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EDUCAÇÃO. “Otimismo” da volta do vestibular na UFSM não resiste aos números do concurso

Problema da sobra de vagas não está na forma de ingresso

Por Fritz Nunes / Sedufsm

Quando o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) aprovou, no dia 5 de abril de 2023, sob forte aparato policial, por 32 votos a 23, a volta do vestibular e do Programa Seletivo Seriado (PSS) como forma de ingresso na UFSM, em detrimento do Sistema de Seleção Unificado (SiSU), a ideia propagada era de que seria a solução para as vagas não preenchidas nos diversos cursos da Instituição. Entretanto, após o vestibular realizado nos últimos dias 13 e 14 de janeiro, o que se percebe é que o otimismo vendido, na prática, está muito mais relacionado às manchetes sobre o aumento no movimento do comércio de Santa Maria do que em relação a um preenchimento equilibrado na procura de vagas nos diversos cursos da Instituição.

Enquanto em algumas áreas como Medicina, Direito (diurno e noturno), Ciências da Computação, Medicina Veterinária, Psicologia, Arquitetura e Urbanismo, Fisioterapia, Nutrição e Odontologia, que formam o ranking dos 10 cursos mais procurados, houve bem mais candidatos (as) do que vagas, há diversos outros, especialmente nos campi, em que a procura foi muito baixa. Alguns exemplos destacamos abaixo, mas a íntegra dessas tabelas pode ser conferida ao final da matéria.

Administração (diurno), campus de Palmeira das Missões

Através das cotas, sejam elas por escola pública, deficiência, pretos, pardos e indígenas (PPI), quilombola ou medalhistas por conhecimento, havia vagas, mas praticamente sem candidatos. Na modalidade ampla concorrência, 8 vagas para 4 inscritos(as), o que correspondeu a um percentual de 0,50 candidato(a) por vaga.

Ciências Biológicas, campus de Palmeira das Missões

Nas oito vagas de cotas, incluindo deficiência, baixa renda, quilombola e PPI, apenas três candidatos(as). Na ampla concorrência, 4 candidatos(as) para 7 vagas, o que correspondeu a um percentual de 0,57 candidato(a) por vaga.

Ciências Econômicas (noturno), campus de Palmeira das Missões

Nas oito modalidades de cotas, apenas na de Ensino Médio em Escola Pública independente de renda é que houve dois inscritos(as) para uma vaga. Na modalidade de Ampla Concorrência, um total de 7 vagas para 4 inscritos(as), o que correspondeu a 0,57 candidato(a) por vaga.

Ciência Sociais, Licenciatura, Noturno, campus sede

Das 12 vagas para cotas, apenas 3 inscrições (1 em Escola Pública Baixa Renda; 1 em Escola Pública Baixa Renda PPI, 1 em Escola Pública Independente de Renda). Na Ampla Concorrência foram 3 inscrições para 6 vagas, perfazendo 0,50 candidato(a) por vaga.

Dança, Licenciatura (campus sede)

Em 9 vagas nas modalidades de cotas, apenas 1 inscrito para 1 vaga na opção quilombola. Na opção Ampla Concorrência, um total de 2 candidatos(as) para 4 vagas, perfazendo 0,50 candidato por vaga.

Educação Especial- Licenciatura Plena (diurno), no campus sede

Nas 9 opções de cotas, apenas 4 inscrições, sendo 1 para deficiência escola pública- independente de renda (1 vaga); 1 inscrição para deficiência escola pública, baixa renda, para 1 vaga; 2 inscrições para ensino médio escola pública, independente de renda, para 1 vaga. Na Ampla Concorrência, 7 vagas para 3 inscritos(as), perfazendo 0,43 candidatos(as) por vaga.

Engenharia Agrícola- campus de Cachoeira do Sul

No caso deste curso, fora 16 vagas para cotas, sendo que houve inscrição de 2 pessoas para ensino médio em escola pública de baixa renda, para 2 vagas; e 1 inscrição para 2 vagas em ensino médio em escola pública independente de renda. No caso da Ampla Concorrência, foram 5 inscrições para 12 vagas, perfazendo média de 0,42 candidatos(as) por vaga.

