Professores trabalhadores da educação? – por Jorge Luiz da Cunha
Recentemente em um seminário de formação docente para professores da Educação Básica, de escolas públicas e privadas, realizado em uma das regiões geoeducacionais do Rio Grande do Sul, após realizar a conferência de abertura, fui questionado por uma professora, que introduziu seu questionamento da seguinte forma:
– “(…) nós trabalhadoras e trabalhadores da educação precisamos doutrinar, através dos conteúdos de nossas disciplinas, nossos alunos para que amadureçam a consciência e possam nos ajudar a fazer a revolução socialista e acabar com o imperialismo do capital (…)”.
Agradeci. Comecei dizendo que me era muito desconfortável usar a expressão “trabalhadores da educação” para falar de uma atividade profissional que é bem mais antiga que o capitalismo que caracteriza a modernidade desde o século 15.
Fundamentei minha explicação com base no Dicionário do Pensamento Marxista de Tom Bottomore (publicado em Português pela Editora Zahar). No verbete sobre trabalho produtivo e improdutivo: – “A distinção entre trabalho produtivo e improdutivo tornou-se, recentemente, muito importante para a economia política marxista. O número crescente de funcionários do Estado não empregados na produção de mercadorias criou o problema analítico de explicar seu papel e sua significação. Ao mesmo tempo, a atenção se voltou para a posição de classe desses trabalhadores – até que ponto são eles parte da classe operária ou são, pelo menos, aliados dignos de confiança dessa classe?”
No meu entendimento a expressão “trabalhador da educação” somente é adequada para falar de um trabalho educativo alienado e alienante, onde professores podem ser comparados a operários numa linha de montagem. Nossas escolas seriam, portanto, fábricas de produção de sujeitos preconcebidos, resultados de uma linha de montagem de sujeitos cuja humanidade é alienada pelo exercício profissional de professores igualmente alienados.
Entendo que o que professores fazem, quando entendem sua função social de educar, nunca é doutrinar. Doutrinação é prática religiosa sempre! Mesmo quando identifica a ação de bem intencionados militantes políticos. É pregação de uma verdade pre-estabelecida e que deve resultar em reprodução dessa verdade e em ação preconcebida. Portanto, é uma prática autoritária quando a relacionamos com ensino e educação.
A verdadeira educação fundamenta-se no conhecimento e não na reprodução de informações, que nos processos educativos servem apenas como matéria prima. Consciência só pode ser produzida por sujeitos que construíram sua autonomia individual a partir da capacidade crítica de produzir conhecimento. Essas mulheres e esses homens no uso de sua consciência e de sua liberdade podem se organizar e ajudar a transformar a realidade. Essa seria a verdadeira revolução!
O resto é resto! E não encontra fundamento nem em Karl Marx.
No auge do movimento sindical, começamos a nos autodenominar como "trabalhadores na educação". Sendo o ato educativo criação pura e não reprodução ou doutrinação, o exercício do magistériojamais será alienado, nem alienante. Um abraço professor Jorge Luiz da Cunha!
Infelizmente a professora do "causo" não é a única. Não interessa se são bem intencionados militantes políticos, usam a atividade que é, mesmo nas instituições privadas, de interesse público para promover interesses particulares. E as boas intenções param na página 2, muitos acham que são moralmente superiores e almejam um lugar de destaque na "nova ordem".
Muito Paulo Freire (e Gramsci de reboque) dá nisto.
Não é o Estado Islâmico, mas é o Estado Sócio-Messiânico. Que já tem seus "refugiados". Não só por causa das professoras doutrinadoras, mas pelos efeitos da doutrina de cartilha (soluções prontas para problemas mal compreendidos e mal diagnosticados) no país. Logo depois da crise (2009 e seguintes), na época da marolinha, profissionais (que estariam em falta por aqui segundo a propaganda oficial) começaram a sair do país. UK, Dinamarca, França, Suiça, países "em crise". Não precisa procurar muito, gente formada na UFSM também foi. Mão de obra qualificada não sofre xenofobia.
Outro aspecto é a linha de montagem Fordiana. Alguns profissionais do Direito debatiam a formação do cidadão outro dia na tv. Falta ensinar antropologia nas escolas, humanismo, segundo eles. Ditadura acabou com o ensino de filosofia no início da década de 70 e deu no que deu (ainda eles). Lenda urbana, tive aula de filosofia em 83 ou 84. Filosofia já era disciplina complementar desde 61 e virou facultativa depois. Total zero, os "juristas" pregavam que a escola seria uma linha de montagem de cidadãos. Interessante é que, aparentemente, quanto mais parecido com o curso de Direito o currículo das escolas, melhor a cidadania. Gente engraçada, queria ver a cara deles quando descobrissem que Foucault era crítico do humanismo. E que a doutrina de esquerda abriga o anti-iluminismo. Em ambos os casos, filosofia também.