje! A mídia (leia-se a grande indústria da mídia, com fortes representantes no Brasil) é que parece promover uma campanha de “emburrecimento” e embrutecimento coletivos (provavelmente para continuar com os velhos projetos político-ideológicos da atual sociedade capitalista – aquela que incentivou um golpe militar em alguns lugares). Na minha humilde opinião, foram as campanhas de mídia que contribuíram fortemente para afastar as músicas de qualidade, reflexivas, efetivamente poéticas e sensíveis do acesso das multidões! A Arte e a (MPB de qualidade entra aí) se transformou em “bem de consumo” e caiu no chamado “mercado do entretenimento”. Poesia não vende e, o que é pior, incita reflexões, sentimentos entre as pessoas, evoca valores! Essa mesma mídia é responsável por construir muitos “sertanejos”, “funkeiros”, “axés”, comerciais cujas letras representam, em sua grande maioria, a descartabilidade das relações, das pessoas, das coisas. Enaltecem a superficialidade dos “sentimentos” e constroem artificialmente um tipo de cultura popular que “vende” e “se vende”. E vende tão bem, que faz o “consumidor” acreditar que está adquirindo “cultura Brasileira”! E, dentro do “pacote”, cria, inclusive, os novos “Kid Cultura” (referencia a uma música do Oswaldo Montenegro), que se arvoram a condição de representantes da “nova geração” para criticar sem nenhuma responsabilidade figuras como Chico Buarque, Caetano Veloso e Vinícius de Morais (que ninguém é obrigado a gostar), com argumentos que, além de preconceituosos e infantis, demonstram a ausência completa de conhecimento histórico, cultural e, sobretudo, social. Mas como dizia o velho Gonzaguinha (tão atual): “ e vamos à luta”!

  2. é. há os que vivem do passado, porque, afinal, também, não sabem o que fazer com o presente. assim como os adolescentes ridículos. não?

  3. Puxa vida, achar que um cara que nem Chico Buarque só cria quando tem milico pra combater é de uma grosseria inominável! Aliás, suas letras e melodias eram tão inteligentes e elaboradas que dariam enredo para filmes e peças teatrais (aliás a “Ópera da Malandro” é um belíssimo exemplo). Em muitas é difícil saber se é uma crítica política ou um drama amoroso. E acho que a MPB não vive do passado: é que a geração presente está perdida e não sabe o que fazer com a democracia conquistada. Acabou se mediocrizando com o consumismo desenfreado, com a falta de engajamento social e com uma mídia que não sabe reflletir as questões de fundo no mundo de hoje (como a encruzilhada ambiental, a globalização dos costumes, o fato de pela primeira vez na civilização a urbe ter mais gente que o campo, os amores fugazes e virtuais, etc.). Bem, é minha opinião. E agora vou ouvir a Geni, em homenagem ao grande Chico, que poderia hoje representar o próprio, tamanha a ingratidão de alguns, após ele ter se doado, com sua música corajosa e talentosa, o “general do Zepelin”.

  4. Bom, para começar, confesso que um dos últimos cds também como o de Caetano Veloso, por exemplo, é de dar arrepio. Horrível. Bom, mas dai veio a Multishow fez aquela propaganda básica sobre o Rock do Caetano… Banal.
    No final das contas todo mundo luta mesmo é pra ficar na rodinha dos bem aceitos. Nunca fui muito fã de Chico, porque Chico também só funciona na base da porrada, ou existe militarismo para o cara escrever ou nada.
    Outro é Vinícius, com tantos poemas e participações. Bêbado. Sempre! E piegas.
    Mas são opiniões a parte que eu e mais pouquíssimas pessoas compartilham. Claro que muitas que mesmo pensam isso têm medo de falar.
    Contudo, entretanto! Detesto e nem mesmo ouso criar critica a respeito de Calcinha preta, Ivete *aliás, qualquer coisa que envolva axé, carnaval e baixaria não é comigo.
    O que passa na cabeça de jovens – pessoas que têm a mesma idade que eu – é que ter opinião não é legal.
    O assunto não é a música, mas sim o pensamento.
    Pensar não é mais conveniente. Nem há no que pensar – dizem alguns. Como eu disse, outros lá só pensaram enquanto apanhavam. Mas, claro que eu tenho discografia do Lenine, por exemplo. Fui no show do Zeca, do Morais Moreira, Zé Ramalho (AMO aliás, mas voltando à questão do pensar.
    Um exemplo sobre como anda a sociedade – dos 20 até os quase 40, que ainda estão solteiros – é só ver o tipo de valor que andam carregando. Tenho uma amiga que me chama de “terapeuta alternativa” e conversa comigo sobre coisas mais sérias, resumindo, ela quer alguém com quem casar e ter uma vida perfeita. Para ela a vida é isso, Casar! E claro que eu questionei acerca porque afinal, ter alguém não é felicidade, felicidade está em vc e nas suas escolhas diárias e muita coisa mais de psico – enfim – e ai ela inconformada me disse: Você é a única que eu conheço que pensa assim, que acha que na vida temos que trabalhar nós mesmos e nossos valores e encontrar alguém para compartilhar não com o objetivo só de casar, mas de construir algo. O resto quer só casar! E eu também!!!
    O que ela quis dizer, basicamente, é que ninguém tá afim de pensar.
    Música inteligente faz pensar. Mesmo que seja para chegar a conclusões de que ela nem mesmo é tãooo inteligente quanto dizem.
    Ainda sim, temos que pensar. Mas imagina, pensar? E esse verbo existe?