Engenharia Ambiental e Sanitária- campus de Frederico Westphalen

Neste curso foram 15 vagas nas modalidades das diversas cotas. Entretanto, não houve inscrições para nenhuma delas. Houve um total de 2 inscrições para 9 vagas na opção de Ampla Concorrência, perfazendo 0,22 candidato(a) por vaga.

Engenharia de Transportes e Logística, campus de Cachoeira do Sul

Neste caso, foram 16 vagas para as opções de cotas, sendo que apenas 2 inscrições foram realizadas para a modalidade Ensino Médio em Escola Pública Independente de Renda, e outra inscrição para Ensino Médio em Escola Pública Independente de Renda (PPI- pretos, pardos e indígenas). Na opção Ampla Concorrência, um total de 3 inscrições para 12 vagas, perfazendo 0,25 candidato(a) por vaga.

Engenharia Elétrica, campus Cachoeira do Sul

Foram 8 vagas para as diversas opções de cotas, sendo que houve apenas 2 inscrições na opção Ensino Médio em Escola Pública Independente de Renda. Na modalidade Ampla Concorrência houve 5 inscrições para 12 vagas, perfazendo 0,42 candidato(a) por vaga.

Engenharia Florestal, campus de Frederico Westphalen

No caso deste curso, foram 24 vagas, sendo 15 para cotistas e 9 para Ampla Concorrência. Mas, nenhum inscrito(a).

Estatística, Bacharelado, Noturno, campus sede

Foram disponibilizadas 8 vagas para cotistas, mas nenhuma inscrição. Na modalidade Ampla Concorrência, houve 2 inscrições para 4 vagas, perfazendo 0,50 candidato por vaga.

Filosofia Bacharelado (noturno) e Filosofia Licenciatura Plena, campus sede

Em ambos os casos, a procura na modalidade de cotas foi bastante baixa, e na opção de Ampla Concorrência, nos dois cursos, houve 4 inscrições para 6 vagas, perfazendo nas duas situações: 0,67 candidato(a) por vaga.

Geografia- Bacharelado, campus sede

Das 10 vagas para cotistas, nenhuma inscrição. Na Ampla Concorrência foi 1 inscrição para 4 vagas, perfazendo 0,25 candidato(a) por vaga.

Gestão Ambiental, campus sede

Das 8 vagas para cotas, apenas 1 inscrição em escola pública independente de renda (PPI). Na Ampla Concorrência, foram 3 inscrições para 7 vagas, perfazendo 0,43 candidato(a) por vaga.

Jornalismo, campus Frederico Westphalen

Foram 13 vagas para cotistas, com apenas 3 inscrições. Na modalidade Ampla Concorrência foram 5 inscrições para 8 vagas, perfazendo 0,63 candidato(a) vaga.

Matemática- Licenciatura, campus sede

Foram 8 vagas para cotistas e apenas 3 inscrições. Na modalidade Ampla Concorrência houve 1 inscrição para 4 vagas, perfazendo 0,25 candidato por vaga.

Meteorologia, campus sede

No caso do curso de Meteorologia, foram disponibilizadas 12 vagas, sendo 9 para cotistas e 3 para Ampla Concorrência. Entretanto, houve apenas 2 inscrições para 1 vaga na opção Escola Pública Baixa Renda. Na opção Ampla Concorrência, nenhuma inscrição.

Processos Químicos, campus sede

Não houve inscrições para as 12 vagas das cotas. Ocorreram 2 inscrições para 6 vagas em Ampla Concorrência, perfazendo assim 0,33 candidato(a) por vaga.

Química, Licenciatura, campus sede

Das 10 vagas para cotas, apenas 1 inscrição. Das 5 vagas para Ampla Concorrência, apenas 1 inscrição, perfazendo 0,20 candidato(a) por vaga.

Zootecnia, campus Palmeira das Missões

Das 13 vagas para cotas, apenas 2 inscrições. No caso da Ampla Concorrência, houve 8 vagas para 1 inscrito, perfazendo 0,13 candidato(a) por vaga.

O que os números podem expressar?

