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Cem – por Bianca Zasso

foto bianca zassoHoje deveria ter bolo, negrinho e cajuzinho. Alguns salgadinhos, quem sabe. Isso porque esta humilde colunista que vos escreve publica hoje o seu centésimo texto neste site. Ou neste sítio, como o dono dele gosta de falar. Não tive como recusar o convite do Claudemir para escrever sobre cinema todas as semanas. Mais que uma proposta, foi uma tentação. E para comemorar este número tão especial, escolhi um filme que tem muitas vozes.

O diretor italiano Paolo Sorrentino, que não filmava desde 2011, voltou as telas no ano passado com A grande beleza, produção que está em cartaz em Santa Maria e que é impactante desde o seu material de divulgação. Um homem elegantemente vestido está sentado próximo a uma escultura enorme, bem ao estilo da arte romana. À primeira vista, é um filme sobre arte. E é. Mas não apenas da arte presente nos museus. A arte de viver é o centro das atenções.

O protagonista, Jep Gambardella, é um escritor de um romance só que ganha a vida escrevendo para um jornal em Roma. Apesar de se passar nos dias atuais, A grande beleza traz em sua trama um aroma conhecido dos cinéfilos. A Itália dos anos 60, com seus ricaços na faixa dos trinta anos perambulando de festa em festa madrugada adentro, procurando um sentido para seus dias presente em A doce vida, de Federico Fellini, ou de A noite, de Michelangelo Antonioni estão presentes de maneira atualizada nesta obra de Sorrentino.

Já na casa dos 60, eles continuam com a rotina louca dos tempos de juventude, mas as dúvidas se acentuaram. Qual a graça de dançar a noite toda? Dormir cada dia com uma mulher diferente é realmente tão excitante? Estas são algumas perguntas que Gambardella se faz ao longo das mais de duas horas do filme.

O efêmero se faz presente ora sedutor, ora inquietante. O escritor que vive demais e escreve de menos quer encontrar a grande beleza para conseguir inspiração para uma nova obra. Mas o que é belo ao extremo? Quadros? Fotos? Emoções? Lembranças? Gambardella lembra Marcello Mastroianni na maneira de vestir, mas as rugas em seu rosto mostram que o fôlego não é mais o mesmo.

A Roma pela qual ele caminha, sempre ostentando seu cigarro, não é a mostrada nas agências de turismo. É rude, um tanto amargurada, com uma beleza única, dessas que a gente encontra nas casas em ruínas. Se despedaça, é cheia de histórias e emociona. Não há romantismo, apenas desejo. Desenfreado, diga-se de passagem, ao ponto de não causar fortes resultados.

Quem não gosta de arte raramente vai entender A grande beleza no seu todo, isto porque, além das referências citadas pelos personagens nos ótimos diálogos do longa, as esculturas e cores presentes no cenários são cheias de significados. Nosso personagem só encontra algum sentido em seus dias vazios quando há arte por perto, amenizando um pouco a frivolidade da burguesia que o cerca.

A tal grande beleza buscada por Gambardella é, ao meu ver, a catarse que salva nossa humilde existência. Pobre do mortal que não tem um quadro preferido, ou uma cena inesquecível ou uma canção emocionante em sua vida. A grande beleza entra para a galeria de produções que nos salvam da vida real nos fazendo pensar nela, trazendo à tona nossas angústias em forma de entretenimento. Assisti-la nos deixa zonzos, como toda obra-prima. Mas quem se importa com um tonturinha quando se está diante de algo tão lindo?

A grande beleza (A grande belezza)

Ano: 2013

Direção: Paolo Sorrentino

Em cartaz nos cinemas

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