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Tempo de crescer – por Bianca Zasso

biancaA infância já teve muitas versões para o cinema. Desde a cinefilia como forma de descoberta do mundo em Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore até o nascimento da paixão no clássico da Sessão da Tarde Meu primeiro amor. Todas, por mais tristes que pareçam, mostram essa fase da vida de uma forma iluminada, já que há um futuro a ser descoberto pelos protagonistas.

Mas basta embarcarmos para o outro lado do mundo que as coisas ganham cores bem menos vivas. O cinema iraniano, em especial, presenteou o público com obras que mostram como é ser criança num país com costumes bem diferentes do nosso. Filhos do paraíso, de Majid Majidi e O balão branco, de Jafar Panahi são dois belos exemplos. Não ir às lágrimas diante dessas produções é uma tarefa impossível. Porém, guarde alguns lenços para Tempo de embebedar cavalos.

Dirigido por Bahman Ghobadi (o mesmo do lindíssimo Tartarugas podem voar), o filme mostra o cotidiano de cinco irmãos numa aldeia iraniana que faz divisa com o Iraque. Após perderem os pais, as responsabilidades da casa passam a ser de Ayoub, um garoto que aparenta ter no máxima 15 anos. Ao lado da irmã Ameneh, ele trabalha em um bazar embalando produtos, enquanto a mais velha da família, Rojin, cuida dos menores, o que inclui o garoto Madi, que sofre de uma grave doença.

Tempo de embebedar cavalos é um filme com cinco crianças que agem como adultos em circunstância de tragédias causadas pelas minas que infestam o território onde vivem. Sem um adulto por perto, eles precisam assumir uma casa e criar hábitos de gente grande: trabalhar, cozinhar, cuidar de crianças com quase a mesma idade que eles. Parece uma carga pesada, mas as coisas pioram. Com a saúde de Madi cada vez mais frágil, o trabalho de Ayoub não é suficiente para garantir a tranquilidade de seus irmãos.

Aí surge o verdadeiro desafio. O garoto encara montanhas cobertas de neve carregando cargas imensas, acompanhado de uma mula que, para suportar o frio, precisa ingerir bebida alcóolica. Tal e qual um pai, Ayoub tem como prioridade o sustento da casa, deixando em segundo plano suas vontades e sonhos.

Mesmo que o protagonista ganhe nosso coração, o grande destaque do filme é Ameneh, uma garotinha de nove anos que, mesmo com todas as dificuldades, é uma das melhores alunas de sua classe. Sua felicidade ao receber um caderno novo é daquelas cenas para lembrar pelo resto de nossas vidas. As pequenas alegrias de Tempo de embebedar cavalos são trazidas por ela, que trata com um carinho maternal o irmão Madi, tentando acalmá-lo durante as torturantes injeções que o menino precisa tomar. Um sentimento típico de uma mulher adulta transborda em uma menina que teria todas as desculpas para ser amarga, mas que opta por carregar no rosto um sorriso dúbio, onde há solidão, medo e amor. É tempo de ser criança, mesmo que não da maneira mais doce.

Tempo de embebedar cavalos é uma boa escolha para quem quer iniciar os trabalhos com o cinema iraniano. Não se surpreenda com as cenas longas e silenciosas. É um outro ritmo, que permite pensar bem mais do que os cortes frenéticos aos quais estamos acostumados no cinema ocidental. Aproveite. É tempo de se emocionar.

Tempo de embebedar cavalos (Zamani baraye masti asbha)

Direção: Bahman Ghobadi

Ano: 2000

Disponível em DVD

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