A assessoria de imprensa da Sedufsm foi ouvir alguns professores e prpfessoras para ver como podem ser interpretados esses dados da própria UFSM sobre o concurso vestibular 2024. Dentre as pessoas ouvidas, o professor do departamento de Ciências Sociais da UFSM, Everton Picolotto, o ex-pró-reitor de Assuntos Estudantis na gestão Paulo Burmann, professor Clayton Hillig, a vice-presidenta da Sedufsm, professora Marcia Morschbacher, e a representação do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) da UFSM. Também foram enviadas questões ao pró-reitor de Graduação da instituição, professor Jerônimo Tybusch, que não as respondeu até o fechamento desta matéria.

Para Everton Picolotto, o vestibular foi resgatado como se fosse uma “fórmula mágica” para que a UFSM voltasse a ter grande procura de candidatos, como era em décadas atrás. No entanto, argumenta ele, não foram considerados os diversos fatores que têm afetado a demanda pelos cursos. Para o docente, que também é membro do Conselho Universitário (Consu), é preciso considerar a expansão da oferta de vagas em universidades públicas e privadas (inclusive EAD), a crise econômica recente, a pandemia, os movimentos de negacionismo da ciência, as mudanças no mundo do trabalho e do perfil populacional (hoje o país tem menos jovens do que tinha no passado).

Em função desse quadro conjuntural, complementa o professor, o vestibular de 2024 não traz novidades em relação ao preenchimento de vagas. “Muitos cursos não tiveram nem sequer candidatos suficientes para preencher as vagas ofertadas. Somente cursos tradicionais e de alto status, como Medicina, Veterinária, Direito e Psicologia tiveram grande procura. Medicina concentrou mais de 4 mil candidatos, de um total de 10 mil inscritos no vestibular”, analisa.

E acrescenta ainda que, por outro lado, cursos como Geografia, Gestão Ambiental, Engenharia Florestal, Engenharias (diversas), Turismo, História, Letras, Matemática, Jornalismo, entre diversos outros, de todos os campi da UFSM, tiveram baixa procura, chegando a ter curso com zero candidato para 18 vagas ofertadas. Na ótica de Everton Picolotto, o vestibular de 2024 “não cumpriu o que foi prometido, pois muitos cursos não preencherão as vagas abertas por esta modalidade de seleção. Fracassou no que foi prometido”, enfatiza.

Marcia Morschbacher, vice-presidenta da Sedufsm, avalia que, além da percepção de que, no vestibular 2024 houve maior procura por cursos da área da saúde, também chama a atenção que houve menor procura pelos cursos situados nos campi de Frederico, Palmeira e Cachoeira. Segundo ela, a baixa procura também pode ser observada, em geral, para os cursos de licenciatura. “Os dados também indicam vagas que não serão ocupadas pela ausência de inscritos, o que levanta a questão se o vestibular e o PSS irão resolver a situação das vagas não ocupadas via ingresso pelo SiSU”, ressalta.

O professor do departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural da UFSM, ex-pró-reitor de Assuntos Estudantis, Clayton Hillig, comenta que o retorno do vestibular teve como justificativa o baixo preenchimento de vagas em alguns cursos, em especial as licenciaturas e humanidades e o alto índice de evasão, também nestes cursos.

Contudo, no entendimento dele, o vestibular “não é a solução para esses problemas, pois estamos falando da valorização de campos profissionais que são mal-remunerados e não têm valor social, pois não conferem status e nem definem uma identidade socioprofissional valorizada na nossa cultura”.

Hyllig acrescenta ainda que esse quadro piorou ainda mais depois de quatro anos de perseguição política dessas formações profissionais, referindo-se ao período do governo Bolsonaro. Portanto, afirma ele, esse problema é “socioeducativo e não vai ser resolvido com vestibular”.

O fortalecimento da elitização

A avaliação dos dados do vestibular foi feita de forma coletiva no Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas (NEABI), explica a servidora técnico-administrativa e que integra a coordenação da entidade, Angela Souza.

