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OPINIÃO. O júri simulado do Colégio Centenário e a “absolvição” de Adolf Hitler. Uma polêmica e tanto

O editor reproduz, abaixo, artigo enviado por Bruno Wolf Bernardi, estudante de Direito do Centro Universitário Franciscano/Unifra. Confira:

A polêmica do júri simulado

Há pouco tempo um fato local se repercutiu em meios de comunicação impressos e redes sociais. Trata-se de um júri simulado desenvolvido há mais de 20 anos no Colégio Centenário, o qual coloca no banco dos réus personalidades históricas. Este ano, a turma que desenvolveu a atividade, teve como tarefa, tanto defesa como acusação, estudar a história de Adolf Hitler; que foi absolvido em decorrência da magnífica oratória e argumentos da defesa.

A absolvição em questão gerou uma certa indignação por parte de colunistas de meios impressos e opiniões de algumas massas que defendem, que com a absolvição de Führer, o objetivo do trabalho teria sido equivocado e não alcançado. Isto posto, de forma injusta, tanto com a educadora que desenvolveu o trabalho, como para com os alunos que participaram.

Como ex-estudante da instituição de ensino aqui citada, me sinto na obrigação de esclarecer a injusta polêmica criada, pelo fato de já ter participado da atividade em questão. Primeiro, o objetivo do trabalho é instigar o aluno a desmembrar a história de vida do personagem réu e desenvolver a oratória e hermenêutica para lograr êxito através de uma absolvição ou condenação. Como um tribunal do júri em vida real. Segundo, se tal personalidade histórica foi absolvida no júri, é sinal de a defesa teve competência inquestionável perante o conselho de sentença ali posto; e foi mais convincente.

O trabalho não tem a intenção de dar a verdade aos alunos a partir do resultado do júri. Essa opinião é pessoal e gerada durante a pesquisa. Faz o indivíduo, seja ele da promotoria ou defensoria, vivenciar a vida de pessoas que trabalham nas esferas jurídicas reais; que muitas vezes tem que defender quem não querem, e também acusar.

Por fim, um trabalho como esse leva muitos alunos perdidos a escolher a profissão durante a execução do mesmo, como no meu caso. Graças a essa atividade, decidi cursar Direito, o que me permitiu atualmente a ser aprendiz em um dos escritórios de advocacia mais renomados do país. Sou eternamente grato à educadora que teve a iniciativa de me inserir na tarefa e á instituição de ensino.

Na minha época, tive que acusar Che Guevara. Não obtive sucesso, mas ganhei minha aspiração para o futuro e minha profissão. Por isso, digo que o verdadeiro espírito jurídico começa quando se deparamos com situações como essa, que nos obriga a ouvir injustiças. Mas que também nos leva a defender e lutar pelo justo.

Por Bruno Wolf Bernardi (Bacharelando em Direito pelo Centro Universitário Franciscano)

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13 Comentários

  1. Apenas queria pedir desculpas.
    Não foi minha intenção ofender ou sei lá.
    Desconsidere meu comentário anterior.
    A riqueza está na diferença de opiniões.

    À propósito, qndo em época de colégio, minha profe de Português nos exigia como avaliação, que escrevêssemos e interpretássemos teatrinhos; além de que lêssemos ao menos um livro por trimestre.
    Hoje meu maior orgulho é minha prateleira cheia de livros e meu gosto por escrever.
    Tudo tem seu valor e todos somos constituídos por multiplicidades que envolvem todos os saberes.

    Sucesso a todos.

  2. Minha cara “Isi”, como autor do artigo principal e comentário o qual citou, me sinto na obrigação de novamente ser claro com relação a situação, pois acho que não está atenta ás opiniões adversas nos demais meios de comunicação.
    Sejamos humildes, a ponto de falar apenas sobre o que temos conhecimento.

  3. “Não vamos confundir encenação com realidade, a história não se apaga de fato e os alunos sabem disso”

    E eu pergunto: encenação?
    A professora foi super bacana e respeitável ao propor a atividade e acho que o mérito maior dela é a interação entre Direito, História e tantas outras áreas que se somam, como a psicologia e lógica da Filosofia. A atividade proposta justamente tem o maravilhoso papel de aprendizado e crescimento e não simula algo fora de contexto, fora da realidade social, ao contrário, ela recria as realidades de cada aluno ali inserido, ou das memórias dos anos Hitlerianos.

