Estão todos loucos – por Luciano Ribas

Sei que não sou o primeiro a escrever sobre isso (e que não estou imune), mas me estarrece como as redes sociais parecem ter disseminado a loucura entre as pessoas.

Diz-se o que vem à cabeça, do jeito que sair, sem medir consequências, inclusive jurídicas. Extrapola-se todos os limites da ética, da decência e da racionalidade. Fala-se para o mundo como se este fosse uma mesa de boteco, a cozinha de casa ou um confessionário pós-moderno. Sem limite e sem filtros.

Xingar, linchar, matar, denegrir, caluniar, discriminar, intimidar, perseguir, falsear estão entre os verbos que muita gente parece acreditar que, se conjugados “virtualmente”, podem ser usados sem responsabilidade alguma. Inclusive gente de bem, de boa família, de respeito, de posição, “fina”, que faz “selfie” com a família e compartilha autoajuda do Paulo Coelho ou texto falso da Clarisse Lispector – talvez seja quem precisa se “posicionar” dentro dessas categorias quem mais o faz, aliás.

É um mundo de “sectarismo virtual extremo”, de arrogância machista, de suprematismo branco e de ostentação explícita. Fartamente documentado na “nuvem” e parecidíssimo com o “mundo real”, ampliado por uma lupa gigantesca.

Um médico gaúcho que teve o nome associado a um esquema de fraudes envolvendo próteses é um bom exemplo disso. Uma rápida olhada no seu perfil no Facebook deveria arrepiar qualquer “cristão”. Visto depois da denúncia, então, parece uma comédia de humor negro: ostentação, intolerância, misoginia, conteúdo impróprio, talvez exposição indevida de pacientes, entre outras coisas típicas de quem precisa se dizer “gente de bem”.

Até onde essa insanidade nos levará? É difícil dizer, modestamente creio eu, até porque nenhum de nós está imune às tropelias virtuais. Certo é, porém, que esse assunto não é menor, nem pode ser negligenciado. O fascismo começou “pequeno e inocente” nos anos 20 e 30 do século passado, sendo relevado até ser tarde demais.

Sinceramente, espero que para nós ainda não o seja.