No texto encaminhado pelo NEABI, a avaliação é de que o relatório (da UFSM) “demonstra e comprova aquilo que NEABI e as demais entidades que se posicionaram em defesa do SiSU apontavam – durante o período de aprovação do retorno do Vestibular e PSS”. Para o Núcleo, o relatório “escancara” que o vestibular está fortalecendo, entre outras coisas:

“1-Elitização e embranquecimento da Universidade, visto um número elevado de cursos socialmente considerados voltados à população de baixa-renda não atingiu sequer o número de vagas ofertadas, e que em diversos cursos, no que tange às ações afirmativas, o número de candidatos estava abaixo do número de vagas ou até mesmo zerado , o que corrobora com os efeitos do racismo dentro e fora da Instituição que afastam a população negra do ensino superior;

2-Benefício de concorrência a apenas alguns cursos, todos de Santa Maria, em detrimento de vários outros, ao passo que há alta concorrência em cursos mais elitizados e historicamente concorridos como Medicina, Medicina Veterinária, Psicologia, Direito e Odontologia, dezenas de outros cursos não preenchem nem o número mínimo na relação candidato x vaga, demonstrando que não há qualquer relação entre o vestibular e a ampliação do preenchimento de vagas; o que nos leva para o terceiro ponto que é, como sempre denunciado, que o vestibular…

3) Não ajuda os campi fora de sede, apenas amplia ainda mais as dificuldades de preenchimento de vagas, com raras exceções. Além disso, é imprescindível destacar…

4) A regionalização, aprofundada com a volta do vestibular (88% do RS) e PSS (96,2% do RS), conforme apontam os dados, e que não reflete os territórios e comunidades historicamente impedidas de acessar ao ensino superior, faz com que a UFSM retroceda décadas de avanços na busca pela ampliação da diversidade regional e cultural.”

O NEABI ainda faz considerações sobre dados relacionados às cotas no processo vestibular.

Segundo o Núcleo, a partir de um olhar “cuidadoso” quanto à disponibilidade de vagas e inscritos, principalmente considerando as reservas de vagas PPI e Quilombola, nota-se que “na maioria dos cursos, as vagas continuam ociosas, ou seja, há mais vagas do que inscritos no processo seletivo, com rara exceção dos cursos já elencados como mais procurados. Quando se atenta para a reserva de vagas para quilombolas, vê-se que o número de inscritos é ínfimo.”

Na visão dos e das integrantes do Núcleo, o retorno do vestibular e PSS “não se mostra um avanço, mas, sim, aprofunda os problemas já existentes, uma vez que essas vagas (não preenchidas) precisarão ser ofertadas novamente via Sisu, visando à diminuição de vagas ociosas na instituição”. E complementam: “ou pior, que serão ofertadas em modelos de acesso pós-SiSU e chamada oral, onde a capacidade de preenchimento de vaga é ainda menor.”

Saudosismo e reserva de vagas

Everton Picolotto também faz considerações sobre outras motivações que levam a que empresários locais, inclusive dos meios de comunicação, saúdem de forma tão entusiasmada a volta do vestibular e do Programa Seletivo Seriado (PSS). “Os retornos do vestibular e PSS foram recebidos pela cidade de uma forma saudosista. Todos temos lembranças afetuosas das movimentações que traziam no passado, da grande circulação de jovens, da cobertura da imprensa, das festas. Os empresários sempre esperam lucrar com estes grandes eventos promovido pela universidade no recrutamento de novos estudantes (hotéis e restaurantes), mas também com os aluguéis dos estudantes matriculados, com o seu consumo local, transporte etc.”

Entretanto, frisa ele, apesar de importantes, esses recursos gerados na cidade não devem ser a principal motivação da universidade. “Cumpre sempre lembrar de que ela (a instituição) deve se preocupar, centralmente, com o ensino, a pesquisa, a extensão e, é claro, com o desenvolvimento da sociedade local e nacional, a partir das suas produções. A universidade deve formar profissionais, produzir conhecimento, tecnologias, contribuir com a cultura nacional. Seu foco não é o de garantir lucro para o empresariado local”, sublinha.

Na continuação de sua análise, Picolotto acrescenta que, no seu modo de ver, o principal elemento que leva as elites empresariais a defender o retorno do vestibular e do PSS nem é a questão econômica, mas a sim a da reserva de vagas para seus filhos(as) em cursos de ponta da instituição. Ele fala isso ao destacar que, conforme os dados da própria UFSM (que pode ser conferido no anexo 2, ao final da matéria), a maioria de inscritos(as) e, portanto, também de aprovados(as), são do Rio Grande do Sul: 88% no caso do vestibular e 96% no caso do PSS.

O docente argumenta que “na seleção realizada pelo Enem/Sisu, as vagas são disputadas por candidatos interessados de todo o país, abre-se a concorrência. Com o vestibular e PSS, as vagas de cursos de grande concorrência são disputadas apenas pelos candidatos locais e de regiões próximas, restringindo a concorrência aos candidatos locais”.

