Mulher de bem – por Bianca Zasso
As leitoras assíduas das revistas de moda conhecem a Audrey Hepburn ícone de estilo, sempre bem vestida com roupas da grife Givenchy. Já os cinéfilos de primeira viagem devem conhecer a Audrey jovial, que encanta seja encarando a rebelde e apaixonada Natasha de Guerra e paz ou a bibliotecária que vira modelo em Cinderela em Paris. Isso sem contar a romântica Sabrina do filme de Billy Wilder e a atormentada deficiente visual de Um clarão nas trevas. Mas na filmografia da atriz, existe uma Audrey que poucos conhecem: a de coração puro e caridade infinita.
Embaixadora da Boa Vontade da Unicef, Audrey fazia trabalhos voluntários em países pobres da África e tinha uma atenção toda especial com as crianças em situação de risco. Muito disso é fruto do drama vivido pela família da atriz durante a Segunda Guerra Mundial, período onde a fome e a falta de moradia tornaram-se freqüentes na vida da jovem Audrey.
Motivada por essas provações, ela foi estudar balé e caiu nas graças dos agentes de Hollywood que logo a transformaram em modelo fotográfico e, enfim, em atriz. Os mais belos olhos castanhos do cinema brilhavam sem parar e garantiam boa bilheteria para os estúdios. Um desses sucessos trazia uma Audrey abatida, mas persistente no seu desejo de ajudar ao próximo.
Uma cruz à beira do abismo tem a direção segura de Fred Zinnemann e narra a trajetória da doce Gabrielle, uma jovem belga que resolve tornar-se freira para realizar o sonho de trabalhar no Congo como enfermeira. Tudo estaria encaminhado, não fossem as constantes punições e cobranças presentes no cotidiano do convento. Ainda presa a sentimentos típicos da juventude, Gabrielle trava uma luta interna para alcançar seu objetivo. Quando tudo parece se ajeitar, a Segunda Guerra estoura e o coração da jovem freira fica dividido entre a luta por seu país e o tradicional “olhar o bem sem olhar a quem”. Cuidar das feridas dos inimigos não é fácil para Gabrielle e um novo desafio a espera.
Uma cruz à beira do abismo passa longe do toque suave dos filmes onde a fé é o elemento principal. O longa de Zinnemann critica com sutileza os exageros das cerimônias católicas e ainda revela os segredos escondidos nos conventos, lugares onde, apesar do silêncio, a tranquilidade não existe.
Audrey doce, agridoce, amarga. Audrey elegante, sapeca, discreta. Audrey mulher, mãe, cidadã. Audrey é como todas nós, muitas em uma só. Passou pelo mundo e conseguiu a proeza de ser imortal graças ao cinema. Mas o ar de estrela fica só no tapete vermelho. Nas palavras da própria Miss Hepburn:
“Nasci com uma enorme necessidade de receber e dar afeto.”
Parece que a necessidade da diva foi suprida. Nunca alguém foi tão amada pelo público.
Obrigada Bianca por me oportunizar conhecer um pouco mais esta atriz a quem sempre admirei. Elegante, carismática, íntegra e talentosa nos proporcionou bons momentos assistindo seus filmes e que aproveitou sua, digamos, aposentadoria, para levar alento aos desvalídos do mundo. Beijos e sucesso sempre, amiga Bianca!
Obrigada, Lígia. Audrey, além de toda essa bondade, era uma mulher livre de crenças, o que só aumenta nossa admiração.
Prezo muito esses assuntos que os bons filmes trazem. Com histórias verídicas. Passaram por atalhos espinhosos a serviço do bem. Parabéns à Bianca Zasso, pelo artigo e também ao jornalista Claudemir Pereira por trazer a nós, esses assuntos altruístas de fé e perseverança. Venceram obstáculos, sendo o pior, creio, o preconceito e a discriminação.
“Audrey de coração puro e caridade infinita” O coração do homem na sua essência como dizia Sócrates a 470 a.C “não é voluntariamente mau” e esses assuntos, retornam o homem a sua origem divina. Voltaire reconhecia isso. Eu acho, que temos, na nossa sociedade, resíduos da Idade Média, onde, até um Santo Ofício, foi criado em nome de Deus para castigar os hereges e os que caíam em desgraça. Abominável. E coisas abomináveis continuam a acontecer em nome da defesa dos mais fracos como aconteceu, ainda nesse milênio no Iraque e na Líbia. Penso que esses países ficaram arrasados e as mortes continuam, porque há facções lutando pelo poder. Pensam em armas, as mais sofisticadas e não pensam em ser inteligentes para combater a perversidade e os vícios. Não sei… Se o mal existe, existe é no coração do homem. Jesus recomendou: um coração de menino. Para mim é uma metáfora e muito verdadeira. Amém.