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Maria do Carmo de Mello Rego (1839-1909) – por Elen Biguelini

Memorialista, antropóloga, arqueóloga. E uma aventureira uruguaio-gaúcha!

Esta memorialista uruguaia casou-se com um brasileiro e viveu a maior parte de sua vida no Brasil.

Maria Ester de Siqueira Rosin Sartori, em sua tese de doutorado, afirma que a autora teria nascido em 1840 em Estância do Lencho, no Uruguai. Seu registro de óbito afirma que teria sido em 1839, mas não apresenta nem data, nem nome de seus pais.

Podemos afirmar, no entanto, que teria sido no dia 15 de julho, devido a uma homenagem a autora, encontrada no periódico “Correio da Manhã” de 15 de julho de 1905, (pg 4) teria se casado em primeiras núpcias com Manuel Amaro Barbosa de Alencastro, que faleceu. Ela se casou novamente em 18 de outubro de 1860 com Francisco Raphael de Mello Rego (1823-1904) no Rio Grande do Sul, na localidade de Jaguarão, que faz fronteira com seu país natal. Conheceu o marido quando ele comandou o exercito brasileiro durante a guerra do Paraguay.

Segundo a historiadora Sartori, “[o] casamento de Maria do Carmo com o general Francisco Raphael está imbricado com essa rede de relacionamentos que se consolidavam nas fronteiras, já que o general Francisco Raphael, pertencia à elite de fazendeiros e militares no Rio Grande do Sul.” (2018, 39).

Seu marido tinha funções políticas, o que levou o casal primeiramente ao Rio de Janeiro, depois a Cuiabá, no Mato Grosso (onde o marido foi presidente da província).

Adotou um filho, junto ao segundo marido, um menino indígena chamado “Piududo” (Beija-flor), que tomou o nome cristão de Guido. Segundo Sartori, no entanto, esta adoção “figurava mais como uma das formas de aliança entre os colonos e os indígenas” (2018, 42). Infelizmente, poucos anos após o retorno para o Rio de Janeiro, o pequeno Guido adoeceu e veio a falecer, em 1892.

Foi no Mato Grosso que a autora pode exercer sua veia aventureira, tendo entrado em contato com grupos indígenas, caçado uma onça, e participado das expedições do naturalista  Karl Von Den Steineh, além de ter sido a primeira mulher aceita no Academia Mato Grossense de Letras.

Após a estadia no Mato Grosso, retornou ao Rio de Janeiro, onde veio a falecer na rua Figueira de Mello, número 3, em decorrência de um câncer no fígado, aos 70 anos, no dia 27 de outubro de 1909. Teria falecido viúva, e deixado uma filha maior de idade (segundo o registro de óbito de seu marido, esta seria adotiva). Em seu registro de óbito está descrita como natural do Rio Grande do Sul. Seu falecimento também é noticiado pelo periódico “Correio de Manha”, de 28 de outubro de 1909, (pg 3).

A filha mencionada em ambos os registro de óbito é Manuela Amaro Barbosa Lage, sua afilhada, e sobrinha do primeiro casamento, que foi casada com Gustavo Martins Lage (Cf.  “Correio da Manhã” de 3 de novembro de 1909, pg 7 e “Jornal do Brasil” de 1 de novembro de 1909, pg 15 e 3 de novembro de 1909, pg 10).

Notamos que a obra da autora demonstra que não foi apenas memorialista, mas também antropóloga e arqueóloga, participando, colaborando, incentivando e promovendo pesquisas naturalistas.

Obra

“Rosa, a Bororo (Episódios Verdadeiros)”. Na “Revista Brasileira”, 1895. Também teria aparecido no Correio da Manhã.

“Rio Paraguay – Villa Maria”

“Guido”, Rio de Janeiro, Typ. Leuzinger, 1895. Com Prefácio do Visconde de Taunay. 1.

“Lembranças do Mato Grosso”, Rio de Janeiro, Typ Leuzinger, 1897. Dedicado ao Visconde de Taunay.

“Artefactos indígenas do Mato Grosso”, na Revista Archivos do Museu Nacional do Rio de Janeiro, 1899.

O Instituto Histórico e Geográfico do Mato Grosso tem diversas publicações avulsas da autora, aos quais não tivemos acesso.

Fontes:

Registro de óbito: “Brasil, Rio de Janeiro, Registro Civil, 1829-2012”, , FamilySearch (https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:79DY-YKT2: Sun Mar 10 08:05:34 UTC 2024), Entry for Maria do Carmo Mello Rego.

Registro de óbito de seu marido: “Brasil, Rio de Janeiro, Registro Civil, 1829-2012”, , FamilySearch (https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:79DR-JY3Z: Sun Mar 10 19:20:59 UTC 2024), Entry for General Dontor Francisco Raphael de Mello Rego and Joaquim Baptista de Mello Rego.

Referências

Lopes de Oliveira, Américo. “Escritoras brasileiras, galegas e portuguesas”. s.l. Tipografia Silva Pereira, 1983, 162.

Nadaf, Yasmin Jamil. “A escrita de Maria do Carmo de Mello Rego, no século XIX”. In. “Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso”. V. 1. N 55, 1997. Acesso via: https://revistaihgmt.com.br/index.php/revistaihgmt/article/view/678

Junior, Araripe. “Guido. Paginas de Dor”. “Diário de Noticias” de 13 de abril de 1895, pg 1.

Sartori, Maria Ester de Siqueira Rosin. “Maria do Carmo de Mello Rego: diário de uma mulher viajante do século XIX, a memória perpetuada na palavra escrita”. Tese (Doutorado em História) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2018. Acesso via: https://repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/1059160

(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

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