Picolotto acrescenta ainda em sua análise que, para os candidatos terem reais chances de passarem em cursos muito concorridos, precisarão fazer Ensino Médio e cursinhos pré-vestibulares em escolas que preparam para as seleções da UFSM, tendo em vista que os conteúdos programáticos e as provas são específicas da instituição e significativamente diferentes de outras. “Como se sabe, a preparação para o vestibular pode ser um grande negócio local”, arremata.

Visão similar à de Picolotto tem Clayton Hillig. Para ele, “a mentalidade provinciana do pequeno empresariado de Santa Maria considera o vestibular um grande negócio”. Ele não desconsidera isso, pois efetivamente existe um movimento momentâneo em hotéis, restaurantes e comércio local e uma sensação de euforia como uma grande atividade cultural. Todavia, interroga: “O que uma cidade inteligente faria? Valorizaria nosso festival de cinema, a Feicoop, o carnaval, a calourada e promoveria atividades culturais para movimentar o turismo e o lazer”. Na visão dele, o grande negócio do vestibular são os cursinhos, que são “um tipo de reserva de vagas para a pequena burguesia provinciana, que precisa dessa reserva, pois não promove o capital cultural para seus filhos.”

Vestibular e PSS dialogam com a permanência estudantil?

Para Marcia Morschbacher, vice-presidenta da Sedufsm e docente do departamento de Metodologia do Ensino, não há diálogo entre vestibular e PSS e o processo de permanência estudantil na instituição. Isso, segundo ela, porque “os entusiastas do retorno do vestibular e do PSS atribuíram a ambos, qualidades que os mesmos não têm quanto à permanência estudantil no Ensino Superior”. Dito de outro modo, explica Marcia, o vestibular e o PSS dizem mais respeito a quem ingressa, ou seja, quem tem condições de ingressar do ponto de vista socioeconômico e como ingressa (forma do ingresso – via vestibular ou PSS) e menos à permanência.

Para ela, permanência é assunto das políticas de assistência estudantil e das políticas de ensino, pesquisa e extensão. “Enfrentamos um período muito duro, de ataques das mais diversas ordens sobre as IFES – sobretudo a orçamentária, e isso afeta significativamente as condições de permanência dos/as estudantes na universidade”. Marcia acrescenta ainda outro aspecto que entende que precisa ser considerado quanto ao ingresso e sua relação com as vagas. “O agravamento das condições de vida da população coloca os/as jovens pobres cada vez mais cedo no mercado de trabalho, o que os afasta do ingresso no Ensino Superior (muitos/as sequer concluem o Ensino Médio). São questões que precisam ser levadas em consideração”, enfatiza.

Na visão da dirigente da Sedufsm, uma universidade de qualidade e pulsante se faz com um orçamento e com políticas à altura das demandas sociais por uma formação profissional qualificada e assentada no ensino, na pesquisa e na extensão. Aliás, esse processo todo de debate em torno das formas de ingresso reforça, segundo ela, qual universidade queremos, questão que “está colocada também quando debatemos os encargos docentes, a progressão e promoção na carreira e, mais recentemente, a tentativa de instituir o Programa de Gestão de Desempenho (PGD) na universidade”.

Marcia pondera que são questões “aparentemente distantes, mas conectadas na sua essência”. E questiona: “A quem interessa as mudanças no ingresso e a divisão de vagas entre SiSU, vestibular e PSS se todos/as podem ter acesso ao Enem? A pauta central não seria a ampliação de vagas via SiSU, para que mais jovens ingressem na universidade (muitos/as ainda são os/as primeiros de suas famílias a ingressar e concluir um curso superior), e o atendimento das necessidades orçamentárias, de pessoal/servidores/as TAEs e docentes e de políticas institucionais coerentes com tais demandas?”.

Para responder sobre processo de ingresso (vestibular e PSS) e permanência, a coordenação do Neabi diz que é preciso levar em consideração os dados que indicam que a maioria dos inscritos residem no estado do RS e também que há uma baixa adesão de estudantes cotistas. Isso, conforme avaliação do Núcleo, formará uma maioria de calouros (que acessaram via Vestibular) que não precisará de políticas de ações afirmativas e de permanência pelo fato de deterem maior poder aquisitivo, como por exemplo, o acesso à casa do estudante, a gratuidade no Restaurante Universitário, entre outras políticas de permanência. Sendo assim, avaliam, “pode ser que tenhamos um cenário no qual a evasão tenda a diminuir”.

