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(IN)SEGURANÇA. Adede y Castro e a carta aberta ao pai do estudante morto no Calçadão

Por considerar importante, e quem sabe ajudar de alguma maneira, este sítio republica (isso não é a regra, mas o fato merece a exceção) artigo originalmente publicado no BLOGUE do Promotor de Justiça e Escritor João Marcos Adede y Castro. Acompanhe:

PAI BONIFÁCIO, PERDÃO! (Carta aberta ao pai do universitário morto no Calçadão)

Há um mês, em um belo domingo no qual nós deveríamos estar comemorando o Dia dos Pais, fomos impactados com a notícia da morte de universitário de 23 anos em pleno Calçadão de nossa tão amada cidade de Santa Maria.

Imagino, ou tento imaginar, qual o impacto da notícia na cabeça e no coração do pai do universitário que, às seis horas e trinta minutos já devia estar se preparando para receber as merecidas homenagens do filho que estava em Santa Maria para estudar.

Tenho cinco filhos que são minha maior riqueza, minha mais brilhante esperança de futuro, de realização de tudo aquilo que não consegui ou não tive capacidade de fazer, e se acontecesse comigo o que aconteceu com o pai de Ângelo Razzolini Biazzi, o Senhor Bonifácio Biazzi, eu estaria muito bravo com as autoridades, entre as quais eu me incluo.

O Estado não faz nada para ajudar-nos a criar nossos filhos, e nem mesmo mantê-los vivos para que possamos abraçá-los no Dia dos Pais.

Bonifácio, a quem não conheço, deve ter trabalhado muito para que seu filho amado viesse morar em Santa Maria e obtivesse aqui uma profissão, e quando ele está no período mais fértil e produtivo de sua vida, o Estado permite que ele seja agredido e morto a facadas no centro da cidade, às seis e meia da manhã de um domingo Dia dos Pais.

É inaceitável!

Não me venham com este papo furado de que Santa Maria é uma cidade com baixos índices de criminalidade, porque ele não se sustenta ante a verdade de que um jovem de 23 anos, estudante e cheio de vida foi covardemente atacado e morto a facadas no centro.

As autoridades, por fim, acordaram para um problema que estava flutuando sobre nossas cabeças, e não podemos permitir que elas se esqueçam, passado o impacto inicial da morte.

Dias antes tinha acontecido uma cena inconcebível de luta generalizada no Calçadão, que se transformou em terra de ninguém. A próxima cena foi de morte.

Bonifácio, sei que não vai fazer teu filho voltar a vida, mas cada vez que penso na história dele, eu choro, muitas vezes por dentro e outras pra fora, sem vergonha de admitir.

Choro, Bonifácio, porque sinto que falhei, que apesar de todos meus esforços como Promotor de Justiça há quase trinta anos, quase nada consegui.

Pode bater na minha cara, é um direito teu.

O que não podemos, todos nós, é esquecer.

Ângelo é um símbolo trágico da nossa derrota, da nossa vergonha, mas uma luz forte, focada em nossos olhos, que não nos deixará dormir até que consigamos, mesmo que em longo prazo, resolver esta questão da segurança.

Eu, que sou espiritualmente muito inferior a ti, Bonifácio, me negaria a receber meu filho morto. Exigiria do Estado que o ressuscitasse, para que eu pudesse abraçá-lo, sentir seu carinho, beijá-lo e desejar que fosse um pai melhor que eu.

Não vamos esquecê-lo, tenha certeza. É o mínimo que podemos fazer.

Por isto, peço perdão, por minha incompetência, minha indiferença, minha descabida pretensão de servidor exemplar, por ter falhado.

Sei que não ficarás indiferente.

Abraços de um pai angustiado.”

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