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Solidariedade seletiva – por Liliana de Oliveira

Na semana passada a imagem de um menino sírio morto na beira da praia comoveu o mundo. Muitos textos, mensagens, charges e muitos compartilhamentos nas redes sociais. A imagem do menino morto comoveu-nos muito mais do que os navios negreiros, do que os cinquenta imigrantes mortos dentro de caminhões, do que a imagem da mãe agarrada ao seu filho que se atirou nos trilhos de trem, do que a imagem de um dos campos de refugiados em que as pessoas aparecem sendo tratadas de modo desumano.

Talvez pudéssemos fazer um exercício de pensamento para tentar compreender porque a imagem de um menino nos comove tanto e outras imagens ainda mais chocantes não corram o mundo da mesma forma. De qualquer modo, olhamos para a Europa com indignação, pois nos solidarizamos com os imigrantes africanos e muçulmanos que apenas querem um lugar para reconstruir suas vidas. Certamente se fossem brancos, o mundo estaria estarrecido. (Talvez essa seja uma pista para compreender porque a imagem do menino sírio tenha gerado mais comoção do que muitos e muitos africanos abarrotados em embarcações).

Solidarizamo-nos com os imigrantes longínquos, mas como tratamos os haitianos, bolivianos e senegaleses que vieram para o Brasil fugindo da miséria em seus países?

Meses atrás, na cidade de Ibirubá, interior do Rio Grande do Sul, o senegalês, Maodo Diop, 30 anos, teve a mão cortada com golpes de facão e foi atingido por disparos de arma de pressão que o acertoram na virilha e no calcanhar. Maodo, assim como seus amigos senegaleses, querem arrumar um trabalho e economizar dinheiro para enviar aos familiares no Senegal. Querem apenas sobreviver. Querem fugir da miséria do Senegal.

Sábado, na cidade de Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul, três homens colocaram fogo no colchão em que um imigrante senegalês dormia no centro da cidade. CheCheikh Oumar Foutyou Diba, de 25 anos, teve suas pernas queimadas e ainda teve os seus pertences levados pelos trio. Levaram as bijuterias vendidas por ele, seus tênis e seus demais pertences. Levaram tudo de CheCheikh Oumar Foutyou Diba.

São muitas as dificuldades encontradas pelos imigrantes quando chegam noutro país, mas a principal tem sido conviver com as manifestações explícitas de racismo praticadas contra eles.

Desconfio que nossa solidariedade seja seletiva. Solidarizamo-nos com os imigrantes que tentam entrar na Europa, mas somos racistas com aqueles que encontramos no nosso cotidiano. Solidarizamo-nos com os miseráveis, mas somos contra políticas afirmativas que possa gerar igualdade de oportunidades. Espero que um dia possamos de fato ser solidários e nos sentirmos comprometidos em ajudar aqueles que sofrem independente de raça, cor ou credo.

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