Responsabilidade e respeito – por Luiz Alberto Cassol
Desde a fatídica madrugada de 27 de janeiro de 2013, fomos tomados por vários sentimentos. Perplexidade, dor, tristeza, mágoa, indignação e tantos outros.
Confesso que não sei direito expressar muito do que sinto. Tentar transformar em palavras foi a melhor forma nesse momento. Escrever esse texto é mais uma vez, um desabafo. Frases e impressões tomadas pelo sentimento do que percebo. Quero falar um pouco da cidade, do que aconteceu e de fatos. Aliás, quem sabe, tentar uma reflexão sobre muito do que está acontecendo.
Nesse período inominável, desde a terrível madrugada de 27 de janeiro, encontramos situações que causam perplexidade, para dizer o mínimo.
Por exemplo, vimos nas redes sociais pessoas se mobilizarem em uma cidade de outro estado, onde se falava em uma festa em homenagem as vítimas e também uma espécie de concurso para a criação de um memorial. Tudo o que li e vi estava equivocado. Por mais que as pessoas tivessem algum tipo de boa intenção é preciso um mínimo de senso. Não se pode ter como motivo o que aconteceu para simplesmente promover algo sem refletir sobre. Em primeiro lugar é preciso entender de que forma isso afetará as famílias, os amigos, os sobreviventes. Pelo que sei, as inúmeras postagens nas redes sociais contra a iniciativa fizeram com que não acontecesse.
Vejam, nós santa-marienses de nascença ou de opção – sempre de coração – ainda estamos meio perdidos. Estamos tentando dia a dia encontrar rumos. Sempre estaremos com esta tragédia em nossa história. Não negamos. Pelo contrário: estar em nossa trajetória passa a ser a única forma de homenagear quem partiu, elaborar nosso luto, buscar a apuração dos fatos através da justiça e que nefasto episódio nunca mais se repita.
Defendi e continuo defendendo que temos que pensar nas famílias que perderam seus filhos. Pais enterrarem filhos é contra a natureza. É estupidamente covarde para a linha natural da vida. Então, qualquer palavra, ação ou manifesto deve levar em conta, sempre, o que essas famílias estão passando. Pensar nelas é a principal atitude a ser tomada desde aquela madrugada.
Por isso a criação da Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia em Santa Maria é uma atitude que merece todo o nosso apoio.
Homenagens e outras ações são necessárias. Mas reflita sobre tudo o que aconteceu antes de tomar qualquer iniciativa. Só assim o verdadeiro respeito e intenção serão entendidos e bem vindos.
Aqui, faço um pedido. Antes de se formular qualquer memorial lembrem das famílias. Tudo tem seu tempo. Usar o fato – seja qual for a intenção – para promover homenagens deve sempre passar por elas. Agora, com a Associação criada o diálogo com a mesma é a prerrogativa mais justa.
Ao encontro disso é meritoso o anúncio do Ministro Alexandre Padilha, sobre o início da terceira etapa da ação de atendimento aos familiares, amigos, sobreviventes e envolvidos na tragédia. O atendimento clínico e psicossocial será fundamental nos próximos anos.
Ter responsabilidade e consciência nos atos é básico neste momento. Omitir-se na reflexão e no que deve ser feito em respeito às famílias e à cidade, não pode estar entre esses atos.
Nesse caso cito o trabalho da polícia, que pelo que acompanho pela imprensa, tem sido notável na busca do real entendimento do fato. E mais: sempre com muito respeito às famílias.
Santa Maria irá recomeçar passo a passo. De forma solidária tentaremos suportar nossa irreparável perda e dia a dia teremos a tarefa de ir adiante, sem nunca esquecer o que aconteceu.
Aliás, muitos deveriam pensar assim e não se omitir nessa hora. Parece inacreditável que todos não tenham um único objetivo: elucidar os fatos, com dignidade e consideração ao que aconteceu e a cidade.
Encerro dizendo que me orgulho de ser santa-mariense. Uma cidade com quase 300 mil habitantes (cidade média por isso), com inúmeras opções (cosmopolita, então) – e cidade hospitaleira e sempre de braços abertos (daí um pouco do jeito de cidade pequena). Santa Maria, muitos sabem, é assim. Por isso nossa paixão.
Reforço ainda que a cidade em função de sua história tem alguns codinomes que nos orgulham muito: Cidade Cultura, Cidade Coração do Rio Grande e Cidade Universitária. Esses nomes fazem parte de nossa identificação.
Aos poucos essas designações começam a ser relembradas. E com elas já está incorporado a cidade que viveu sua maior tragédia e que foi solidária na dor entre os seus. Que recebeu apoio de voluntários de todo o Brasil e também do exterior.
Agora é fundamental ratificar e retomar o exemplo que esta é uma cidade que age com responsabilidade e respeito. Ética, coragem e justiça sempre!
Tá com tudo, Beto… Certíssimo….