    *não retiro a culpa das gravadoras, são culpadas sim! Com direito a sangue. Mas elas conseguem ter uma frase ao favor, se forem vender, alguém vai querer comprar? Muitooo poucoooo… MESMO! – infelizmente.

  5. Quando vim pra Santa Maria, assisti a um show do Alceu Valença no antigo Cine Independência, mas depois disso só tenho ouvido falar de shows populares, com exceção de algumas bandas de rock acústico de boa qualidade, tradicionalistas e artistas locais, só veio “Calcinha Preta”, Vítor e Léo, Ivete Sangalo e similares. Por aí você tem uma idéia do que as rádios precisam veicular… O programa “Fazendo Arte” coloca MPB de qualidade porque não precisa ter retorno econômico, mas não ouvimos mais senão em CDs o que temos de melhor no Brasil. Como explicar,então, o interesse de alguns jovens por MPB? Pode ser pela técnica e gosto eclético dos que estudam música em conservatórios ou faculdade, ou mesmo pelo cinema com Simonal e video clipes, mas a MPB não morreu aqui. Santa Maria é uma cidade eclética, a proliferação de bandas de garagem é assustadora, muito metal e punk (não FUNK!!!) Mas tem os shows que revivem Elis, bares e praças de alimentação com bons cantores ou duplas de qualidade, enfim, ainda há esperança enquanto houver público! Muito bom seu texto, muito atual e realmente é importante rever o que, como disse Rita Lee, “Ai meu Deus, o que foi que aconteceu com a Música Popular brasileira?… esse sério parece brincadeira!!!

  6. O que eu pouco sei é que, com raras exceções, a música que o filho gosta é diferente da música que o pai gosta que por sua vez é distinta da música apreciada pelo avô. Talvez porque exista uma fase da vida em que estamos mais atentos para isso, que pesquisamos e ouvimos muito mais que em outras fases da vida. E é justamente nesta fase de maior recepção e percepção musical é que formamos o nosso gosto.
    Outro fator pode ser o histórico. Passamos por um regime militar de quase trinta anos onde a liberdade de expressão encontrava na música um de seus poucos escoadores. Após o regime militar ouve um “boom” musical onde muito se produziu. Algumas coisas muito boas e outras de péssima qualidade. Citaste somente as boas, mas teve muita coisa ruim nos anos oitenta e noventa.
    O ultimo fatos que considero é quanto a forma que a música chega ao ouvinte que de certa forma contribui para todo o cenário musical. Se antigamente tínhamos o rádio que era ouvido até com certa cerimônia por nossos avós hoje temos a internet que não demanda esforço algum e falo de esforço no sentido seletivo. Sou do tempo do LP que demandava um envolvimento musical muito maior que hoje. Esperava dias, semanas e até meses por um LP que tinha além do conteúdo musical as artes das capas, um motivo a mais. Enfim hoje a velocidade na comunicação é outra. Antes, entre um LP e outro tínhamos tempo de analisarmos a obra com mais critérios, com mais cuidado até a chegada de outro. Hoje, se na primeira audição não gostamos, deletamos o arquivo e partimos para outra. Rápido assim, num apertar de teclas.
    A música de hoje, de forma geral, é pior que a música que eu aprecio? Não sei. Talvez diferente, assim como eu também estou diferente do que eu era quando formei o meu gosto musical e que incrivelmente mantenho-me fiel até hoje. Vai entender…

  7. Bem, o que dizer?
    Esse é um tema complicado de discutir, pois envolve acima de tudo os interesses das gravadoras.
    Penso que o “mainstream” é popular demais e (ao que parece) tem como prioridade a música de fácil memorização. Até porque não é qualquer um que capta a verdadeira mensagem por trás da letra de uma música; principalmente na MPB, com todas as suas metáforas e demais figuras de linguagem.
    O pior de tudo (na minha opinião) é o que está sendo feito com o rock, que atualmente é feito por bandas que não transmitem nenhuma mensagem que não seja: “Você foi embora e eu fico aqui chorando”.
    Hoje, muitas bandas são quase empresas, pois praticamente sí visam o lucro. Grande parte dessa culpa é das gravadoras.

  8. O tema é complexo, envolve uma indústria do entretenimento fácil que tem gravadoras, músicos, rádios movimentando muito dinheiro e pouco se importando com a qualidade do produto. É só ficar 5 minutos olhando a Globo que vc vai ver propagandas de várias duplas sertanejas, como se só este estilo existisse num país tão diverso como o nosso.A MPB vive do passado, quando a juventude pensava de outra forma,quando a música representava , de fato, mais do que diversão.Perdemos muito…

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