    O resultado prova de que nossa sociedade é incapaz de exercer a alteridade.
    Sugiro a leitura de “Os afogados e sobreviventes”, livro de Primo Levi, químico italiano que sobreviveu ao Holocausto. Quem sabe depois dessa leitura os estudantes percebam que devem cuidar os “Argumentum ad populum” ou “Envenenando o poço”, ou tantos outros argumentos falaciosos.

    O mérito da professora ao propor a atividade é total, o problema está nas máculas de nossa sociedade que se refletem em tudo.

  4. Comungo do teu pensamento, Bruno. Muito bom o texto. O pior cego é aquele que não quer enxergar. Ao meu ver, as coisas estão suficientemente claras. Também fui aluno da professora Jaqueline, e no júri de que participei, defendi Getúlio Vargas. Hoje, estou formado em direito e sou advogado, mas além da paixão pelas ciências jurídicas, sempre fui apaixonado por história, e a Jaque sempre contribuiu positivamente na minha formação. A sua maior qualidade é que ela não impõe nada aos alunos, e sim, os faz pensar por si mesmos, refletir criticamente, e acima de tudo, honestamente, o oposto da maneira como muitos têm se portado perante o assunto. Fica aqui o meu apoio à prof.ª Jaqueline, e o meu repúdio aos que fazem uso da liberdade para falar de algo que não têm conhecimento.

  5. Se a absolvição de tal personagem histórico gerou uma grande discussão em sociedade, então o trabalho cumpriu o seu papel, ainda de que maneira subjetiva. Não vamos confundir encenação com realidade, a história não se apaga de fato e os alunos sabem disso;

  6. Entendi perfeitamente o que o autor quis esclarecer em seu artigo. O trabalho não tem a intenção de fazer apologia á nada, mas apenas fazer o aluno conhecer a história de como diz o autor, “do personagem réu”. Se o réu fosse Ernesto Guevara de La Sierna, certamente estes indignados iriam absolvê-lo. Parabéns pelo artigo, e não se preocupe… Pois o ser humano muitas vezes não entende a verdade mais simples e a melhor das intenções.

  7. O que aconteceria se, durante o juri, alguem levantasse a mão e saudasse Heil Hittler?
    O tempo apaga tudo, esquece e começam a elogiar o tirano.
    Lamentável resgatar esta figura. Antropólogos deveriam estudar esta iniciativa. Este resultado.

  8. Pois, Seo Claudemir, um dos mais belos, senão o mais belo discurso – Apologia, quarto século antes da era comum, sublinha a constatação que tem impulsionado os Filósofos, desde então – ‘que o conhecimento humano é absurdamente limitado’… Talvez isso explique o Fuehrer ser absolvido…

  9. Parabéns Bruno, excelente artigo, evidencia o mérito da atividade e criatividade da professora.

    Só acho – em minha humilde ignorância sobre assuntos jurídicos – que a absolvição de Hitler, neste caso, pesou no sentido de reiterar a problemática própria da oratória no sentido de convencer que personagem tão abominável pode ser absolvido. Problema do Direito, que não é de agora e que sempre existirá. Sou estudante de História e estudiosa do Holocausto. Sei as inomináveis e ignóbeis ações propiciadas nos 15 anos Hitlerianos. Completamente condenáveis. Isso só evidencia que muitas vezes argumentos falaciosos convencem mesmo quando há absoluta incoerência.

    No mais, parabenizo seu artigo.
    Escreves muito bem.

  10. Belo texto explicativo e argumentativo. Esclareceu dúvidas e mostrou a importância e verdadeira intenção de trabalhos como esse. Continue escrevendo Bruno, que o mundo sempre terá um lugar pra você. E parabéns ao site também.

  11. Querido aluno,
    As tuas palavras são a certeza que tudo vale a pena. O orgulho em ver que os meus alunos foram em busca do seu futuro, certos das suas escolhas, compensa as pedras do caminho.
    Grata pela manifestação de apoio e pelo teu carinho
    Um grande abraço.
    Prof. Jaque

  12. Parabéns pelo excelente texto Bruno, opinião bem fundamentada daquele que sabe, pela sua própria expêriencia, a importância das escolas realizarem juris simulados e o verdadeiro objetivo destes. Abração.

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