Contudo, ressalta o texto da entidade, é preciso “pensar qual o perfil de instituição que estaremos formando”. Para o NEABI, esse perfil tende a ser de maioria branca e com maior poder aquisitivo “como podemos verificar pela relação candidato x vaga, além de uma elite regional – como vemos a partir do relatório preliminar”. E isso, segundo o Núcleo, diminuirá a diversidade, dificultando o acesso de pessoas de todo o país na instituição, assim como de estudantes pobres, de periferias das cidades ou do campo, que mesmo sendo do Rio Grande do Sul ou até mesmo das cidades onde a UFSM possui campi, não terão condições de acesso e/ou permanência.

Para a coordenação do NEABI, também é necessário apontar que “é inaceitável que a Universidade não tenha incluído as ações afirmativas para pessoas trans no Vestibular”.

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8 Comentários

  1. Psicologia não é curso de status, é que são poucas vagas mesmo rsrsrs Cursos dos campi descentralizados, no SiSU, atraem pouca gente de fora, e ainda menos quem é da própria cidade. Paulista não vem pro Campus Brogodó do Sul, como último recurso prefere mesmo é o Campus Sede da Boca do Monte. Quem é de classe média em Brogodó quer mais é ir morar 4, 5 ou 6 anos em St. Mary, fazendo festa no Brahma ou Locadora. Já os filhos do agro de Brogodó do Sul vão à PUC estudar… em POA, SP, RJ, Floripa, também não ficam no Campus de Brogodó. No SISU será que o rapaz do Maranhão em lista de espera da UFÉSME pega dois ônibus e um avião para participar presencialmente de uma chamada em Camobi City em que TALVEZ seu nome seja convocado (ou não), podendo hoje em dia fazer tudo digitalmente, inclusive entrevistas?? Aí é claro que não vem, e fica a vaga ociosa, a vaga cotista migra para os ricos ou vai parar no cálculo dos reingressos da vida. O sistema de chamadas da UFSM provoca incerteza, insegurança e instabilidade nos candidatos, ainda mais se eles são economicamente vulneráveis e de outras regiões do país. A Federal do Seu Mariano precisa rever isso.

  2. Os numeros na Ianquelandia variam conforme a fonte. Uns 60% dos(as) estudantes não termina a graduação e uns 15/20% acabam subempregados. Ou seja, ocupam postos de trabalho nos quais o diploma não é valorizado. Alas, IA ja bateu nos escritorios de arquitetura la fora.

  3. Medicina, Medicina Veterinária, Psicologia, Direito e Odontologia. Medicina tem emprego. Da uma condição razoavel de vida, mas com muito trabalho. Pessoal observa os doutores em fim de carreira com padrão de vida bem melhor e acham que chegarao la uma semana depois de formados. Veterinaria está com o mercado de trabalho saturado, o que salva são as PET Shops. Direito é majoritariamente para concurseiros. Odonto não é sombra do que ja foi, tem gente que vai quebrar a cara.

  4. Falando em martelo e prego, na epoca do SISU também faltavam alunos(as). Voltar ao que era antes seria mais uma imbecilidade ideologica. Perderia-se ainda a possibilidade da UFSM influir no que é ensinado no ensino medio onde é possivel.

  5. Existem cotas, não aparecem candidatos e a resposta é ‘racismo’? Para quem tem só um martelo na mão todo problema é prego.

  6. Segundo, volta do vestibular e do PSS não aumentaria procura por cursos de nivel superior. E um fenomeno mundial. Alas, materia ZH dia 9/11/2023. ‘UFRGS tem 21 cursos com mais vagas do que inscritos; situação pode estar associada às mudanças no mercado de trabalho.’ Menciona tendencia apontada no Censo da Eduação 2022. UFRGS, alas, nunca aderiu 100% ao SISU.

    1. Nota do Editor: o correto é Fritz Nunes/Sedufsm. E acaba de ser corrigido, graças ao comentarista.

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