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Paixões que cegam – por Liliana de Oliveira

O Brasil parece estar rachado ao meio e toda e qualquer tentativa de ultrapassar sua dicotomia parece estar fadada ao fracasso. Estou colocada num país onde sou coxinha ou PeTralha. Qualquer tentativa de problematizar o contexto atual para além dessas duas categorias me joga no limbo. No limbo daqueles que se comprometem com a crítica por uma questão de honestidade intelectual.

De um lado vemos pensamentos ingênuos acreditando que tudo está bem e que toda e qualquer notícia sobre indicadores econômicos, falta de investimento nas universidades e institutos federais, indicação de ministros que nada têm a ver com seus ministérios, alianças com partidos que comprometem a possibilidade de um governo sério, entre outras coisas, se trata de um projeto da mídia golpista e da classe média. Evidentemente que temos uma mídia que fabrica notícias e faz de pequenos feitos grandes e dos grandes feitos, pequenos. De qualquer modo, não podemos nos isentar de fazer a crítica a tudo aquilo que inviabiliza um projeto coletivo.

De outro lado, vemos também pensamentos ingênuos acreditando que o governo atual é mais corrupto do que os anteriores e que se destituirmos a presidente teremos um país sério. Alguns são tão ingênuos que acreditam que o governo atual assume uma perspectiva socialista e tomam as medidas de inclusão social como meramente assistencialistas. Esquecem que por meio das bolsas, o governo inclui os não incluídos na lógica do mercado e faz dos destituídos, consumidores. Alguns repassam informações falsas, gerando uma sensação de insegurança e instabilidade na população. Uma espécie de inconformidade com o resultado das urnas. Uma espécie de desconsideração pelo voto e pela democracia.

O que mais tem me impressionado nisso tudo é que dos dois lados vejo pessoas cultas, inteligentes, com boa formação que perderam a capacidade de pensar. Fico pensando: por que uma pessoa esclarecida repassa informações claramente falsas? Acreditou realmente no que leu ou ouviu ou menospreza a inteligência alheia? Por que pessoas inteligentes compartilham vídeo do Bolsonaro e na postagem seguinte falam da importância do amor, da prece e de construir um país melhor? Não teriam elas se dado conta da contradição?

Isso tudo tem me feito pensar que talvez estejamos cometendo o equívoco de pensar com nossas vísceras. Nossas paixões nos cegam. Nossas paixões nos fazem parciais. Colocamo-nos sempre no lugar da defesa daquilo que amamos e acreditamos, mesmo quando não temos razões para isso. Dar voz à nossa desrazão e às nossas paixões pode nos colocar num lugar muito perigoso. Rogo para que possamos sempre sentir e pensar de tal modo que nossas paixões em vez de nos cegarem, possam nos unir em torno de um projeto coletivo humano maior do que nossos interesses pessoais.

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